Projeto piloto de turismo indígena começa a ser desenvolvido na Ilha do Bananal
Agência da Notícia
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura (Seden) é parceira em uma iniciativa inédita da Fundação Nacional do Índio (Funai), que visa o ordenamento turístico na Ilha do Bananal. Desta forma, as etnias Karajá e Javaé poderão ter maior controle sobre a presença de turistas na região, que já é uma realidade, bem como desenvolver todas as suas potencialidades culturais e ambientais como produtos turísticos.
A demanda indígena por projetos de desenvolvimento neste setor não é uma novidade. Lideranças de diversas etnias tocantinenses já vinham buscando a Seden para fortalecer este apoio. Em 2016, foram realizadas reuniões com diversas instituições governamentais, estadual e federal, além de sindicatos trabalhistas, Prefeituras e comunidades indígenas com o intuito de estabelecer parcerias e executar um plano de trabalho voltado para o desenvolvimento do etnoturismo na Ilha do Bananal. Em 2017, foram realizadas novas reuniões com a Funai para elaboração de propostas de atuação conjuntas na localidade, com vistas ao desenvolvimento territorial, produtivo, ambiental, econômico e sociocultural.
O trabalho de campo teve início no final do mês de junho, com a presença de técnicos da Funai, um consultor, além de dois representantes da Seden, o diretor de Planejamento e Projetos Estratégicos, Marcos Miranda, e o chefe do Núcleo de Base Comunitária, o economista José de Ribamar Félix.
Foram percorridos aproximadamente 3 mil km na Ilha, quando foram realizados encontros em aldeias Karajá e Javaé. O trabalho inicial de sensibilização de caciques, líderes tradicionais e representantes de associações reuniu de 20 a 40 pessoas a cada encontro. Nova viagem será realizada, em breve, para atender as demais aldeias. Também foram contatadas as prefeituras de São Félix do Araguaia e Santa Terezinha (MT), que aceitaram o convite para integrar esta parceria, que também envolve articulações junto ao órgão de turismo do Mato Grosso.
Conforme informações da Funai, a receptividade entre os caciques foi muito positiva, havendo interesse pelo imediato desenvolvimento do projeto.
Segundo José de Ribamar, após a conclusão das rodadas de conversa será elaborado um plano de ordenamento inicial. Caberá ao consultor contratado pela Funai realizar o diagnóstico e mapeamento de potencialidades turísticas na Ilha do Bananal, um trabalho que deverá ser concluído em 10 meses, com a realização de visitas técnicas e oficinas.
Após o término da consultoria a Seden, juntamente com as comunidades indígenas e parceiros irá elaborar e desenvolver os projetos que atenderão as aldeias, separadamente ou em conjunto, conforme decisão das lideranças indígenas.
Potencial
Cultura tradicional e meio ambiente são os grandes atrativos dos povos da Ilha do Bananal. Com área de cerca de 25 mil km², é considerada a maior ilha fluvial do mundo, localizada no Tocantins, entre os rios Javaés e Araguaia, nas divisas com Goiás e Mato Grosso. Com grande potencial para a pesca esportiva, a região tem atraído pescadores de todo o país, atraídos por mais de 300 espécies de peixes ali existentes.
Classificada pela organização das Nações Unidas para e Educação (Unesco) como reserva da biosfera, a ilha possui fauna e flora intocadas que lembram em parte a Floresta Amazônica e o pantanal mato-grossense. Na maior parte do ano, grande parte da ilha fica inundada. Para se entrar na ilha é necessária a autorização das lideranças indígenas e ainda do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), que mantém um escritório em Pium, ou da Fundação Nacional do Índio (Funai), cuja sede está localizada em Palmas, havendo escritório também em São Félix do Araguaia (MT).
Culturalmente, os Javaé e Karajá preservam importantes festas tradicionais, como o Hetohoky (lê-se Retorrokã, que significa Casa Grande), uma grande festa que envolve jovens e suas famílias.
A riqueza do artesanato das duas etnias se traduz por uma grande variedade de peças, entre utilitárias, decorativas e bijuterias produzidas com argila, fibras, cabaças, madeira, sementes e coloração com frutos, carvão e barro. As mais famosas são as bonecas Ritxòkò, certificadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural do Brasil.