Educador: influencers colocam saúde de corredores em risco

Uma das atividades esportivas mais antigas do mundo, a corrida voltou a ser um dos hobbies mais praticados no Brasil, isso em parte pelo aumento do número de influenciadores que iniciaram na prática e promovem esse estilo de vida.

Qualquer um pode praticar a corrida, tanto é que hoje a prática cresceu muito. Porém, eu vejo exagero por parte de muitos influenciadores

Por ser uma atividade saudável, de baixo custo e que permite ao praticante conhecer vários lugares, a corrida ganha cada vez mais adeptos e, alguns, chegam a realizar o sonho de correr uma maratona. 

Ao MidiaNews, o educador físico e atleta Herbson Almeida, especialista em atletismo com foco em corrida, defendeu que a prática pode ser exercida por todos – salvo aqueles que têm contraindicações médicas -, mas ressaltou que o desempenho do praticante ocorre de forma progressiva e a longo prazo.

Dessa forma, ele entende que alguns influenciadores têm incentivado a prática de forma irresponsável quando se expõem, com pouco tempo de treino, participando de torneios de 21 km, conhecidos como meia maratona.

“Qualquer um pode praticar a corrida, tanto é que hoje a prática cresceu muito. Porém, eu vejo exagero por parte de muitos influenciadores. O corpo precisa de maturidade, de muito treino para chegar a esse volume de 21 km”, disse Herbson.

“A galera começa com 5 km e já quer ir para 21 km. Não é bem assim. O corpo precisa se adaptar e ganhar resistência para fazer essa quilometragem de meia maratona. Quando eles fazem isso, quem segue é influenciado”.

Uma pesquisa publicada no periódico Brazilian Journal of Health Review aponta que a maior parte das lesões ocorridas durante a corrida está relacionada com o excesso de quilometragem percorrida semanalmente, e a má construção ou modificação abrupta dos treinamentos.

Assim como a musculação, o crossfit e outras modalidades, é importante que os novos adeptos sejam acompanhados de profissionais qualificados. Isso porque, apesar de ser uma atividade que atende todos os públicos, é necessário um treino adequado, que também inclui o fortalecimento dos músculos.

“Esses influenciadores aumentam o volume [de quilometragem] repentinamente, e os seguidores entendem que podem aumentar também. Não fazem trabalho de musculatura para suportar os impactos, não fazem preparação fisica, correm todos os dias. Isso leva à lesão fácil”, explicou.

“Muitas pessoas não tem conhecimento e acreditam que só acompanhar os influenciadores é suficiente, mas não veem que eles fazem pela lente. As lesões mais frequentes que vemos são nos posteriores de coxa, rompimento de fibra de panturrilha, no tornozelo, e desalinhamento de quadril, por causa do impacto”.

Dessa forma, outro ponto importante elencado por Herbson é que quem deseja iniciar na corrida, ou qualquer outra atividade física, realize check up médico. A rotina de exames ainda deve ser feita de tempos em tempos, para identificar qualquer alteração antes que se torne um problema mais grave.

Por onde começar?

Passada a etapa de conscientização sobre a prática, o educador físico deu dicas para quem deseja começar a correr e explicou que a atividade é uma excelente parceira do emagrecimento e da saúde mental.

“O principal é ter calma e saber trabalhar o psicológico, porque é um esporte de você contra você, o tempo todo. É preciso ter paciência para alcançar resultado, porque ele não vem de uma hora para outra”, explicou.

“Algumas pessoas pensam que vão iniciar a corrida hoje, e amanhã estarão correndo numa velocidade alta, percorrendo uma quilometragem maior, mas isso acontece a longo prazo”.

Os iniciantes podem ainda se deparar com algumas intercorrência durante a prática, como a conhecida canelite, inflamação que atinge os tendões, músculos e o osso da tíbia, localizados na canela.

Caso isso ocorra, não é necessário alarde e pensar que precisará abandonar a corrida, porém o diagnóstico e tratamento são fundamentais para retornar à atividade e evitar uma lesão mais grave.

Conforme Herbson, essa inflamação pode ser causada pelo impacto e também a pisada errada. Nesse sentido, entra a questão da escolha dos tênis. Apesar de ter ganhado popularidade, também por meio dos influenciadores, os tênis com placa de carbono não são indicados para iniciantes.

“Existem tênis específicos, apropriados para corrida, que tem espumas de amortecimento e são indicados para iniciantes e intermediários. É bom ter um tênis que seja, acima de tudo, confortável. Já os que têm placa de carbono são indicados para atletas veteranos, principalmente os de elite”, disse.

“A placa de carbono ajuda na impulsão, na responsividade de velocidade e numa recuperação mais rápida, porque eles precisam que toque o solo mais rápido. Aos iniciantes, eu não indico pela possibilidade de causar uma lesão”.

Por último, mas não menos importante, Herbson falou sobre dois termos pertencentes ao mundo da corrida: core e pace. Conforme o educador físico, o primeiro é muito exigido durante a atividade, pois consiste na região que da sustentabilidade ao corredor.

O core é formado, de forma geral, por músculos localizados no posterior de coxa, abdomen, lombar e glúteo. Então, ter um treinamento específico para fortalecer essa região é essencial para progredir na corrida. Já o pace é simplesmente o tempo percorrido por quilômetro. 

Agora, com essa aula básica de corrida, que tal se aventurar na atividade? Em Cuiabá, é preciso se atentar com os horários de exposição ao sol, ou se preferir, também optar pela corrida indoor, nas esteiras.