Pedreiro trouxe família do Maranhão semanas antes da chacina
A família do pedreiro Getúlio Rodrigues Frazão Júnior, de 36 anos, estava prestes a fincar raízes em Sinop quando, na tarde de terça-feira (21), foi dizimada em uma chacina. Ele e a filha de 12 anos, L.F.A., morreram no local, além de outras cinco pessoas.
Essa tragédia destruiu a nossa família, acabou com a nossa felicidade
A esposa e o sobrinho de Getúlio também estavam no bar em que tudo aconteceu, e por muito pouco não foram assassinados também.
“Essa tragédia destruiu a nossa família, acabou com a nossa felicidade”, afirmou Deusinha Sousa Frazão, irmã de Getúlio.
“Meu irmão era um homem trabalhador, um pai de família, sempre muito responsável. Só tinha um defeito que era gostar de jogo, mas isso nunca atrapalhou o trabalho dele. Era um ótimo profissional”, disse.
Durante partidas de sinuca apostadas no bar, Getúlio levou a melhor e seu adversário, Edgar Ricardo de Oliveira, de 30 anos, não soube lidar com a sequência de derrotas. Ao longo do dia ele já havia faturado cerca de R$ 4 mil.
Edgar, junto do amigo Ezequias Souza Ribeiro, de 27 anos, matou de forma brutal as vítimas, que não tiveram nenhuma chance de defesa.
Meu irmão era um homem trabalhador, um pai de família, sempre muito responsável. Só tinha um defeito que era gostar de jogo, mas isso nunca atrapalhou o trabalho dele
Deusinha conta que o irmão saiu da cidade Natal, Governador Nunes Freire (MA), há cerca de três anos em busca de melhores condições de vida para a família.
“Ele deixou a família aqui e estava mantendo as despesas. L.F.A. ficou estudando e quando entrava de férias ela e a mãe encontravam com ele em Sinop”, afirmou Deusinha.
“Dessa vez estavam decididos a construir a moradia deles para lá. Elas foram para ficar, já tínhamos até programado a transferência da menina”.
Segundo Deusinha, o irmão começou trabalhando com um amigo da mesma cidade natal, e mais recentemente por conta própria.
“Ele já estava pegando as empreitas com as construtoras e trabalhando por conta; estava prosperando”, afirmou.
Apesar de gostar das apostas e fazê-las com frequência, Getúlio nunca havia se envolvido em qualquer tipo de briga por conta delas.
“Até o momento a ficha não caiu, é uma situação inacreditável, não tenho nem palavras”, disse.
Pequena sonhadora
L.F.A. foi descrita como uma criança “doce”, “inteligente” e “sonhadora”, além de muito madura para a idade.
“Era muito amada e, pra mim, era como uma filha. Ela era muito sonhadora e inteligente, tinha uma mentalidade de adulto”, afirmou.
“Ela dizia que o sonho dela era estudar e que quando completasse 13 anos queria começar a trabalhar, mesmo eu dizendo que ainda era muito nova”.
Não os trará de volta
Apesar de estar aliviada com a prisão de um dos autores do crime, Edgar de Olivera, Deusinha afirmou que nem de longe isso tira a dor das famílias e que o receio é de que ele não fique muito tempo na cadeia.
Não minimiza nem por um instante a dor e de maneira nenhuma isso trará eles de volta
“Não minimiza nem por um instante a dor e de maneira nenhuma isso trará eles de volta”.
“É um alívio que pelo menos o que foi morto [Ezequias] não vai estar por aí correndo o risco de causar tamanha dor a outras famílias”.
A esposa de Getúlio agora está a caminho do Maranhão.
“Ela e meu sobrinho não estão falando, nem se alimentando direito. Está sendo muito difícil para todos nós, mas, principalmente, para eles, que quase morreram”.
“Espero que a Justiça seja feita e que ele não saia mais de lá, que ele pague pelo crime que cometeu e pela dor que nos fez passar, à minha família e às famílias das outras vítimas”, finalizou.
Os corpos em Governador Nunes Freire chegaram na tarde desta sexta-feira (24) para o velório. O sepultamento de Getúlio e da filha está previsto para o sábado (25).