O presidente e a Selic

Está ficando cada vez mais difícil ouvir os discursos do Presidente Lula nos jornais televisivos diários. A principal razão é o tom grandiloquente e panfletário de suas falas e a repetição cansativa das mesmas ideias.

Nos últimos 15 dias ele direcionou seus tiros verbais para o Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, criticando o valor da taxa Selic cuja definição cabe àquela instituição em decisões colegiadas.

Junto com o valor da taxa Selic, outro assunto (sem nenhuma ligação entre si) que se repete nos jornais e sites é a rápida popularização da Inteligência Artificial representada principalmente pelo ChatGPT, que promete responder a todas as perguntas que lhe são feitas.

A curiosidade levou-me a indagar ao ChtGPT sua opinião sobre a Selic, mas antes perguntei-lhe como ele próprio se definia. Em poucos segundos respondeu:

ChatGPT é um modelo de linguagem de inteligência artificial de grande escala treinado pela OpenAI, capaz de compreender e gerar linguagem natural em diversos idiomas. Ele pode ser usado para conversar com usuários, responder perguntas, gerar texto e realizar tarefas linguísticas complexas.

Sabendo dessas habilidades da OpenAi de gerar textos inéditos através de comandos simples do usuário, pedi-lhe que listasse as principais funções do Banco Central Brasileiro. A IA listou:

Emitir e controlar a quantidade de dinheiro em circulação no país;

Fiscalizar e regulamentar as instituições financeiras, incluindo bancos.

Gerir as reservas internacionais do país;

Definir a taxa básica de juros (Selic) e outras políticas monetárias;

A taxa Selic é a principal ferramenta do BC para defender a moeda contra a corrosão da inflação. Mas o Lula parece convencido de que o Presidente Campos Neto mantem a taxa de 13,75% somente para prejudicar seu governo, seguindo o mesmo caminho do ex-presidente Bolsonaro que se especializou em detonar as instituições brasileiras.

Além da impropriedade das acusações chama a atenção a grosseria delas chamando o Campos Neto de “aquele cidadão” e “o coiso” em contraste com a elegância e serenidade do presidente do Banco Central que se põe à disposição do governo e do parlamento para explicar a manutenção da Selic.

Aliás, vulgaridade e descortesia não faltam ao Lula que costuma chamar publicamente o ex-presidente pelo apelido de Bozo. Na mesma moeda e com idêntica grosseria, é apelidado de “nove dedos” pelo Bolsonaro.

O Lula, não sei se pela idade, ou pelo trauma que sofreu com a prisão em Curitiba parece ter incorporado uma personalidade megalomaníaca a ponto de se achar suficientemente influente para mediar a guerra da Ucrânia. Também, atribuindo-se conhecimentos que não têm, pensa que pode definir a taxa Selic.

Sobre essa mania de perseguição é bom lembrar que a Selic de 13,75% está em vigor desde agosto do ano passado, o que descarta a má vontade do BC contra o atual governo.

Claro que não defendo a manutenção do percentual da taxa porque sei que as variáveis que influem as decisões do colegiado são tantas e de tamanhas sofisticações que não cabe aos leigos palpitar.

O Lula, como presidente da República, pode reclamar do valor atual determinado pelo BC, só não pode ser simplório a ponto de ignorar os possíveis solavancos da economia em caso de uma mudança mal feita.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor