“Se Mendes eleger Botelho, vai quebrar tradição de cinco eleições”

O historiador Alfredo da Mota Menezes afirmou que se o candidato a prefeito de Cuiabá Eduardo Botelho (União) for eleito, o governador Mauro Mendes (União) quebrará uma espécie de tradição de chefes do Executivo estadual não elegerem seus apoiados na Capital.

 

Nas últimas cinco eleições, nenhum governador conseguiu eleger o prefeito da Capital, mas tem muita chance que esse padrão seja quebrado pelo Mauro 

Segundo Menezes, os governadores não conseguiram eleger seus apoiados para prefeito nas últimas cinco eleições.

 

“Nas últimas cinco eleições, nenhum governador do Estado conseguiu eleger o prefeito da Capital, mas tem muita chance que esse padrão seja quebrado pelo Mauro com o Botelho. O Mauro tem uma aprovação muito boa em Cuiabá e no Estado”, disse em entrevista ao MidiaNews.

 

O historiador também disse que o alinhamento entre Botelho e Mendes será peça importante para recuperar as finanças de Cuiabá, que enfrentam uma dívida estimada entre R$ 1,7 bilhão e R$ 2 bilhões.

 

Ele acrescentou que o desalinhamento com o Governo do Estado é uma das marcas deixadas pela gestão do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB). Ele, contudo, afirmou que a principal “mancha” na carreira política do gestor se consolidou pelas investigações policiais e suspeitas de corrupção na Secretaria Municipal de Saúde.

 

Alfredo, ainda, disse que os vereadores aliados de Emanuel terão dificuldades de se reelegerem. Além disso, previu distanciamento entre o prefeito e o legislativo municipal a partir do ano que vem.

 

Confira os principais trechos da entrevista:

 

MidiaNews – Cuiabá vem de um histórico em que as últimas seis eleições foram decididas no segundo turno. A que atribui esse cenário?

 

Alfredo Menezes – Vou falar o óbvio: se vai para o segundo turno, é porque tem pelo menos duas candidaturas competitivas, que o eleitorado acredita. Se olharmos, os últimos anos têm levado a isso.

 

Até acrescentaria um dado. Nas últimas cinco eleições, nenhum governador do Estado conseguiu eleger o prefeito da Capital. Blairo Maggi teve dois mandatos e não elegeu, assim como Silval Barbosa, Pedro Taques e depois o Mauro Mendes.

 

Se o Mauro eleger Eduardo Botelho, que é do União Brasil, estaria quebrando uma tradição de cinco eleições em que governadores não conseguiram eleger seus candidatos.

 

MidiaNews – Em sua análise, há um palpite de quem vai para o segundo turno?

 

Alfredo Menezes – As pesquisas mostram em que altura os candidatos estão. Também tem as conversas do cotidiano, de quem vive aqui, e todo mundo acredita que terá segundo turno.

 

Há uma pergunta correndo por causa das pesquisas: quem você acha que vai para o segundo turno com Botelho? Parte das conversas já estão colocando Botelho no segundo turno. Aliás, as pesquisas mostram que vai ter segundo turno com o Botelho.

 

Você percebe que o Botelho não está batendo tanto no Lúdio, ele está polarizando com o Abílio. Ele imagina que irá para o segundo e se for com Abílio, terá a maioria dos votos da esquerda, do Lúdio, que não votam na direita.

 

É isso que está sendo muito conversado. O Botelho tende a estar no segundo turno e a pergunta é: quem vai para o segundo turno com ele?

 

MidiaNews – Muitos atores políticos avaliam que Botelho teria vantagem em um eventual segundo turno, porque herdaria a maioria dos votos do Abílio ou do Lúdio. Isso por causa da ojeriza mútua que existe entre bolsonaristas e lulistas. 

 

Alfredo Menezes – Em tese, se o Botelho vai para o segundo turno com Lúdio, concordamos que a maioria dos votos do Abílio vai para o Botelho. Se o Botelho vai para o segundo turno com Abílio, a maioria dos votos da esquerda vai para o Botelho.

 

Para mim e para qualquer um, está claro que, se o Botelho for para o segundo turno, com Lúdio ou Abílio, acaba levando a maior parte dos eleitores.

 

 

MidiaNews – Isso seria um trunfo na campanha do Botelho?

 

Alfredo Menezes – Acho que sim e ele está usando isso, principalmente ao polarizar com o Abílio. Acho que ele está fazendo conscientemente, isso é marketing.

 

Quer ver outro detalhe que está na cara? Conscientemente, o Lúdio está tentando afastar a propaganda eleitoral do PT, porque o PT em Mato Grosso, Cuiabá, Várzea Grande não tem a força que tem em outros lugares. É um Estado mais conservador, do agro.

 

Um dado interessante dessa campanha é o Lúdio, que é petista a longo tempo, tentando se afastar do PT, porque o PT acaba não o ajudando na eleição.

 

MidiaNews – Há pesquisas que mostram a grande aceitação ao governador Mauro Mendes. O senhor vê possibilidade de ele quebrar o padrão e eleger Botelho?

 

Alfredo Menezes – Tem chance. O Mauro tem uma aprovação muito boa em Cuiabá e no Estado. Na última eleição, o candidato que o Mauro apoiou [Roberto França] não ganhou em Cuiabá.

 

O Blairo Maggi, que foi governador de dois mandatos, estava em boa situação como governador e não conseguiu eleger, mas tem muita chance que esse padrão seja quebrado pelo Mauro com o Botelho.

  

Há uma tendência sim de quebrar a tradição.

 

 

MidiaNews – O candidato Domingos Kennedy é, frequentemente, visto como apadrinhado pelo prefeito Emanuel Pinheiro e se mostra o menos popular nas pesquisas. Acha que ele é prejudicado por defender o prefeito?

 

Alfredo Menezes – Nas propagandas do Kennedy, nem tanto ele está defendendo o legado de Emanuel. Ele fala mais dele, que é empresário, tem experiência na vida, pode fazer melhor e aquela coisa toda. Não está defendendo abertamente a administração do Emanuel.

 

O Kennedy, que é do MDB, um partido forte aqui e no Estado, saiu muito tarde. Não como candidato, mas como nome ventilado. Ele poderia estar há mais de um ano falando “posso ser candidato”, dando entrevista, se mostrando. Ele é vencedor como empresário.

 

Saiu muito em cima da bucha, como se diz. Não está dando tempo. O MDB tem menos coligações e por isso menos tempo de TV. Então, o tempo do Kennedy não é tão grande para que mostre quem é na questão empresarial, mas é um bom nome.

 

MidiaNews – O Abílio tem uma representação forte do lado bolsonarista, enquanto Lúdio tem do lado lulista, mas os dois não conseguiram liderar as pesquisas eleitorais. Por que isso acontece?

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Alfredo da Mota

O historiador considerou que a amplitude das coligações partidárias exerce grande influência sobre a disputa eleitoral

 

Alfredo Menezes – Em Mato Grosso, a polarização é forte entre Bolsonaro e Lula. O Botelho vem há muito tempo trabalhando nessa direção de candidatura, [ele era] presidente da Assembleia, [vem] sabendo vender bem a imagem dele, [é] apoiado pelo Mauro, a coligação do Botelho é a maior.

Se olharmos, o Botelho também tem o maior número de candidatos a vereadores por causa da maior quantidade de partidos que está com ele. Para levar o nome dele para a comunidade, ele tem recursos, candidatos a vereadores, a presença do Mauro Mendes. Isso está dando força.

 

Quantos candidatos a vereador tem o Lúdio? Quantos tem o Abílio? Acredito que o Botelho tem o maior número e, com certo recurso, ou seja, distribuir o mínimo para cada candidato a vereador para andar nos bairros, dá um impulso danado à candidatura.

 

MidiaNews – O senhor mencionou o afastamento do Lúdio em relação à imagem do PT e do Lula. Acha que o partido virou um estorvo em Mato Grosso?

 

Alfredo Menezes – Não. Vamos fazer um paralelo com a eleição entre Lula e Bolsonaro. O Bolsonaro teve cerca de 65% dos votos em Mato Grosso e também na Grande Cuiabá. Isso mostra que nosso Estado é mais conservador.

 

Dá para puxar para o lado de cá. O Lula não ganhou do Bolsonaro em Mato Grosso, acho que a Dilma, lá atrás, também não ganhou porque há aquele receio do MST, se o PT vai dar suporte, se o pessoal pode entrar nas terras… O homem do agro não quer saber disso e há uma tendência a apoiar mais o outro lado em cidades como Sinop, Lucas [do Rio Verde] a presença do PT é menor.

 

MidiaNews – Uma questão criticada dentro da Federação Brasil da Esperança, da qual o PT faz parte, é a infidelidade partidária. Vemos membros que não apoiam candidatos do grupo e não “vestem a camisa”. O Lúdio se afastar da imagem do PT não seria infidelidade partidária?        

 

Alfredo Menezes – Vamos ver como a direção do PT vai reagir a essa maneira que o Lúdio está fazendo campanha, mas em termos de ser punido ou não pelo partido, não acho que chega a esse ponto, porque ele não esculhamba o PT. Ele está procurando se afastar.

 

Ele deve ter pesquisa de consumo interno que mostra que a imagem do PT não é tão boa nessa região. Vamos imaginar que Lúdio vá para o segundo turno… Tem dito Brasília que, principalmente nas capitais e grandes cidades, o Lula iria. O Lúdio não aceitaria Lula aqui? Claro que aceitaria. Neste momento, iria carimbar como petista, sem dúvida. Neste momento, não é bom, mas em outro pode ser.

 

MidiaNews – Esse afastamento se mostra uma estratégia sagaz?

 

Alfredo Menezes – Acredito que ele deve ter pesquisa de consumo interno. Não é aquela que se mostra à opinião pública. Os marqueteiros devem ter mostrado que associar a candidatura ao PT não seria bom.

 

Ele não deve estar fazendo aquilo [afastamento] no horário gratuito sem ter pesquisa que indicasse aquele caminho, inclusive para argumentar junto ao diretório e aos petistas. 

 

Aquela senhora falando “não sou petista, mas voto em você” no horário gratuito, sendo repetida várias vezes, é muito forte.

 

MidiaNews – A gestão do prefeito Emanuel Pinheiro foi marcada por uma série de investigações policiais por corrupção, desvios na Saúde, obras inacabadas… Qual será o legado desses últimos oito anos?

 

Alfredo Menezes – Eu tenho impressão que o grande pecado do Emanuel será, politicamente e para o futuro, a questão da Saúde. Foram mais de 18 ações na Secretaria Municipal de Saúde. Quantos secretários foram acusados… O prefeito não conseguir, nesses 8 anos, tirar essa questão, por mais que ele tenha tentado…

 

A questão da Saúde acabou machucando politicamente o Emanuel. Não tenhamos dúvida disso. Se você falar de Educação, terá que analisar se cresceu no Ideb, se não cresceu.

 

A Saúde foi o calcanhar de Aquiles da administração Emanuel Pinheiro. Isso pode trazer consequências eleitorais para ele lá na frente.

 

Ele sai [da gestão] agora em 2024. O que Emanuel fará politicamente em 2026? Sairá para uma candidatura? Qual? O filho dele já é deputado federal duas vezes, ele não vai tirar o filho para ser candidato.

 

Ele voltará para ser candidato a deputado estadual – que ele já foi – depois de ser prefeito? Não vai. Vai peitar alguém em 2026 para o Senado, que estão dizendo que é Mauro Mendes, Carlos Fávaro, Janaina Riva? O que ele fará em 2026? Isso é uma pergunta interessante desse momento.

 

Ele vai para casa? Qual cargo ele disputa? Estadual, federal, Senado, Governo do Estado… Acho que, para essa eleição de 2026, Emanuel levará nas costas a questão da Saúde.

 

 

MidiaNews – O desgaste jurídico da gestão Emanuel Pinheiro não soa como um fim de carreira na política?

 

Alfredo Menezes – Vamos ver o que o Emanuel vai fazer em 2026, porque insisto: para [um mandato] estadual, ele já foi outras vezes. Para federal, não acredito que vai tirar o filho dele, que está no segundo mandato. Para senador, tem Mauro Mendes, Carlos Fávaro, Janaina Riva… Pode sair até o Jayme Campos. É bastante abarrotado.

 

Muitos fazem a critica ao Emanuel de que ele deveria ter aproveitado como prefeito da capital em dois mandatos e ter viajado pelo Estado. Você ouviu falar que Emanuel estava em Lucas do Rio Verde fazendo política? Que estave em Barra do Garças ou Sorriso?

 

Não. Ele não fez isso, ou seja, é conhecido aqui, mas fica a impressão de que se ele quer uma candidatura majoritária em 2026, tinha que aproveitar o cargo de prefeito da capital e visitar o Estado, mas ele não fez isso.

 

MidiaNews – A mancha que pode ter sido gerada na imagem de Emanuel não é o que mais pesa para o futuro político dele?

 

Eu vou repetir esse número que vi outro dia na imprensa: entre ações [policiais] grandonas e menores, foram 18 ações envolvendo a questão da Saúde. Ele tinha que tomar conta disso, olhar para isso

Alfredo Menezes – É. Principalmente na questão da Saúde. Eu vou repetir esse número que vi outro dia na imprensa: entre ações [policiais] grandonas e menores, foram 18 ações envolvendo a questão da Saúde. Ele tinha que tomar conta disso, olhar para isso.

 

É um desgaste muito grande politicamente para o Emanuel. Você não vê, por exemplo, falar sobre desgaste do Emanuel na Educação. O saneamento está privatizado, com concessão, praticamente tudo é a questão da Saúde.

 

MidiaNews – O Emanuel enfrenta uma crise de relação com o Governo do Estado. Isso colabora para a falta de boa de reputação do prefeito?

 

Alfredo Menezes – Sim e colocando mais um dado, porque esse assunto é de grande importância para Cuiabá. Lá atrás, o Emanuel tinha que saber que ser prefeito em Cuiabá sem ter suporte de Governo do Estado é difícil.

 

Se você buscar, lá atrás o Emanuel também deu cutucada muito forte em cima do governador. Alguns acharam que Emanuel queria polarizar agora para competir lá na frente com Mauro para governador ou para o Senado.

 

Outro dia, o Tribunal de Contas fez o levantamento de que a dívida da Prefeitura de Cuiabá está entre R$ 1,7 bilhão a R$ 2 bilhões. Não foi toda [feita] durante a administração Emanuel. Se Emanuel, entrando na prefeitura, sabia que encontraria a prefeitura já com dívida… não deveria ter buscado uma aproximação maior com o governador para ter obras e investimentos?

  

A outra pergunta que se faz é: os candidatos [a prefeito] estão falando que vão fazer, mas com essa dívida toda? Como vão fazer? Se tem dinheiro para salário, para isso e aquilo, e tem que abater parte da dívida, como vão fazer o tanto de obras que estão falando?

  

MidiaNews – Faltou senso e planejamento por parte do Emanuel?

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Alfredo da Mota

Menezes afirmou que o prefeito Emanuel Pinheiro deveria ter se alinhado ao Governo do Estado para quitar as dívidas da Prefeitura de Cuiabá

 

Alfredo Menezes – Acho que sim. Ora, se não tenho recursos suficientes para pagar, a dívida vai crescer e tenho o governador do Estado, não vou acutilar, provocar. Vou buscar, através dessa ou daquela maneira, uma aproximação. Lá atrás, tinha maneiras, mas agora não tem.

 

Porque essa aproximação seria uma grande habilidade política dele sabendo como estavam os cofres municipais.

 

Vamos ver o seguinte, hipoteticamente, o Botelho ganhando [a disputa pela prefeitura], o Mauro tendo dois anos de mandato até 2026 não vai ajudar mais o Botelho na administração dele do que ajudou o Emanuel? Está na cara.

 

O que tinha que fazer Emanuel? Baixar o facho e buscar uma aproximação lá atrás com Mauro Mendes, agora não tem mais jeito.

 

MidiaNews – Vemos uma base de apoio a Emanuel consolidada na Câmara Municipal, apesar do desgaste. Acredita que esses vereadores terão dificuldade de reeleição?

 

Alfredo Menezes – Boa pergunta. Teríamos que ver as pesquisas. Eleitos todos eles ou parte deles, o Emanuel ficando em certo ostracismo político porque vai sair da Prefeitura, não buscariam aproximação com o prefeito que será eleito? Eles não vão buscar aproximação com o governador do Estado, deixando Emanuel e a “bronca” dele de lado? Acho que sim.

 

Aqueles que forem eleitos dirão “Emanuel, sou seu amigo, mas agora politicamente vou me aproximar do Lúdio; do Abílio; do Botelho”. Acredito que vai acontecer isso.

  

MidiaNews – Para isso, os vereadores precisariam se reeleger. Até outubro, a população deve fazer um senso a respeito da atual Câmara. A aliança com Emanuel não prejudicará nas urnas os parlamentares que o apoiaram?

 

Alfredo Menezes – Acredito que sim, respondendo objetivamente, porque a administração de Emanuel não está bem avaliada, mas você acha que a maioria do eleitorado, da periferia da cidade, tem claro de que “José da Silva” é vereador, engajado com Emanuel, secretário de Emanuel e que tinha um carimbo na testa de [ser do grupo de] Emanuel? Acho que não chega a isso. Quando apareceu e cresceu o desgaste de Emanuel, você pode ter certeza que esse vereador hipotético, naquele bairro, se a comunidade estava se voltando contra Emanuel, ele não brigaria a favor. Ele não vai dar murro em ponta de faca.

 

Por exemplo, você acha que o Emanuel tem força para eleger quantos vereadores? Difícil dizer, porque como prefeito de dois mandatos, ele poderia falar “vou eleger tantos vereadores”, mas ninguém sabe disso.

 

MidiaNews – Essa relação entre vereadores, Emanuel e cidadãos passa também pela quantidade de conhecimento político que o pessoal da periferia tem?

Tenho um bom relacionamento com Emanuel, mas agora ele não é um bom cabo eleitoral. Não é para a maioria das vereadores ou ao candidato dele a prefeito

Alfredo Menezes – Eu entraria por esse viés também, de saber se aquele “José da Silva”, é vereador 100% Emanuel ou que o candidato está se desvinculando. Pode ser até combinado com Emanuel, como “Emanuel, a coisa está feia lá no bairro, vou dizer que você é tal… Para tentar ganhar esses votos”.

 

Tenho outra pergunta, será que a maioria do eleitorado, preocupado com seu dia a dia e tudo mais, consegue e tem tempo para vincular seu candidato a vereador ao Emanuel? Será que ele conhece mesmo um vereador?

 

Tenho um bom relacionamento com Emanuel, mas agora ele não é um bom cabo eleitoral. Não é para a maioria das vereadores ou ao candidato dele a prefeito.

 

MidiaNews – A respeito dos debates eleitorais, tem sido comentada – especialmente após as confusões em São Paulo – a possibilidade de proibir candidatos de fazerem perguntas entre si a fim de evitar troca de ofensas e tumultos. Defende esse modelo?

 

Alfredo Menezes – Do jeito que está, está complicado. Não é complicado nessa eleição, vem complicado faz tempo. Tem candidato, não vou citar nomes, que tem habilidade enorme de provocar. Fala bem, provoca e tem eleitor que gosta disso.

 

Talvez o modelo de que perguntas por duas ou três pessoas dirigidas a eles irá diminuir o choque entre eles. Aquela cadeirada [do Datena no Marçal] saiu na televisão no exterior, foi mostrado que, em um debate no Brasil, chegou a esse ponto, ou seja, até a imagem política no Brasil, com uma maluquice daquela, é ruim.

 

Agora teve outro debate e deram um murro na cara de alguém, que ficou todo ensanguentado. Não pode chegar a esse ponto. Se continuar dessa maneira, não sei o que vai acontecem em 2026.

 

MidiaNews – Acredita que os eleitores ainda definem o voto com base nos debates?

 

Alfredo Menezes – Acho que ajuda, mas não é o debate que define.

 

Vamos tentar fazer um paralelo “meio louco”. Nos Estados Unidos, a Kamala Harris e o Donald Trump estão “orelha a orelha”. Um debate pode ajudar a definir quem sai melhor. Não acho que, no Brasil, com os debates e o tanto de candidatos, possa definir.

 

Acho que é associado ao número de vereadores que apoiam o candidato do Executivo, a quantidade de recursos que ele tem, a proposta que ele está [trabalhando], como ele se sai… Ou seja, uma série de fatores, não exclusivamente o debate. O horário gratuito também é importante. 

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Alfredo da Mota

O historiador defendeu que as redes sociais sejam utilizadas com sabedoria para não prejudicar a imagem dos candidatos

 

MidiaNews – Parece que os debates são mais eficientes para conquistar o voto de um grupo específico de eleitor, aquele que não tem contato corpo a corpo com o candidato. Acha que o debate atinge uma camada mais específica da sociedade?

 

Alfredo Menezes – Sim e, de jeito nenhum, posso dizer que o debate não ajuda esse ou aquele candidato. Ajuda. O que pontuo é que não são os debates que definem quando se tem 4, 5 ou 6 candidatos em uma eleição.

 

Posso acreditar, sendo repetitivo, que o debate bem feito pode definir, mas não com a quantidade de gente que tem em São Paulo, aqui [em Cuiabá].

 

MidiaNews – Outro elemento importante das eleições são as redes sociais. Elas estão tendo um peso maior do que os debates?

 

Alfredo Menezes – Deveria ter uma boa pesquisa sobre isso. Acho que a rede social hoje pode ter um alcance maior do que um ou dois debates, porque é 24h por dia, o tempo inteiro que se pode atingir o eleitor, enquanto os debates são um ou dois.

 

Tem muita gente que, quando é debate, desliga [a TV], porque acha ruim que atrapalhou a novela, mas hoje a mídia social é uma arma de campanha extraordinária, que entrou para valer.

 

A Justiça Eleitoral está olhando por causa das fake news, deep fakes. É uma arma sensacional em campanhas eleitorais, não existia isso antes.

 

MidiaNews – Acha que os debates como uma proposta mais imediata, enquanto as redes sociais consolidam a imagem do candidato perante ao eleitor?

 

Alfredo Menezes – Sim, mas o candidato pode colocar na mídia social a parte boa do debate. Em São Paulo, para dar exemplo, o Marçal é excelente de mídia social. Ele [colocou as próprias imagens] no hospital, com máscara de oxigênio e pegou mal, bateu errado.

 

Alguém falou “uma cadeirada que nem pegou e está lá [com máscara de oxigênio]”, ele recuou e disse que não foi [tanto impacto da cadeirada]. Tem que saber usar bem a mídia social.

 

MidiaNews – Entende que uma candidatura agressiva como a de Marçal será uma tendência daqui para frente?

 

Alfredo Menezes – Não digo tendência, mas temos em momentos diferentes da história brasileira e aqui mesmo candidatos mais agressivos, outros menos agressivos.

 

O Marçal está em um patamar mais elevado de agressividade, mas sempre tivemos candidatos agressivos e outros menos, sem dúvida nenhuma. Ele está sabendo usar isso muito bem, mas interessantemente: está em terceiro lugar nas pesquisas em São Paulo e não sai dali.

 

Que tem um eleitorado que gosta daquele estilo, tem, que gosta do estilo agressivo de uns [candidatos] de Mato Grosso. Tem mesmo pessoas que votam nessa direção, mas não acho que define eleição.

 

MidiaNews – Não acha que é o caso de a Justiça Eleitoral pensar ferramentas de regulamentar o comportamento dos candidatos?

 

Alfredo Menezes – Eu acho que ela fará isso. Acredito que, depois dessas eleições, [a Justiça Eleitoral] caminha para uma regularização maior sobre os debates. Acredito, porque não pode entrar cadeirada e xingamentos na casa das pessoas. Acredito que terá uma regulamentação maior a respeito disso pela Justiça Eleitoral de agora para frente.

 

 

MidiaNews – Há o entendimento de que as eleições deste ano são projeções para eleições futuras, como a de 2026, especialmente em relação ao fortalecimento de grupos. Também vê dessa forma?

 

Alfredo Menezes – Sempre foi assim. Décadas atrás, a eleição sempre foi assim. Procurar eleger o maior número de prefeitos dentro do grupo político, de vereadores para que esses sejam cabos eleitorais dos candidatos a [deputado] federal, senador e governador. Até para presidente da República.

 

Vamos focar na questão estadual. Esse é mesmo o momento em que, por exemplo, deputados estaduais e federais investem nessas candidaturas. Investem tempo, atenção, até recurso porque, se eleito aquele prefeito e aqueles vereadores, em tese apoiará a candidatura em 2026. Essa eleição é básica para a eleição de 2026, para a classe política, por isso se dedicam e viajam tanto.

 

MidiaNews – Em conversas com a imprensa, grandes nomes da política dizem que ainda não estão pensando sobre 2026, mas vira e mexe há conversas de bastidores sobre movimentações para a próxima eleição. Essas declarações seriam uma “máscara” para fortalecer a estratégia?

 

A classe política termina uma eleição e, no outro dia, já está pensando na outra. Esse negócio de falar que está há dois anos… Ela está falando nisso o tempo inteiro, há quatro anos. Não há dúvida disso

Alfredo Menezes – Eu tive um tempo de atuação partidária, fui secretário-geral do MDB, presidente do PSDB estadual quando Dante de Oliveira era governador. Por que estou dizendo isso? Porque tive oportunidade de conviver muito bem, em uma boa, com a classe política.

 

A classe política termina uma eleição e, no outro dia, já está pensando na outra. Esse negócio de falar que está há dois anos… Ela está falando nisso o tempo inteiro, há quatro anos. Não há dúvida disso. [Estão pensando em] Como fazer nessa eleição para ajudar em 2026, como fazer com emenda parlamentar. É dia e noite, noite e dia. Alguns da classe política falam “só vou pensar sobre 2026 em 2026”, mas é conversa fiada. Não tem outro termo.

 

Eles falam o tempo inteiro em como serão as alternativas políticas para daqui dois ou quatro anos. Falam mesmo, vivem disso, é no dia a dia.

 

MidiaNews – Nós vemos grandes nomes sendo cogitados para 2026 ao Senado, como o governador Mauro Mendes, deputada Janaina Riva, deputado José Medeiros. Será um embate de gigantes?

 

Alfredo Menezes – São duas vagas para o Senado. É isso mesmo… Mauro, Medeiros, Janaina, Fávaro. Tem mais uma: Jayme Campos, como fica? Ele termina o mandato em 2026. A grande pergunta é o seguinte: Mauro e Jayme são do União Brasil, tem duas vagas para o Senado.

 

Jayme termina o mandato e, em 2026, pode ser candidato ao Senado ou governador. Mauro, todo mundo sabe, é candidato ao Senado. Eles podem ter duas candidaturas, mas dentro de uma coligação partidária, um só partido levar dois candidatos ao Senado? O União Brasil levaria dois candidatos ao Senado?

 

E os outros partidos da coligação que tem candidato ao Senado, como ficam? Quando você faz muitas indagações, surge o Jayme dizendo que tem “café no bule” e pode sair candidato a governador, se não for ao Senado.

 

Há outra pergunta: o Pivetta é duas vezes vice do Mauro. É a primeira vez que alguém sai vice duas vezes de governador. Então ele estará sentado na cadeira do governador. Ele é do Republicanos, diz que é candidato a governador. Ele estará na cadeira de governador, como o Silval estava quando foi candidato a governador.

 

Mauro Mendes, se o Jayme sai candidato a governador pelo União Brasil, como fica a situação política e eleitoral do Mauro, que é amigo pessoal do Pivetta, tiveram dois mandatos juntos? Como fica? O Jayme vai peitar? 

 

[O Jayme] Saindo pelo União Brasil, o Mauro também é do União Brasil e, em tese, tem que apoiá-lo, mas vai apoiar com força mesmo ou vai dividir com o Pivetta, que é mais ligado politicamente a ele do que o Jayme? Essa situação do Jayme é a mais interessante das conversas políticas ultimamente.

 

 

MidiaNews – Essa situação tem chance de virar “um abacaxi” mais para frente?

 

Alfredo Menezes – Para o grupo do União Brasil, sim. Alguns acham que o Jayme, como já foi prefeito, governador, senador, se ele ver o barco não muito bom… Será que ele não pode ir para casa e deixar a candidatura? Entende? É a maior pergunta do momento para 2026 que tenho assistido e falado com as pessoas.

 

Mauro Mendes vai com ele [Jayme] ou Pivetta? Jayme vai para o Senado com Mauro e o União elege os dois? Difícil, apesar de ter duas vagas. Como vai ficar?

 

Confira a entrevista na íntegra:



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