Biólogo cria serpentes e sonha transformar casa em zoológico

Em uma casa com três cachorros e dois peixes, quem chama a atenção são as serpentes. Dono de 14 jiboias, o biólogo Felipe Dezzotti iniciou sua jornada no mundo dos répteis em 1994, quando adquiriu sua primeira iguana. Desde então o amor pelos répteis vêm aumentando, assim como o tamanho dos animais de estimação.   

 

Com nomes fazendo referência ao mundo pop de Madonna, Jesus [Luz], Brad Pitt e Angelina Jolie, as jiboia das espécies Arco-Íris do Cerrado, Arco-íris da Amazônia, Arco-Íris Caatinga,  Bcc (Boa constrictor constrictor), Bca (Boa constrictor amarali) e Bco (Boa constrictor occidentalis) transformam o terrário localizado na casa de Felipe em um pequeno resort especializado no cuidado de serpentes. 

 

Sempre fui apaixonado [ por répteis] antes mesmo de ser biólogo, mas se deus quiser ano que vem pretendo montar um zoológico de répteis aqui

“Elas [serpentes] gostam de comer e ficar quietinha. Então os terrários são uma espécie de resort para elas”, brinca o biólogo ao narrar os cuidados necessários para garantir o bem-estar dos animais.  

 

É que as jiboias são animais morfoclimáticos e conseguem adaptar sua temperatura corporal de acordo com o ambiente em que estão inseridas. Essa característica, de acordo com Felipe, auxilia nos cuidados dos animais em casa. 

 

Com uma alimentação baseada em proteína animal, as jiboias cuiabanas se alimentam quinzenalmente de ratos e coelhos. Com um gasto mensal de cerca de R$ 50 por serpente, o biólogo afirma que os ofídios são um dos pets mais econômicos do mundo animal. 

 

“O gasto é pouco, a alimentação é pouca, você consegue viajar e passar 15 dias fora e não vai ter o compromisso de alimentar diariamente o animal. Como o intervalo de alimentação é grande, os intervalos de xixi e coco também são grandes. Outra questão é que répteis não precisam de carinho. Esses são alguns pontos positivos para se criar réptil”, ensina.  

 

Mas o benefício que mais se destaca também gera dificuldade. Segundo Felipe, a alimentação às vezes é difícil de ser encontrada a depender do local onde o criador vive.  

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felipe

Felipe Dezzotti possui cerca de 14 jiboias de diversas espécies

“Algumas pessoas não têm acesso fácil à alimentação e aí precisam criar esses animais ou importar de cidades vizinhas para conseguir alimentar. Conheço uma pessoa de Arenápolis que compra ratos daqui de Cuiabá. Isso acaba gerando um custo maior porque tem o deslocamento daqui a Arenápolis”, relata o biólogo ao falar das dificuldades de criar animais com hábitos não convencionais. 

 

Interessado pelos animais desde a infância, Felipe compartilha com a filha de 14 anos a paixão pelas serpentes. Para além de fortalecer o vínculo entre pai e filha, o amor pelos animais exóticos auxilia no processo de socialização da jovem.  

 

“Ela gosta bastante. Nós até fomos na escola dela e saímos mostramos para os amiguinhos, professores, diretores. Fizemos esse passeio na escola. Tem pessoas que são tímidas, mas ao ter répteis, elas convivem com outras pessoas que, às vezes, vêm e querem pegar, fazer perguntas e matar a curiosidade. Então, você começa a se soltar um pouco mais e a exercitar essa interação com pessoas diferentes”.    

 

Desde sua primeira serpente, uma píton albina adquirida no ano de 1995, Felipe convive com diferentes reações e comentários a respeito de seus animais de estimação, mas ele garante que criar cobras não difere muito de outros pets domésticos.   

 

“As pessoas acham diferente. Algumas falam ‘ah, mas o que adianta por nome, elas nem respondem, você nem pode pegar’. Mas tem gente que tem gato e eles nem gostam do dono; tem gente que cria peixe, mas você não pode pegar em peixe e levá-los para passear. Os meus dão pra pegar. São gostos diferentes”, afirma.  

 

Mas sua admiração pelos animais gera sonhos para o futuro. O biólogo pretende levar seu terrário para o quintal e transformar o gramado de sua residência em um zoológico de répteis para visitação pública.     

 

“Sempre fui apaixonado [por répteis] antes mesmo de ser biólogo, mas se deus quiser ano que vem pretendo montar um zoológico de répteis aqui”, declara.  

 

O objetivo é criar em Cuiabá um espaço de lazer que mescla conscientização e diversão, baseando-se no Aquário de São Paulo. 

 

“Acho que a geração de agora abre mais a mente, adquire mais conhecimento e perde um pouco do medo de cobras. As pessoas pensam que elas são bichos do mal, que vão morder e matar, mas não é bem assim. Então é bom desmitificar”. 

Acho que a geração de agora abre mais a mente, adquire mais conhecimento e perde um pouco do medo de cobras

Preservação e meio ambiente 

 

As cobras sempre estiveram presentes no imaginário popular. Na Bíblia cristã foi uma serpente que persuadiu Adão e Eva a comerem a fruta símbolo do pecado. Já para os egípcios as cobras estão relacionadas às divindades, como a deusa Wadjet, protetora do baixo Egito e representada por uma naja.    

 

Lembradas pelas lendas e ameaçadas pelo medo, as cobras sofrem o risco da desinformação. Apesar de ser considerado crime ambiental, a morte das serpentes cometida por populares é uma prática comum. 

 

O ato de matar, perseguir ou caçar animais silvestres, incluindo as serpentes, pode gerar de seis meses a um ano de prisão de acordo com o artigo 29º da lei presente na Legislação de Crimes Ambientais. 

 

“Atualmente há muito pouco registro de resgate de animais peçonhentos aqui no Estado. Porque as pessoas não ligam para os órgãos competentes para resgatar os animais. Pelo contrário, elas matam os bichos”, afirma o biólogo. 

 

Para reverter este cenário, o biólogo acredita ser necessário a realização de trabalhos de conscientização ambiental e de divulgação científica sobre animais silvestres.   

 

“Hoje as pessoas nem escondem que cometem crime ambiental. Elas matam a cobra, gravam e compartilham fotos e vídeos nas redes sociais e isso é crime”, afirma

 

“O que falta é divulgação e educação ambiental, para que as pessoas tenham conhecimento [sobre o animal] e liguem mais para as entidades competentes para realizarem o resgate dos animais. Criar e ter contato com os animais é o que pode salvá-los”, complementa o biólogo. 

 

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cobra

Jiboia Arco-Íris

Compra  

 

A compra de animais silvestres como as serpentes é realizada por meio de criadouros legalizados.  

 

Com valores que variam de R$ 2 mil a R$ 30 mil, a depender da raridade, tamanho, cor e especie do animal  às serpentes para criação doméstica podem ser adquiridas por meio de criadouros legalizados.

 

A partir do momento da compra, o tutor adquire uma nota fiscal e certificação dos órgãos competentes, como do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).  

 

A compra de animais silvestres não legalizados é considerado crime no Brasil.  

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