Em áudio, empresário confessa ter matado jovem trans; ouça

Policiais civis gravaram o momento em que o empresário Jorlan Cristiano Ferreira, de 44 anos, confessou ter matado a jovem trans Mayla Rafaela Martins, de 22 anos, em Lucas do Rio Verde (ouça no final da matéria).

Eu dei um mata-leão nele, peguei a faca e finquei nele, não sei aonde que pegou, mas finquei

 

Mayla foi morta a facadas e seu corpo encontrado na manhã de terça-feira (16) às margens da MT-485, entre Lucas e Sorriso.

 

O empresário alega ter sido roubado pela vítima à época em que abriu seu estabelecimento na cidade e ter encontrado ela de volta na noite do crime.

 

“Aí, ontem a noite eu achei o infeliz”, disse ele em trecho do áudio. A todo o momento Jorlan se refere à vítima com pronomes masculinos, mesmo ela sendo uma mulher trans.

 

Depois de encontrar Mayla, ele alega que teria convidado a vítima para ir com ele a sua casa e lá a matou.

 

A narrativa apresentada de maneira informal aos policiais tem inconsistência.

 

“Ele me pegou, me derrubou contra o muro da minha casa, lá dentro de casa”, disse o empresário. “Então foi dentro da sua casa?”, questiona uma policial. “Foi”, ele confirma.

 

Jorlan se contradiz com a sequência dos fatos, diz que a vítima o ameaçou e depois pediu uma cerveja.

 

Eu falei ‘eu já tô fodido mesmo, vou carregar essa desgraça embora

De acordo com a versão do empresário, a vítima teria pedido também dinheiro para ir embora sem fazer “escândalo” e nem “chamar a Polícia”.

 

“Eu entrei para pegar uma cerveja, aí quando eu entrei para pegar essa cerveja, ele me pulou e daí eu corri lá para casa e ele veio atrás com a faquinha de serra”, disse.

 

Jorlan então dá um “salto no tempo” e conta o momento em que despejou os pertence de Mayla no rio após matá-la e abandonar o corpo às margens da rodovia. “Uma faca de serra, uma maquininha de cartão e acho que um celular e um monte de porcaria”, disse ele, referindo-se aos objetos que lançou no rio.

 

A policial pede para que ele retome a narrativa do momento em que os dois estavam na casa dele.

 

“Mata-leão”

 

Reprodução

Mayla Rafaela Martins

A jovem Mayla atuava como garota de programa na cidade

“Ele me pulou com aquela faca de serra e tentou me furar. Aí eu corri. Eu corri e ele veio atrás. Aí ele entrou lá dentro. A sorte minha é que ele não conseguiu porque o carro estava lá dentro, se não ele tinha me pegado”.

 

Foi nesse momento que Jorlan disse ter rendido a vítima e aplicado um mata-leão nela. “A faca caiu do lado, ele tentou pegar e daí eu fiquei com medo dele conseguir pegar a faca […]. Eu consegui catar a faca e finquei a faca nele”, disse.

 

Se em um primeiro momento Jorlan disse ter convidado a vítima a ir com ele, depois ele disse que do portão da casa Mayla pediu para tomar a cerveja.

 

“Só o vizinho [escutou briga], e eu acho que é impossível, ele não deve ter escutado, porque ele [Mayla] nem berrou, não deu tempo, ele gritou socorro, eu pulei nele, ajeitei, derrubei”, disse.  

 

Jorlan divaga novamente, e quando retoma ao ponto diz que na verdade ele pegou outra faca dentro de casa, diferente do que havia dado a entender no início da narrativa.

 

“Eu dei um mata-leão nele, peguei a faca e finquei nele, não sei aonde que pegou, mas finquei. Daí ele só quis gritar socorro. Eu, pra não deixar ninguém [ouvir], apertei ele, segurei não sei por quanto tempo, pelo pescoço”, disse.

 

Eu achei uma entradinha, só fiz a volta, desliguei a luz, não enxerguei nada e joguei

“Aí ele amoleceu e eu soltei e entrei em desespero”.

 

“Pensei que poderia ligar para a polícia. Eu falei ‘eu já tô fodido mesmo, vou carregar essa desgraça embora”.

 

Na narrativa ele conta que usou a piscina da filha para enrolar a vítima e jogá-la dentro do porta-malas.

 

“Indo para Sorriso, passa o rio, tem o puteiro da Morjana, vai lá em cima e tem um trevinho, pega a direita. Eu achei uma entradinha, só fiz a volta, desliguei a luz, não enxerguei nada e joguei”.

 

“Eu até pensei [em chamar a Polícia], mas achei que ia me complicar mais ainda”.

 

Jorlan continuou com a versão de que a vítima havia tentado lhe extorquir.

 

Contratou acompanhante

 

Para a Polícia, o empresário teria contratado os serviços da jovem, que atua como garota de programa.

 

Mayla era moradora de Várzea Grande e estava na cidade a trabalho. Ela sempre fazia viagens do tipo para cidades do interior e estava prestes a voltar para casa.

 

De acordo com o delegado João Antônio Batista Torres, que está à frente do inquérito, o empresário deu detalhes do crime em um depoimento informal, mas se manteve em silêncio durante a oitiva oficial.

 

“Na tarde de ontem (terça) conseguimos localizar o veículo em que a vítima havia entrado para realizar esse programa. Tratava-se de um Volkswagen cor preta. Foi feita uma campana no local e assim que o dono do veículo chegou foi dada voz de prisão”, disse o delegado.

 

“Ele ali mesmo já confessa toda a dinâmica criminosa”, completou.

 

De acordo com Jorlan, o crime aconteceu durante uma suposta briga.

  

“Ele havia contratado a vítima levado à sua casa e, por algum motivo, que ele não nos explicou, ele acabou entrando em vias de fato e ceifou a vida da vítima”, disse o delegado.

 

Ouça o áudio abaixo:

 

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