Cabo entrega transferências bancárias a juiz e contrapõe empresário que montou sistema em MT

Folhamax

A defesa do cabo da Polícia Militar (PM), Gerson Corrêa, réu numa ação que apura a prática de interceptações telefônicas ilegais no Estado, juntou ao processo dois comprovantes de transferências bancárias no valor de R$ 33 mil que teria realizado ao empresário José Marilson da Silva, apontado como o desenvolvedor e “arquiteto” do sistema de grampos telefônicos conhecido como “Sentinela”. A informação consta de uma petição assinada pelos advogados do cabo PM, Neyman Monteiro e Thiago Abreu, no dia último 3 e pode complicar a vida de José Marilson da Silva, que declarou em depoimento à Justiça em fevereiro deste ano que recebeu “apenas” R$ 24 mil pelo serviço e que faltariam outros R$ 36 mil.

Corrêa alega que recebeu R$ 50 mil em 2014 do advogado Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques (PSDB) e coordenador jurídico da campanha vitoriosa do então candidato em 2014, para “montar” a central clandestina de interceptações ilegais. A defesa de Gerson Corrêa, um dos principais operadores do esquema de escutas telefônicas em Mato Grosso que ficou conhecida como “Grampolândia Pantaneira”, solicitou ainda um novo depoimento de José Marilson à Justiça.

O pedido está sob análise do juiz da 11ª Vara Militar de Cuiabá, Murilo Mesquita, e ainda não possui decisão. “Em tempo oportuno, protesta pela juntada dos inclusos comprovantes de transferência bancária para a empresa de propriedade da testemunha José Marilson da Silva, tornando necessário sua reinquirição conforme precedente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso”, diz trecho da petição.

No depoimento em fevereiro de 2018, José Marilson da Silva negou ainda que tivesse conhecimento do “Sentinela”, nome dado ao sistema de interceptações telefônicas clandestinas , e que o custo total do serviço, incluindo hardware e software, ficou em R$ 60 mil. José Marilson da Silva chegou a ser preso durante e deflagração da operação “Esdras”, no dia 27 de setembro de 2017, período em que a Polícia Judiciária Civil conduzia um inquérito que apurava a participação de civis no esquema de grampos ilegais.

Ele foi solto pouco depois, em 4 de outubro daquele ano, por determinação do desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), Orlando Perri. No entanto, no mesmo mês de outubro de 2017, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Campbell Marques, avocou os autos à instância superior pela suspeita de participação do governador Pedro Taques no esquema.

Desde então, o TJ de Mato Grosso tem realizado atos processuais referentes apenas aos policiais militares envolvidos nas escutas ilegais. A “Grampolândia Pantaneira” ganhou as manchetes dos meios de comunicação após duas reportagens do programa Fantástico, da Rede Globo, veiculadas em maio de julho de 2017.

Jornalistas, médicos, advogados, políticos e até uma amante do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, sofreram interceptações telefônicas clandestinas que teriam sido feitas por policiais militares. De acordo com investigações a alta cúpula da gestão Pedro Taques, bem como oficiais de prestígio na PM – como coronéis e tenentes-coroneis -, estariam envolvidos na fraude.