‘Meu corpo em chamas e pele na mão’: DJ narra explosão de panela
A DJ Juliana Maddeira, 28, teve 10% do seu corpo queimado após um acidente com uma panela de fondue em junho de 2022.
Com queimaduras de 3º grau, a jovem, que é do Rio de Janeiro, ficou 40 dias internada e precisou passar por 21 cirurgias.
Ao UOL, Juliana conta sua história.
“Estava em uma boa fase até acontecer um acidente que viraria minha vida de cabeça para baixo. No ano passado, uma panela de fondue explodiu e o meu corpo pegou fogo.
Eu tinha minha empresa aberta, morava sozinha, uma vida estável, até que, devido à explosão, queimei 10% do corpo, inclusive com queimaduras de 3° grau. Fiquei 40 dias internada — sendo 20 dias na UTI. Precisei de 21 cirurgias, levei 150 pontos e desenvolvi síndrome do pânico.
Lembro de cada momento antes de acontecer o acidente. Estava em casa e me preparava entusiasmada para fazer um jantar de Dia dos Namorados. Havia comprado uma panela de fondue e estava ansiosa para usá-la. Tudo pronto para a noite e fui experimentar a novidade.
Acreditava que estava fazendo tudo certo e como via que o fogo muitas vezes parecia mais baixo, jogava álcool em gel insistentemente com o objetivo de aumentar a chama e continuar o jantar. Depois de fazer isso por muitas vezes, aconteceu a explosão.
Na hora do acidente, eu estava com um pijama de seda, que é um tecido muito inflamável, não sei dizer como a roupa não pegou fogo e engoliu meu corpo.
Veio o desespero, comecei a implorar para a única pessoa que estava comigo me levar para o hospital e fomos para o mais perto.
Mesmo depois de tudo, eu não conseguia ter dimensão do que estava acontecendo comigo, dezenas de médicos me cercavam. Achei que ia só para passar uma pomada e tomar um antibiótico, não conseguia entender, comecei a ter crise de pânico, era uma sensação horrível, angustiante em vários sentidos.
Eu tinha muito medo de a minha mãe saber, porque ela sofre de síndrome de pânico, pensei muito nela nessa hora. Não queria que ela passasse mal ao me ver daquele jeito e nem eu mesma percebia como a situação era grave
Para ser sincera, naquele momento, estava muito confusa. Foram obrigados a chamar minha mãe, ela chegou e me viu, ficou muito assustada — eu ainda não tinha me olhado.
No meio disso, contrai uma infecção hospitalar pelo excesso de feridas no corpo, estava tudo muito aberto e propício a bactérias, sofri um gigante risco de desenvolver uma infecção generalizada e para piorar tive alergia ao antibiótico.
O medo de a infecção ser generalizada tomou conta. O médico chamou meu pai em um canto e disse que não sabia como eu ainda estava aguentando, eu ouvi mesmo sedada e lembro como se fosse hoje. Minha família chorava todos os dias.
Nunca voltei bem de um centro cirúrgico, tinha reações horríveis, frio, febre, taquicardia, crise de pânico, dor e tudo junto. Era uma mistura de sentimentos.
Em uma das vezes que voltei para a UTI, vi meu pai chorando, aquilo mexeu comigo, meu pai não chora. Tempos depois, ele me contou que o médico falou que não sabia como eu ainda estava viva.
Recuperação
Minha família foi a força que me faltava. Tinha crises de pânico no hospital que eu berrava. A UTI ficava um caos e precisavam me sedar. Meu pai e minha mãe estavam sempre ao meu lado. Meus irmãos faziam chamadas de vídeos com minhas sobrinhas para eu me acalmar e dava supercerto. Me apeguei muito na minha religião também, sou candomblecista.
A recuperação foi lenta, sai do hospital em agosto, ainda tinha muitas feridas no braço, acabei passando por um erro médico que me deu um tratamento errado e agravou ainda mais as feridas. Mudei de médico, cheguei à consulta e ele ficou horrorizado, me internou literalmente no dia seguinte e um dia depois já estava me operando, a cirurgia durou oito horas (a princípio era uma cirurgia de três horas).
O processo de recuperação foi muito doloroso. Mesmo em casa, eu ia para o hospital diariamente devido às dores.
Comecei a me recuperar rápido depois da cirurgia de enxerto para cobrir as feridas do braço. Essa cirurgia foi em setembro. Mas, aí, começou mais uma luta: com a minha autoestima.
Em dezembro já estava me sentindo muito melhor comigo mesma. Hoje em dia tenho poucas marcas, já que continuo me tratando, os médicos ficam até chocados. Consigo fazer todas as coisas que quero: trabalho, curto, bebo, viajo. Só não rola ainda pegar praia, mas confesso que nunca gostei mesmo.
Lembrar do acidente ainda mexe muito comigo e acabar virando gatilho.
Tomo oito tipos de remédio por dia, dentre eles, alguns de tarja preta. Para as cicatrizes, uso uma pomada de silicone.
Porém, quando me vi numa boate, comandando uma pista, sorrindo, com meus amigos, repleta de gente em sintonia comigo, me senti viva demais, acabei chegando em casa às 8h da manhã, curti a noite toda.
Passou um filme na minha cabeça. Espero que, se alguém estiver passando por tudo o que passei, em recuperação, em algum CTQ (Centro de Tratamento de Queimaduras), possa ler o meu relato e saber que há vida pós-queimaduras graves. Estou conseguindo voltar a ter uma vida normal.
Fonte: