Vai na Fé, com José Loreto, une Brasil brega ao evangélico
A próxima novela das sete da Globo tem fé no nome, mas a religião não é seu tema principal. “Não é mais do que a religião que faz parte da vida”, diz Rosane Svartman, autora de “Vai na Fé”. “Num país onde 90% da população diz ter religião, é natural mostrar isso numa novela contemporânea.”
A religião evangélica acompanha uma das protagonistas, a personagem Sol, vivida por Sheron Menezzes, que frequentava bailes funk no Rio de Janeiro dos anos 2000 e se afastou da música após ser mãe. Mas não é sua relação com a igreja, e sim sua crença numa vida melhor que a relaciona com o nome da novela.
Essa esperança ressurge em Sol, que vende marmitas nas ruas, quando ela volta ao convívio musical a partir do encontro com Lui Lorenzo, uma estrela pop decadente interpretada por José Loreto, e Vitinho, antigo parceiro de funk, vivido por Luis Lobianco.
Dentro desse núcleo, todos os personagens vivem uma certa frustração com a carreira artística. Lorenzo enchia estádios, mas hoje toca para públicos diminutos; Vitinho queria estar nos palcos, mas vive compondo hits chiclete; Wilma –mãe de Lorenzo, vivida por Renata Sorrah– era uma atriz de sucesso, mas hoje é empresária do filho.
Há a nostalgia de um passado glorioso, equilibrado com a esperança de dias melhores. É uma equação pensada pela autora para evitar maniqueísmos e dialogar com um Brasil que vai além da polarização que marcou os últimos anos.
“As pessoas aceitam e gostam de ver personagens humanos –que erram, acertam, às vezes são contraditórios, que não são de todo bem ou mal”, diz Svartman. “São personagens que querem acertar, à sua maneira, e erram, aprendem e tentam de novo.”
É assim que “Vai na Fé” se relaciona com o desejo da Globo de dialogar com as mudanças no perfil religioso dos brasileiros –agora, mais evangélicos. É, como diz Lobianco, uma forma de atrair um público que “não quer ver novela só porque o tema é bíblico”.
Dentro desse cenário está Lui Lorenzo, o primeiro protagonista de Loreto em uma novela. O cantor, diz a autora, é uma espécie de “boy lixo”, que se apaixona tão facilmente quanto desapega, mas sempre com sinceridade.
Loreto lembra como inspirações o mexicano Luis Miguel, além de Luan Santana, Ricky Martin e Latino –ainda que este último não tenha gostado da citação. O cantor se incomodou por ser referência para um personagem decadente e pediu respeito na imprensa.
Trazendo a discussão do etarismo, Wilma é uma atriz que perde oportunidades conforme envelhece e desconta as frustrações no filho, no ex-marido e em praticamente tudo o que vê pela frente. “Ela acha o filho cafona”, diz Sorrah. “Acha que a música que ele faz é de quinta categoria.”
Mas mesmo os temas mais importantes acabam diluídos na dinâmica do horário em que “Vai na Fé” será exibida, que comporta humor, aventura e drama, muitas vezes ao mesmo tempo. Com músicas originais e ligada ao universo do entretenimento, a novela se propõe leve e otimista.
Segundo o diretor Paulo Silvestrini, a estreia do folhetim neste começo de ano, pós-governo Bolsonaro e pós-pandemia, é um evento auspicioso.
“A gente viveu anos difíceis e, à luz dos acontecimentos [os ataques em Brasília], a gente pode entender que ainda reverberam. Algumas feridas estão abertas na sociedade.”
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