O Aquífero Guarani está entre nós

Dia desses visitando a poeta Maria Ligya de Borges Garcia, a nossa eterna primeira dama do Estado de Mato Grosso. Mulher inteligente e portadora de conhecimentos culturais e intelectuais e de grande sabedoria fiquei muito feliz quando ela disse “Neila estou relendo o seu livro Água de Beber no espaço de Cuiabá pela segunda vez e achei falta de uma possível informação sobre o Aquífero Guarani, em Mato Grosso. Chegando em casa foi buscar a sua indagação.

 

O livro “Água de Beber” informa que na América do Sul, a parte que foi a América portuguesa durante três séculos, depois o Império brasileiro e é hoje a República do Brasil, contém 20% de toda a água doce superficial da terra. Uns 80% desse volume fica na Amazônia, principalmente a brasileira, e porção significativa do restante fica na bacia Platina, também em grande porção no Brasil. Mas o estoque hídrico brasileiro não é apenas de águas superficiais: 70% do aquífero Botucatu/Guarani, um dos maiores do mundo, com área subterrânea de quase 1,2 milhão de quilômetros quadrados, está em território brasileiro.

 

Então, esse gigantesco manancial debaixo da terra entre o Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, espalha por 1,2 milhão de quilômetros quadrados, área superior aos territórios de França, Espanha e Inglaterra, cujo nome é uma homenagem às sociedades indígenas que habitavam a região. A maior parte da sua área, 840 mil quilômetros quadrados, está em território brasileiro, espalhando-se pelo subsolo do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

 

Faltou a localização desse aquífero especificamente em Mato Grosso no livro Água de Beber. Fui em busca da informação. Liguei para o meu parceiro das águas, o engenheiro Noé Rafael da Silva e disse, temos tarefa dada por dona Maria Ligya. Juntos, partimos para as pesquisas e, encontramos as informações. Uma parte do Aquífero Guarani está situado em Chapada dos Guimarães-MT, aqui pertinho de nós. A responsabilidade do município ainda é maior na preservação dessa água.

 

Talvez poucas pessoas saibam que uma parte do município de Chapada dos Guimarães-MT, está situado sobre o Recurso Hídrico subterrâneo denominado Aquífero Guarani. As águas subterrâneas são recursos hídricos que se encontram sob a superfície terrestre, preenchendo completamente os poros das rochas e dos sedimentos, constituindo os aquíferos que, abastecem rios e poços artesianos utilizados como fonte de água para consumo humano que também demandam cuidados para evitar a sua contaminação.

Esse longo período de estiagem, o uso crescente da água para consumo humano e a agropecuária, ameaçam esses aquíferos e coloca o assunto como urgente na agenda ambiental do Estado de Mato Grosso, informou o eng. Noé Rafael da Silva. É uma reserva de água doce com cerca de 1,2 milhão de km² de área e com uma capacidade de armazenamento de até 160 trilhões de litros de água, podendo alcançar a espessura de até 450 metros nas áreas centrais da Bacia, passando pela Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai. A maior parte ,70% ou 840 mil km², da área ocupada pelo aquífero está no subsolo do Brasil.

 

Uma parte desse aquífero está localizado no município de Chapada dos Guimarães-MT, em Mato Grosso, cujo solo é composto por arenito, que funciona como uma esponja que abastece esse manancial subterrâneo. Quando chove, o arenito se enche de água, e quando não chove, ele libera a água aos poucos para os rios. Por exemplo, a fonte de água mineral Excelência, sua captação a 230 metros de profundidade, localizada nas coordenadas geográficas 15º23’09”S e, 55º32’58”W, na Rodovia MT 251, Km 21, a Fazenda Ipê Roxo, cerca de 30 km da cidade de Chapada dos Guimarães, é abastecida pelo Aquífero Guarani, informou o engenheiro. É necessária a proteção ambiental dessa região.

 

Em Chapada dos Guimarães, a “Bica das Moças”, Água Mineral Lebrinha, brotando do solo a mais de 350 metros de profundidade, está situada na Rodovia Emanuel Pinheiro a 1Km de distância do centro da cidade. Sua água advém da formação Furnas/Ponta Grossa. Os principais afluentes perenes da margem direita do rio Coxipó constituem afloramentos do Aquífero Guarani e têm suas nascentes no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães: córrego Mata Fria, córrego Salgadeira que recebe o córrego Paciência e encontra-se com o rio Claro antes de desaguar no rio Coxipó, informa o engenheiro. É importante informar a população sobre os cuidados que devem ter com essas nascentes.

 

A maior parte da água existente hoje nas porções confinadas do Aquífero Guarani é oriunda da infiltração da água meteórica ocorrida há centenas ou milhares de anos nas áreas de afloramento. Existe uma voracidade do homem pelo consumo que, sem controle, poderá acarretar em problemas sérios nos próximos 50 anos em cidades que são abastecidas pelo manancial. A educação ambiental nas escolas deve ser disciplina obrigatória para que gerações futuras não pereçam.

 

A falta de ações efetivas para evitar a atual super exploração do Aquífero Guarani, um dos maiores do mundo, pode tornar o uso da água do manancial inviável dentro de meio século. Pelo menos cem cidades brasileiras são abastecidas pelo Guarani, segundo a Agência Nacional de Águas – ANA. A preservação desse reservatório de água é de extrema importância não só para manter os níveis como também para o abastecimento público, uma vez que pode ser consumida sem tratamento arrojado. Recomenda-se que antes de fazer o uso da água dos aquíferos subterrâneos, deve consultar um especialista na área do meio ambiente, buscando orientação e dessa forma evitar a contaminação desse manancial subterrâneo, explicitou o eng. Noé Rafael.

 

O governo do Estado de Mato Grosso e os seus órgãos ambientais responsáveis devem monitorar o uso da água na região do Aquífero Guarani em Chapada dos Guimarães como um alerta para o futuro do meio ambiente e da água de beber para a população, flora e fauna. Não custa nada. A água está lá, basta proteger, afinal o corpo humano é formado de 70% de água. Sem água para beber é o fim de todos.

 

Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.



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