Abílio relata “lado podre” da política: “Eleitor pedia Pix e cerveja”

O ex-vereador e deputado federal eleito Abílio Brunini (PL), que foi o segundo mais votado na eleição deste ano com 87.072 votos, diz que não esperava este resultado nas urnas. 

 

Conforme o futuro parlamentar federal, a votação expressiva deve ser creditada, em boa medida, ao recall de sua candidatura a prefeito de Cuiabá em 2020. 

 

Abílio, no entanto, diz que, apesar da vitória, sentiu-se desanimado em alguns momentos da campanha. 

 

“Muita gente pedindo combustível, pedindo cesta básica, pedindo Pix, caixinha de cerveja. Foi uma campanha muito feia. Teve gente que até me pediu para pagar aluguel”, recordou.

 

Na entrevista que concedeu ao MidiaNews, o ex-vereador falou ainda de suas propostas, da bancada conservadora de Mato Grosso e de sua votação mais expressiva do que a do deputado federal Emanuelzinho (MDB).

  

MidiaNews – O senhor esperava ser o segundo mais votado? Como recebeu o resultado?

 

Abílio Brunini – Com muita surpresa. Eu não esperava tamanho reconhecimento. Fiquei muito grato mesmo a Cuiabá, a Várzea Grande, ao Estado de Mato Grosso inteiro pelo carinho que eles tiveram com a gente, principalmente porque a gente está há dois anos fora do mandato. Então, há um reconhecimento do nosso trabalho, mas eu fico muito grato mesmo às pessoas.

 

MidiaNews – Ao que o senhor credita essa votação? Acha que é reflexo da eleição municipal?

 

Abílio Brunini – Acho que ela ajudou muito. E também a questão da fiscalização. Porque o povo está procurando um novo tipo de parlamentar. Isso demonstra que as pessoas querem um político que não fique só em Brasília, só na Assembleia ou na Câmara Municipal. Querem um político que fiscalize, que vai à rua, que fale com as pessoas, que vai no bairro, porque esse é o perfil nosso. 

 

Então, se as pessoas de uma certa forma nos escolheram para fazer esse enfrentamento… Muitas vezes falavam para mim: “Abílio, eu quero você fiscalizando, quero você botando para ferver”. Muitas pessoas falaram para mim que queriam que eu fizesse esse trabalho de fiscalização, que estavam me elegendo para poder fazer isso. Então, eu acho que sim, representa muito esse interesse das pessoas.

 

MidiaNews – O senhor teve um mandato polêmico como vereador. Devemos esperar o mesmo na Câmara Federal?

 

Abílio Brunini – Eu sei que você vai até rir com o que eu vou falar, mas não sou polêmico. Não me considero polêmico. Eu me considero uma pessoa muito tranquila, envolvida em situações polêmicas, mas eu mesmo não sou polêmico, quem me conhece sabe. Não vou para agressão, não parto para violência. Sofro violência… Mas a polêmica não sou eu, a polêmica é a circunstância. 

 

MidiaNews – E quanto aos demais deputados que foram eleitos? Como avalia essa futura bancada?

 

Abílio Brunini – Eu acredito que nós elegemos uma bancada diferente para Mato Grosso. Você tem perfis muito diferentes, e esses perfis acredito que terão boas atuações. Pela primeira vez, nós vamos ter seis deputados de direita em Mato Grosso, e dois de centro. Então, isso é histórico, nós nunca tivemos isso. E não vai ter nenhum deputado de esquerda! Então, é a primeira vez que Mato Grosso, de certa forma, tem uma bancada mais homogênea. Ela não é uma bancada dispersa, do ponto de vista de atuação, apesar de ter ali no centro, o filho do prefeito de Cuiabá representando.

 

MidiaNews – Por falar no Emanuelzinho, o senhor foi mais votado que ele, inclusive em Cuiabá. 

 

Abílio Brunini – É. Isso sem falar no quanto que ele gastou e o quanto eu gastei… E minha mãe também não era candidata ao Governo. Então, assim, as circunstâncias foram um recado. Eu acho que o povo mandou um recado muito importante para o clã Pinheiro. O povo deixou o recado muito bem dado: “Olha, não é bem assim. Por causa da máquina pública vocês podem ter até ganhado a Prefeitura de Cuiabá, mas já deu”.

 

MidiaNews – Na questão da campanha do senhor, como foi entrar na disputa com pouco apoio político?

 

Abílio Brunini – Eu tive realmente pouco apoio da classe política. Se você observar, a todo tempo tentaram nos prejudicar, tentaram impedir que a gente fosse candidato. Inclusive, a Márcia tentou impedir a candidatura, pedir a cassação da candidatura. A Câmara Municipal tem se posicionado o tempo todo tentando arrancar os nossos direitos políticos. Isso foi o tempo todo. Só que graças a Deus a gente tem vencido na Justiça, todos eles, e a gente tem conseguido. 

 

Eu tenho que agradecer muito ao presidente [Jair Bolsonaro], que me deu a oportunidade de entrar no PL. Quando nenhum partido me aceitava, o presidente foi e me chamou. O [senador] Wellington [Fagundes] também foi essa pessoa que me aceitou, em especial o Ananias [Martins Filho], que é hoje o presidente estadual do partido. 

 

Foi um cara que ajudou bastante no sentido de falar: “Olha, cara, vamos firme, vai dar certo. As pessoas estão te apoiando”. Porque eu não tinha condições de fazer pesquisa, eu não tinha condições de fazer nada. Eles que faziam, eles que me davam sinal falando: “Você está no caminho, continua”.

 

MidiaNews – Como foi percorrer o Estado dessa forma? O senhor em algum momento se desmotivou?

 

Abílio Brunini – Teve um período que eu desmotivei sim. Teve um período que eu fiquei bem chateado, muita gente pedindo combustível, pedindo cesta básica, pedindo Pix, caixinha de cerveja. Foi uma campanha muito feia. Teve gente que até me pediu para pagar aluguel. Eu disse que não fazia isso, e geralmente foi nesses municípios que, infelizmente, a esquerda mais ganhou, nesses municípios mais próximos da Baixada. 

 

Porque no começo, como a gente estava com poucas condições, eu comecei a andar mais aqui perto, fui em Barão, em Rosário, em Livramento e foi onde eu mais tive confronto com uma realidade muito triste na política. Só que aí também eu fui expondo isso, fui mostrando para as pessoas o que eu estava passando. E dentro desses mesmos municípios foram surgindo pessoas que falavam que queriam mudar o próprio município.

 

A pessoa falava para mim: “Abílio, esses caras que estão pedindo gasolina aqui em Barão, eles não representam a gente. A gente quer uma cidade melhor, a gente precisa de você”. E essas palavras foram me dando motivação. Então eu falei: “Poxa, vou andar”. E aí decidi parar de olhar para quem pedia para comprar voto, e começar a olhar para aqueles que estavam desesperados, precisando de um pouco de esperança também. E foi isso que me deu gás, porque a eleição, se você olhar só a parte podre, você desanima.

 

MidiaNews – Além da fiscalização, quais outras bandeiras o senhor defenderá no Congresso?

 

Abílio Brunini – Em especial, quero dar uma atenção para a causa do autista, para a causa da fissura labiopalatina, para as mães que têm seus filhos com algum tipo de necessidade especial, para as mães que não conseguem fazer nem um ultrassom na rede pública de saúde. Eu passei por uma experiência muito difícil com a maternidade, a paternidade, por causa da minha esposa e nosso filho. Eu conheci uma realidade que está muito abandonada em Mato Grosso, e isso me chamou muito a atenção.

 

Outra questão que eu preciso dar atenção é para os nossos jovens. A gente precisa abrir espaço para emprego para essa juventude. Porque se a gente não der espaço para isso, a criminalidade vai dar. E isso tem acontecido no interior inteiro, porque tem muito jovem querendo entrar no seu primeiro emprego. O cara tem 16 anos, quer começar a trabalhar de carteira assinada, e acaba trabalhando na informalidade… Ou ele trabalha na informalidade ou não trabalha.

 

Quero já de cara apresentar um projeto para reduzir de 18 para 16 anos a idade mínima para ser contratado de carteira assinada, e colocar de 16 para 14 a idade mínima para o menor aprendiz. Porque hoje o menor aprendiz é a partir de 16 e carteira assinada a partir de 18. Eu quero reduzir isso para dar mais oportunidade para o jovem ingressar no mercado de trabalho.

 

E ainda tenho percebido o seguinte: nós temos mais de 8 mil vagas de emprego disponíveis, e a gente tem que incentivar essas pessoas a querer trabalhar. Agora, porque as pessoas não estão indo trabalhar? A gente tem que conversar com elas, buscar uma solução para desenvolver esse Mato Grosso, desenvolver o Brasil.

 

Dias atrás, a gerente do McDonalds da avenida do CPA me ligou e falou: “Abílio, por favor, divulgue no seu Instagram que a gente precisa de 20 pessoas para trabalhar. Não precisa ter experiência, não precisa ter nada, a gente capacita”. As pessoas não querem trabalhar… Não vou generalizar. Muitas não querem trabalhar, e outras às vezes não têm acesso à informação da disponibilidade da vaga.

 

MidiaNews – Então o senhor atuaria mais nas áreas sociais?

 

Abílio Brunini – Eu estou preocupado com as pessoas. Eu venho de um público que se relaciona com o problema do dia a dia das pessoas o tempo todo. As pessoas estão reclamando da fila do SUS. Eu não sou muito conhecido no meio das pessoas abastadas economicamente, estou mais relacionado com as pessoas que mais precisam do serviço público.

 

MidiaNews – Como foi acompanhar a votação do primeiro turno à Presidência? Muitos bolsonaristas não acreditavam nas pesquisas, que indicavam Lula à frente… 

 

Abílio Brunini – Há um estranhamento nessa situação toda, porque se você observar a maior bancada eleita no Brasil é a bancada de direita. Nessa eleição agora, elegeu o maior número de deputados federais de direita, o maior número de senadores de direita, o maior número de governadores de direita. Então, a maior bancada do Leglislativo e Executivo estaduais são de direita. 

 

E em controverso a isso, o resultado das urnas aponta o Lula à frente… Mas o Lula está à frente, buscando assumir o poder do Executivo, e vai ter um Congresso totalmente contrário a ele. Porque ele tem um Congresso com a maoria de direita ou centro-direita. 

 

Então, não é tão simples, o Brasil está entrando em uma situação muito perigosa pela questão econômica. Porque se o Lula ganhar, poderá ter quatro anos de conflito. Se o Lula perder, aí a gente talvez seja pacificado, mas também ainda tem um país dividido. É uma eleição complicada.

 

Mas o que eu busco é construir uma narrativa diferente. Eu não quero dividir o país, eu acho que o país não pode trabalhar de forma dividida, ele não vai prosperar. A gente precisa conversar com as pessoas. Não é nordestino ou gaúcho, é uma nação só. Não é branco e preto separado, não é rico e pobre separado, não é empresário e trabalhador. É tudo uma nação e se essa nação não se entender como nação, ela não prospera.

 

MidiaNews – Como o senhor atuaria em um eventual governo Lula?

 

Abílio Brunini – É uma hipótese que não quero trabalhar agora. Do mesmo jeito que me perguntavam antes: “O que você vai fazer com seu mandato de deputado federal?”, no sentido de como vou organizar minha equipe. Eu falei que primeiro quero ganhar a eleição, depois vou organizar a equipe. Então, da mesma forma, primeiro, a gente vê quem vai ganhar, e depois a gente resolve isso.

 

Só que Mato Grosso mesmo está em risco. Mato Grosso tem seis deputados de direita e dois centro. Se o Lula ganhar, Mato Grosso pode ser o Estado mais prejudicado do país. Porque imagina seis deputados fazendo oposição, seis deputados tendo dificuldade de conseguir recursos para o Estado. Nós podemos ter o Mato Grosso muito prejudicado em questão de parlamento.

 

 



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