Atropelamento de universitário por casal alcoolizado marcou o ano

A morte precoce e trágica do estudante universitário Frederico Albuquerque Siqueira Corrêa da Costa, de 21 anos, marcou o ano na Capital. O jovem foi atropelado e morto durante a madrugada de 2 de setembro, em frente a uma distribuidora de bebidas na Avenida Beira Rio.

 

De uma tradicional família cuiabana, Frederico é filho do veterinário Glauco Corrêa da Costa e Laura Albuquerque. Ele cursava o 6º período de Medicina Veterinária na Universidade de Cuiabá (Unic).

 

Cercado por amigos, o jovem foi atingido em cheio por um Honda City branco que estava em alta velocidade. O crime foi registrado por câmeras de segurança que mostraram o jovem sendo arremessado pelo veículo.

 

Pelas imagens é possível ver Frederico na fila do caixa comprando uma cerveja pouquíssimo tempo antes de ser atropelado. Assim que pega a bebida, ele vai em direção à rua para se reunir com o grupo, que estava aglomerado em volta de um carro estacionado.

 

Poucos depois, o Honda City atinge o rapaz. Com o impacto, Frederico foi arremessado para o alto e para frente, e foi jogado a quase 10 metros de onde havia sido atingido.

 

Versões dos envolvidos

 

Após o acidente o carro fugiu do local sem prestar socorro. Com o passar dos dias a Polícia identificou o proprietário do veículo e a motorista, que não tinha Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

 

O proprietário do veículo foi identificado como o servidor municipal Diogo Pereira Fortes, de 33 anos. A motorista, a jovem Danieli Correa da Silva, de 24 anos, uma amiga do servidor. 

 

Diogo afirmou em depoimento que os dois estavam em uma lanchonete quando a amiga assumiu a direção.

 

Ele alegou ter perguntado a ela o que havia acontecido no momento da batida, pois ainda comia e não teria visto nada, mas ela teria dito que provavelmente bateu em um carro.

 

De acordo com o advogado Jonatas Peixoto, seu cliente não parou durante a madrugada devido à quantidade de gente.

 

“Com receio de ser linchado, o que normalmente acontece. Ele não parou, parou um pouco mais a diante e não viu nenhuma movimentação muito estranha naquela hora”, explicou.

 

Já o advogado da jovem, Carlos Braga, afirmou que ela só assumiu a direção porque o amigo estaria alcoolizado e que era de seu conhecimento a falta de habilitação de Daniele.

 

“Ela não estava alcoolizada, ela estava dirigindo justamente por causa disso, porque não tinha ingerido bebida alcoólica”, afirmou o advogado.

 

Em horário de trabalho

 

A Secretaria de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cuiabá abriu um processo administrativo para apurar a conduta do servidor. Ele atuava como vigia noturno, e estava em horário de trabalho quando o acidente aconteceu.

 

De acordo com informações da Deletran, Diogo deveria estar das 18h às 06h, no local, mas se ausentou do serviço às 19h30 e só retornou por volta das 4h30, com o veículo danificado.

 

Motorista e carona indiciados

 

A Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou a motorista por homicídio doloso e o proprietário do carro, que auxiliou na fuga, como coautor.

 

O documento foi assinado pelo delegado Christian Cabral, da Delegacia de Delitos de Trânsito (Deletran), e encaminhado ao Ministério Público Estadual.

 

A motorista do veículo, foi indiciada por homicídio doloso porque, conforme as investigações, assumiu o risco de matar. Ela responderá também pelos crimes de omissão de socorro, fuga do local do crime e por dirigir com a capacidade psicomotora alterada devido à ingestão de álcool.

 

Conforme o documento, Daniele havia consumido uma bebida com alto teor alcoólico (de 47,3%), o Gin Tanqueray, diferente do que afirmou em depoimento.

 

Diogo também estava embriagado e, diante disso, e do seu envolvimento na fuga do local, foi indiciado por homicídio doloso como coautor.

 

Assim como Daniele, ele responderá pelos crimes de omissão de socorro, fuga de local e dirigir com a capacidade psicomotora alterada, uma vez que ele também assumiu a direção após o acidente, além de ter entregue a direção a quem estava nas mesmas condições.

 

MPE pede júri popular

 

A dupla foi denunciada pelo Ministério Público do Estado por homicídio qualificado. O MPE defendeu que ambos devem ser submetidos a júri popular.

 

O entendimento é de que Daniele, que dirigia o carro sem habilitação e sob o efeito de álcool, e o proprietário do automóvel, que também estava bêbado e repassou a condução do veículo à amiga sabendo que não era habilitada, assumiram o risco de produzir o resultado morte.

 

Também pesa contra os dois o excesso de velocidade, comprovado por laudos periciais. Segundo o documento a motorista dirigia a aproximadamente 88 km/h, sendo que a máxima no local é de 60 km/h.

 

O documento apontou que a jovem tinha “plenas condições” de vê-lo na pista e nada fez para impedir a colisão. Segundo os peritos, apesar do acidente ter acontecido na madrugada, o local era bastante iluminado, não prejudicando, assim, a visibilidade dela. Além de Frederico estar ao lado de um veículo estacionado e não ter cometido infração de trânsito.

 

Homenagens

 

Desde que o crime aconteceu familiares e amigos do jovem Frederico, chamado carinhosamente de Fred, fizeram diversas homenagens a ele nas redes sociais.

 

Após a missa realizada em agradecimento à sua vida, dezenas de pessoas com camisetas brancas estampando o rosto do rapaz, soltaram balões brancos ao céu.

 

“Pra tudo tem um tempo, pra plantar e pra colher e hoje eu quero agradecer pela vida do Frederico. Um menino de coração manso, alegre, feliz e que fazia todo mundo rir”, disse Laura durante a homenagem.

 

Apaixonado pela vida, ele trouxe alegria para quem passou pelo seu caminho. “O legado que ele deixa hoje é que a gente faça o nosso melhor, que a gente possa amar as pessoas, os animais e a natureza, e contemplar todas as coisas que Deus fez pra nós e faz”, disse ela.

 

Em uma carta aberta ela pediu justiça pelo filho e iniciou uma campanha nas redes. “Se você é mãe, pai ou se solidariza com minha dor, peço que me ajude a pedir #justicaporfred nas redes sociais, para que o Ministério Público se sensibilize com o processo. #JusticaPorFred #MPMT”, disse.

 

“Perder um filho é ter arrancado um pedaço de nós. É saber que jamais a vida será a mesma, uma família que fica destruída”, afirmou.

 

“Meu filho teve sua vida tirada de forma trágica e brutal por uma mulher alcoolizada, sem CNH, que fugiu ao lado de seu amigo, que também estava alcoolizado, e deu a chave de seu carro pra ela dirigir”, disse.

 

Ela relembra o caso e cita outras duas vítimas do acidente. “Fugiu sem prestar socorro, como se a vida humana não tivesse nenhum valor, e ainda voltou para trabalhar como se nada tivesse acontecido…Uma frieza que me falta o ar”, desabafou.

 

“Deixando morto meu menino, um filho amoroso, saudável e dono do sorriso mais doce. Tinha muitos sonhos e uma alegria enorme de viver”, afirmou.

 

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