Miséria, mortes e caos social marcam 4 anos de desintrusão da Suiá Missu
RDNews
Quatro anos se passaram e nada mudou para os produtores despejados da antiga gleba Suiá Missu. A situação das 7 mil famílias é de quase extrema miséria com o registro de mais de 80 óbitos (suicídios, infartos etc) provocados pela medida judicial que transformou a área onde viviam na Terra Indígena Marãiwatsédé. A maioria ainda vive de favores e os poucos que conseguiram algo, enfrentam dificuldades para recomeçar a vida no campo.
A desocupação aconteceu entre os dias 10 de dezembro de 2012 a 27 de janeiro de 2013, num tumultuado processo que resultou em confronto de produtores rurais e as forças policiais requisitadas pela Justiça Federal para garantir a reocupação pelos índios da etnia Xavante. À época, as famílias tentaram resistir, contudo, foram obrigadas a deixar o local sob escolta da Força Nacional, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Embora a medida tenha sido cumprida quase que integralmente em dezembro e janeiro, a Polícia Federal ainda retornou outras vezes à Terra Indígena para o cumprimento de novas determinações judiciais, inclusive, com a prisão de líderes do movimento, entre eles, o presidente da Associação dos Produtores Rurais da Suiá Missu, Sebastião Ferreira do Prado.
Medida judicial
A disputa pelos 165 mil hectares da antiga gleba Suiá Missu começou na década de 40, quando a área, então ocupada por índios da etnia Xavante, foi loteada em dezenas de propriedades rurais e transformada em fazendas para a criação de gado e produção de grãos. Durante mais de 40 anos, a população não índia explorava a terra e acabou surpreendida em 1998 por uma decisão da Justiça Federal em demarcar a área para ser devolvida aos “antigos donos”.
A batalha judicial demandou anos e, finalmente, em 10 de dezembro de 2012, saiu a ordem de despejo para cumprimento imediato. Além de determinar a retirada dos produtores, a Justiça mandou destruir todas as edificações da área, incluindo, o distrito de Porto Estrela, conhecido como “Alô Brasil”. Tudo veio abaixo, inclusive, escolas e igrejas. O que restou foi apenas um amontoado de entulhos para que os índios reiniciassem a reconstrução das aldeias.
Caos social
Quatro anos depois da desocupação da gleba Suiá Missu, Alto Boa Vista, principal ponto de partida para as famílias que ocupavam a área, ainda sente os reflexos da decisão judicial. A cidade padece com os prejuízos causados pela medida e agora se divide em auxiliar produtores e índios.
“Criou-se um caos social. Agora não são apenas as famílias dos produtores que estão passando necessidade. Os índios também enfrentam dificuldades e, quando não recebem ajuda da prefeitura, se alimentam de mangas. Muitos já foram e aqueles que ficaram tentam sobreviver”, disse o prefeito de Alto Boa Vista, Leuzipe Domingues Gonçalves (PMDB).
Segundo o prefeito, se passaram quatro anos e o único movimento em favor dos produtores foi à implantação pelo Incra do Projeto Casulo, que hoje assiste 95 famílias com uma hectare de terras no perímetro urbano de Alto Boa Vista. “É pouco para quem tinha tudo, terras, gado, plantações e hoje vivem de favor na casa de parentes a espera de um milagre. Cometeram o maior caos social de Mato Grosso”, diz Leuzipe.