Em áudio, Paccola diz que atirou porque temia ser atingido
Uma perícia feita no celular do vereador Marcos Paccola (Republicanos) identificou diversas conversas – em áudio – em que ele detalha os momentos anteriores e posteriores à morte do agente socioeducativo Alexandre Miyagawa.
Alexandre morreu na noite do dia 1ª de julho atingido por disparos efetuados por Paccola, em frente a uma distribuidora de bebidas, no Bairro Quilombo, em Cuiabá.
Dias depois, Paccola teve mandato de busca e apreensão cumprido em sua residência, onde foram apreendidos dois celulares em seu nome.
A perícia foi anexada ao processo em que Paccola é réu por homicídio qualificado e que tramita na 12ª Vara Criminal de Cuiabá.
A perícia, conforme o documento, descreveu diversos áudios encaminhados por Paccola a amigos no dia do crime e nos dias posteriores. Um deles foi direcionado a uma mulher, em 2 de julho – um dia após o fato -, às 20h42.
O vereador contou que não viu Alexandre sacar a arma, e que o agente já estava com o objeto em mãos e de costas para o vereador, quando este grita: “Polícia, larga a arma”. Paccola revelou que o agente, ao invés de obedecer a ordem, fez menção de virar contra ele, movimento que fez Paccola acreditar que pudesse ser atingido por um disparo.
” […] Ele tava com a arma na mão de costas para mim, e com ela na frente, quando verbalizei Polícia largar a arma três quatro vezes, ao invés dele largar, ele foi girar, quando ele fez a menção de girar na minha direção, eu já atirei”, disse em trecho do áudio.
“Não tem lógica de esperar ele virar, se ele vira ele ia atirar em mim e acertar, não tem não teria essa possibilidade, e depois quando tiver o vídeo vai dar para ver assim. Na hora que eu saquei até que eu atirei são segundos, acho que uns 3 ou 5 segundos no máximo aí, muito rápido […] Não teve esse negócio dele fez menção de sacar, ele já tinha sacado a armada dele, tava mão, eu tenho absoluta, 1000% absoluta certeza!”, completou.
Veja fac-símile:
“Não usou para ameaça-la”
Minutos depois, às 21h13 do dia 2 de julho, Paccola revelou que chegou ao local por ver uma confusão, desceu da caminhonete e após observar por alguns segundos constatou que seria apenas uma “discussão de cachaça”.
Quando fez menção para ir embora, o vereador relatou aos amigos que ouviu gritos de pessoas falando: “Ele está armado”, “ele vai matar ela”. Por isso, na versão do vereador, o entendimento era de que ele iria matar a namorada.
“Aí eu fui na esquina, só aí que eu consegui olhar já vi ele, com a arma em punho, ela atrás dele, e ele indo para o outro lado. […] A impressão que eu tive, é um cara armado normalmente, o homem não usar arma para ameaçar mulher, então se ele sacou arma, o entendimento né como técnico era que ele tava levando ela… Ia matar ela, porque o homem não saca a arma para mulher normalmente né, para agredir ameaçar, por isso eu fiz a intervenção”, disse Paccola.
Cinco minutos depois, ele se defendeu aos amigos novamente dizendo que a namorada de Alexandre é quem falou para ele sacar a arma.
“Depois fui ver que na verdade ela mandou sacar, e na verdade o cara não tava indo para matar ou agredir ela, na minha cabeça, na imagem e no cenário […] a primeira coisa que imaginei que ele fosse matar ela, entendeu”, disse.
Veja fac-simile:
“Tudo encaminhado”
O documento ainda traz conversas mostrando que os amigos estariam preocupados com as condições de Paccola. O vereador demostra confiança e disse que é “muito tranquilo” e já “esta tudo encaminhado”.
“Acredito que está tudo encaminhado, nós tínhamos elencado 11 testemunhas né, tá tranquilo assim em relação ao fato, tem as câmeras lá também, que a Polícia Civil deve pegar, então quanto a isso daí sou muito tranquilo, não tem não tenho dúvida, com relação a resposta e a legítima defesa”, disse.
A ação
A Justiça de Mato Grosso já marcou para o dia 31 de outubro a primeira audiência no processo penal contra o vereador. Por conta do caso, Paccola, que é tenente-coronel da Polícia Militar, teve o porte de arma suspenso.
Ele ainda é alvo de um processo de cassação na Câmara Municipal por suposto quebra de decoro.
Na denúncia contra Paccola, o MPE enfatizou que os três disparos feitos pelo vereador “pelas costas da vítima que sequer notou a presença de seu agressor, de maneira que lhe foi impossibilitada qualquer chance de defesa”.
O órgão argumentou ainda que o vereador agiu por torpe motivação “no afã de projetar sua imagem como sendo de alguém que elimina a vida de supostos malfeitores e revela coragem e destemor no combate a supostos agressores de mulheres”.
O MPE destacou também que após o ocorrido, o vereador teria veiculado mídias sobre seu suposto “ato de heroísmo, além de discursar, no Parlamento Municipal, exaltando seu feito e desprestigiando a figura da vítima”.
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