Filha: “Era um ser humano de outro mundo, meu melhor amigo”

Ainda muito abalada com o assassinato do pai, a dentista Anna Clara Krause, de 21 anos, descreveu-o como “um ser humano de outro mundo”. O vereador Alfredo Krause (Podemos), de 58 anos, foi morto com um tiro de espingarda por reprovar um veículo durante uma vistoria, no Município de Vera.

 

“Meu pai não tinha defeitos, ele era 100% amor. Cuidava de mim e da minha mãe como se fossemos rainhas, levava o café na cama. Era um exemplo de bondade”, afirmou na última quinta-feira (6), dois dias após o crime.

 

Anna Clara conta que guarda apenas lembranças boas daquele que para ela, desde criança, sempre foi o seu melhor amigo. “Era sempre sorridente, não tinha maldade alguma. Nunca fez mal pra ninguém, nunca vi meu pai desejar o mal pra ninguém, ou até falar mal. Nunca”, disse.

 

Natural do Paraná, a família veio há quase duas décadas para Mato Grosso, diante de uma oportunidade de trabalho em uma lavoura. Na época Alfredo e a esposa Marciane Andreia Fontana já atuavam no ramo no Sul do País.

 

“Como a gente morava em sitio eu não tinha amigos, e era ele quem brincava de casinha comigo, brincava de tudo. Era o meu melhor amigo desde sempre”, disse.

Reproducação/ Facebook

Alfredo krause

Alfredo e Anna durante viagem em foto nas redes sociais

 

Anna Clara era filha a única do casal e, apesar de não ter parentes no Estado, a família era extremamente unida e mantinha uma relação muito próxima.

 

“Erámos em três, mas éramos uma família muito feliz. A gente chegava do trabalho, sentava e ficava conversando, contando como foi o dia”, relembrou.

 

Tendo somente uma à outra, mãe e filha ainda avaliam sua permanência na cidade. “É muito difícil. Tudo lembra ele, cada cômodo da casa. Absolutamente tudo”.

 

Últimas mensagens

 

Anna Clara conta que aquele dia começou como outro qualquer. Ela acordou e conversou um pouco com o pai, como era de costume.

 

“Eu estava com alguns problemas no trabalho, e ele perguntou como eu estava. Depois dei um beijo nele e saí”. Era a última vez que a jovem via o pai com vida.

 

Como havia dormido mal a noite passada, a jovem deixou o almoço preparado para o pai, como sempre fazia, e foi dormir. “Eu só ouvi ele chegando, rindo, não sei do que ele estava rindo”, relembrou.

 

Os dois trocaram mensagens durante a tarde, em tom de brincadeira com algum assunto da família. Horas depois, por meio de uma colega de trabalho, ela recebeu a notícia de que o pai havia sido baleado.

 

De início, a informação era a de que Alfredo estaria fora de perigo e ficaria bem. O caso, no entanto, era mais grave do que se pensava.

 

O laudo apontou como causa da morte hemorragia e trauma torácico. O vereador chegou a ser transferido ao Hospital Regional de Sorriso, mas não resistiu à lesão.

 

Perigo no trabalho

 

O homem que assassinou Alfredo com um tiro de espingarda veio do Município de Feliz Natal (a 56 quilômetros de Vera), especialmente para realizar a vistoria.

 

Revoltado depois de ter o veículo reprovado, ele retornou armado à unidade e atingiu o vereador.

Reproducação/ Instagram

Alfredo krause

Alfredo era apaixonado por animais e tinha dado início ao projeto de uma ong

 

“Meu pai sempre foi muito certo com essas questões da vistoria, e ele reprovou [o veículo]. O homem tentou fugir e o carro quebrou no meio do caminho”.

 

Segundo a jovem, a informação repassada à família, era de que o assassino tinha intenção de cometer uma chacina. “Pelo que a gente sabe, ele tentou matar todos os funcionários. O primeiro em quem ele atingiu foi o meu pai; aí os outros conseguiram se esconder”.

 

Apesar de o pai nunca ter mencionado ameaças de morte ou alguma situação extrema, Anna Clara diz que eram comuns as situações em que “os ânimos ficavam a flor da pele”.

 

“Por vezes as pessoas que não tinham condições e tinham que arrumar o carro ficavam nervosas. Mas ele entendia isso, era o trabalho dele”.

 

Desejo inconcluso

 

Além da família, uma das maiores paixões de Alfredo eram os animais. Envolvido na causa, ele começou a construir uma Associação de Proteção aos Animais, que seria a primeira do Município.

 

“Ele nunca ficava parado, estava sempre correndo atrás de um cachorro machucado, ou precisando de ração, ou uma pessoa que precisasse de cuidados. Ele era um ser humana incrível”.

 

Esse era o maior desejo de Alfredo, que apesar de não ter visto a obra concluída, foi uma semente importante para o projeto.

 

O legado de generosidade e humanidade deixado pelo parlamentar mexeu profundamente com a cidade, que agora está em luta com a tragédia.

 

“O clima é de luto, tanto que foi decretado luto oficial de três dias. Ontem [quarta-feira] no velório foi uma multidão, no enterro também, uma carreata enorme, foi muita gente que gostava dele”.

 

O atirador, preso pouco depois do crime, é réu primário e segue detido na delegacia de Vera. “Eles estão fazendo de tudo para que a lei seja cumprida”.

 

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