Morte de agente causou comoção e cassação de vereador de Cuiabá
O assassinato contra o agente socioeducativo Alexandre Miyagawa, de 41 anos, cometido pelo então vereador por Cuiabá, Marcos Paccola (Republicanos), marcou o ano de 2022.
Era noite do dia primeiro de julho, uma sexta-feira, quando uma confusão em frente a uma distribuidora de bebidas na região Central da Capital terminou na tragédia.
Tenente-coronel da Polícia Militar, Paccola passava pelo local quando notou o que ele acreditava ser uma discussão entre Alexandre, conhecido como Japão, e sua companheira Janaína Sá.
No entanto, no vídeo registrado por uma câmera de segurança, é possível ver que ela aparece discutindo com algumas pessoas que estavam em uma distribuidora e o agente tenta acalmá-la e retirá-la do local.
Em seguida, ela vai para a frente de um carro, aparentemente discutindo com outra pessoa. Na sequência, ele tenta puxá-la para encerrar a discussão e ela o empurra.
Na sequência, Janaína sai da frente do carro e caminha para o outro lado da rua. Nesse momento, aparentemente, Alexandre teria sacado a arma e a apontado para o alto. Depois ele abaixa o que seria a arma e sai caminhando atrás dela.
Neste momento, Paccola sai da esquina, saca a arma, anda em direção ao agente e efetua os disparos. Foram três tiros, todos nas costas no agente.
Alegou defesa
Ele tava com a arma na mão de costas para mim, e com ela na frente, quando verbalizei Polícia largar a arma três quatro vezes, ao invés dele largar, ele foi girar, quando ele fez a menção de girar na minha direção, eu já atirei
Pela sua assessoria, Paccola se pronunciou pela primeira vez sobre o assassinato e afirmou que agiu para defender a namorada de Japão.
Em sua versão, o então vereador contou que ouviu populares gritando: “Ele está armado”, “ele vai matar ela”. Neste momento, ele revelou que voltou ao local, se identificou como policial e pediu para o homem abaixar a arma.
“Neste momento, o Vereador Tenente Coronel Paccola se virou e foi até a esquina para observar do que se tratava na rua do lado de fora da conveniência. Ao chegar na esquina, somente quando visualizou o cidadão com uma arma em punho, atravessando a rua com uma mulher à sua frente, diante da cena de clara ameaça, se viu então obrigado a sacar a arma e verbalizou algumas vezes com o cidadão: “POLÍCIA, LARGA A ARMA”!”, consta em trecho da nota.
Sem sucesso e alegando legítima defesa, o vereador disse que atirou contra o agente socioeducativo.
Após ter seu telefone apreendido pela perícia, dias após o crime, foi divulgado um áudio de Paccola em que ele se explicava sobre o caso e alegava temer ser atingido por Alexandre.
” […] Ele tava com a arma na mão de costas para mim, e com ela na frente, quando verbalizei Polícia largar a arma três quatro vezes, ao invés dele largar, ele foi girar, quando ele fez a menção de girar na minha direção, eu já atirei”, disse em trecho do áudio.
Três tiros nas costas
O laudo pericial da Politec apontou que dois dos três tiros que atingiram o agente socieducativo atingiram órgãos vitais. A causa da morte foi apontada como choque hipovolêmico.
Essa é considerada uma situação de emergência em decorrência da perda de grande quantidade de líquidos e sangue.
Um dos disparos, conforme o documento, não causou graves ferimentos. A bala entrou pelo lado esquerdo das costas e saiu pelo braço.
Já as outras duas balas atingiram vários órgãos vitais, além da artéria subclávia esquerda – que é uma das ramificações da aorta, principal veia do corpo que sai do coração.
As balas entraram pelas costas e saíram pela parte da frente com percurso ascendente, ou seja, de baixo para cima, com uma ligeira inclinação da direita para esquerda.
Revolta popular
Devido à grande repercussão do caso familiares, amigos e colegas de trabalho de Japão realizaram protestos na Câmara de vereadores de Cuiabá pedindo que Paccola tivesse seu mandato cassado.
“Fica feio para nossa Capital se a Câmara não tomar nenhuma atitude em relação a esse vereador. Tudo que acontece jogam para debaixo do tapete. Tudo. É Saúde, é Educação, é Segurança”, afirmou na época o presidente do Sindicato do Sistema Socioeducativo de Mato Grosso, Paulo César de Souza.
Cerca de 4 dias após o homicídio do agente, a vereadora Edna Sampaio (PT) protocolou um pedido de cassação do mandato de Paccola por quebra de decoro parlamentar.
MidiaNews
A família do agente protestou em frente à Câmara Municipal
No documento, Edna argumenta que a conduta de Paccola extrapola “qualquer limite suportável”, rebaixa a Casa Legislativa e representa um risco aos demais parlamentares.
Mandato cassado
No dia 5 de outubro ocorreu a sessão em que os vereadores da Câmara votaram e decidiram cassar o mandato do tenente-coronel.
Foram 13 votos favoráveis à cassação, cinco contrários, três abstenções e quatro ausências. Conforme o regimento interno da Casa de Leis, era preciso a maioria absoluta dos votos para que o mandato dele fosse cassado, ou seja 13.
Paccola pediu justificativa de voto e disse ter se decepcionado com colegas que votaram pela sua cassação e os acusou de integrarem uma “organização criminosa”.
“Com alguns aqui eu não me decepcionei. Mas vereador Lilo, Sargento Vidal, vereador Rodrigo Arruda e Sá, eu me decepcionei muito. Eu não acreditava que os senhores faziam parte da maior organização criminosa que existe em Cuiabá. E eu vou provar. Um por um. Inclusive, o senhor, presidente”, disse se dirigindo ao presidente Juca do Guaraná.
O ex-vereador chegou a tentar recorrer da cassação de seu mandato, porém não obteve sucesso.
Após a cassação de Paccola, a mãe de Japão, Elia Miyagawa, afirmou que estar feliz e que a justiça “começou a ser feita”.
O ex-parlamentar ainda é réu na Justiça pelo assassinato do agente socioeducativo.