PT enfrenta dificuldades em capitais para eleições municipais de 2024
Quando as urnas foram abertas e apuradas em novembro de 2020, o panorama não poderia ser pior: pela primeira vez desde a redemocratização, o PT saía de uma eleição sem o comando de nenhuma das 26 capitais brasileiras.
“Foi o fundo do poço para o partido em disputas municipais”, lembra o senador Humberto Costa (PT-PE). Três anos depois, o PT antecipa a discussão das estratégias para a disputa de 2024 para tentar dar a volta por cima em um cenário mais favorável, no comando do governo federal sob liderança do presidente Lula.
As táticas em discussão se dividem entre o estreitamento de alianças locais com partidos da base de Lula, o desejo de lançar candidaturas próprias e a necessidade de oxigenar o partido, dando a oportunidade a nomes novos encararem a vitrine de uma disputa majoritária.
Sem governar as principais metrópoles nas últimas legislaturas, o partido larga em desvantagem nas articulações políticas frente a adversários regionais. Também terá que lidar com o efeito da elevada rejeição à legenda em partes do país, como o Sul e o Centro-Oeste.
Dentre as 26 capitais, os petistas caminham para ter candidatos próprios mais competitivos em ao menos 6 delas: Fortaleza, Natal, Teresina, Aracaju, Porto Alegre e Vitória. Os acordos selados em 2022 na eleição que resultou na vitória a Lula sobre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) devem deixar o PT de fora da disputa nos dois maiores colégios eleitorais: São Paulo e Rio de Janeiro.
Em São Paulo, cidade onde o partido concorreu a todas as eleições municipais desde 1982, o PT deve abrir mão da candidatura pela primeira vez para apoiar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
No Rio, o partido deve subir no palanque de reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD). O mesmo deve acontecer em Belo Horizonte e no Recife. No primeiro caso, o PT ainda não tem nome natural e se divide entre lançar candidatura própria e apoiar o prefeito Fuad Norman (PSD) ou a deputada federal Duda Salabert (PDT). No Recife, está pavimentada uma aliança com João Campos (PSB).
Em todos os casos, o PT vai brigar para indicar o candidato a vice-prefeito. Mas o caminho não será fácil no Rio e no Recife, onde os atuais prefeitos são vistos como potenciais candidatos ao governo de seus estados em 2026 e podem renunciar no meio do mandato, caso sejam reeleitos. Ao mesmo tempo em que articula apoio a aliados, o PT se mobiliza para construir candidaturas próprias.
O GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral) do partido se reúne pela primeira vez nesta segunda-feira (10) para começar a traçar estratégias com foco inicial nas cidades com mais de 200 mil eleitores “Vamos estabelecer uma meta ousada, mas realista, até porque os recursos do fundo eleitoral são limitados. Mas acho que vamos conseguir crescer e conquistar um número significativo de prefeitos”, afirma Humberto Costa, que preside o grupo de trabalho.
Em Fortaleza, que será o terceiro maior colégio eleitoral em disputa em 2024, a candidatura vai depender da resolução do imbróglio que envolve PT e PDT, parceiros históricos no estado que romperam em 2022. O prefeito José Sarto (PDT) quer disputar a reeleição, mas enfrenta desgastes.
O PT se movimenta em duas frentes. De um lado, pode lançar uma candidatura orgânica, escolhendo entre a deputada federal Luizianne Lins e a deputada estadual Larissa Gaspar. Outra possibilidade é filiar um quadro de outro partido, que seja alinhado ao governador Elmano de Freitas (PT) e tenha força eleitoral. Nesse caso, o mais cotado é Evandro Leitão (PDT), presidente da Assembleia do Ceará.
Em Vitória, única capital do Sudeste onde o PT deve ter candidato, o partido vai repetir 2020 e lançar o ex-prefeito João Coser, hoje deputado estadual. Ele foi ao segundo turno na última eleição, mas acabou derrotado pelo hoje prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos).
“Enfrentamos uma eleição em um ambiente muito hostil em 2020 e tivermos uma votação expressiva. Agora, vamos trabalhar para construir uma candidatura mais ampla, trazendo para o nosso lado inclusive partidos de centro e da centro-direita”, diz Coser.
Em Porto Alegre, o nome natural é do ex-deputado Edegar Pretto, que teve bom desempenho na eleição para o governo do estado em 2022 e não foi para o segundo turno por margem estreita. Nomeado por Lula para o cargo de diretor-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Pretto trabalha por uma frente de esquerda para enfrentar o prefeito Sebastião Melo (MDB).
A deputada federal Maria do Rosário e a estadual Sofia Cavedon também são cogitadas no partido. Em Natal, o PT aposta em um de seus jovens quadros mais promissores: Natália Bonavides, deputada federal mais votada da capital potiguar em 2022. Ela tem como trunfo o apoio da governadora Fátima Bezerra (PT), mas ainda tem dificuldades em ampliar alianças para além da esquerda.
Cidade nunca governada pelo PT, Teresina é outra esperança do partido para vencer em uma capital. Depois de romper com o prefeito Dr. Pessoa (Republicanos), os petistas vão disputar 2024 com candidato próprio e vão escolher entre os deputados estaduais Franzé Silva e Fábio Novo. Em Aracaju, a aposta é Eliane Aquino (PT), que foi vice-governadora de 2019 a 2022 e é viúva do ex-governador Marcelo Déda.
Outro possível candidato é o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), que disputou em 2020 e ficou em quarto lugar. Ainda há indefinição do partido em capitais como Salvador, Curitiba e Manaus. Na capital baiana, o partido decidiu que vai apresentar um pré-candidato, e o deputado estadual Robinson Almeida ganhou força internamente nas últimas semanas. Mas o PT não descarta apoiar nomes de partidos aliados como José Trindade (PSB) e Geraldo Júnior (MDB).
A decisão caberá ao governador Jerônimo Rodrigues (PT). Em capitais marcadas pelo antipetismo nas últimas eleições, a tendência é de composição com aliados de partidos de centro e centro-direita, estratégia que deve incluir até o apoio a ex-petistas. É o caso de Rio Branco, no Acre, onde o ex-prefeito Marcos Alexandre desfiliou-se do PT para ocupar um cargo na Justiça Eleitoral. Mas segue competitivo e é cortejado por partidos como o MDB.
Nas capitais onde as alianças não avançarem, o partido deve abrir espaço para novos quadros. O objetivo é garantir visibilidade ao partido, fortalecer novos nomes e recuperar terreno de olho nas eleições legislativas em 2026. Em Manaus, uma das cotadas é a secretária nacional de mulheres do PT Anne Moura, que foi candidata a vicegovernadora em 2022. Em Curitiba, uma das opções é a deputada federal Carol Dartora, primeira mulher negra a ser eleita vereadora na capital paranaense.