Europeus reconstroem gruta sagrada vandalizada em MT

O minucioso processo de recriação de um oráculo sagrado no Alto Xingu, feito por pesquisadores ingleses, chegou ao fim após seis anos de pesquisa para a reconstrução em 3D da gruta sagrada de Kamukuwaká, nas bordas do Parque Indígena do Xingu, norte de Mato Grosso.

 

Conceitualmente equivalente à profanação da Basílica do Santo Sepulcro

O processo teve início em setembro de 2018, após uma expedição realizada por pesquisadores expor um ato de vandalismo registrado no espaço sagrado para os povos originários do Alto Xingu. Na ocasião, inúmeros petróglifos foram destruídos das paredes da rocha. O autor do crime não foi identificado. 

 

Apesar da importância histórica, o espaço ficou fora da demarcação de terras realizada em 1961 que deu origem ao Parque Indígena.

 

Anos depois, em 2010, o  sítio arqueológico foi tombado como patrimônio cultural em 2010 pelo Iphan(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Brasil), mas o titulo não foi o suficiente para proteger a gruta de atos de vandalismo.

 

Na época da destruição, a pesquisadora americana em Antropologia Cultural, Emilienne Ireland, relatou que a situação era “conceitualmente equivalente à profanação da Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e à destruição de todos os exemplares da Bíblia, ou seja, a eliminação do testemunho, do veículo e da mensagem”.

 

Como forma de resistência ao ato de vandalismo, uma parceria foi firmada entre a comunidade indígena do Alto do Xingu, a Fundação Factum e o centro de arte e pesquisa People’s Palace Project (PPP), sediado em Londres. O objetivo da parceria era recriar em tamanho real a gruta sagrada de Kamukuwaká.

 

A História de Kamukuwaká

 

Fundação Factum

Gruta antes e depois

Antes e depois dos atos de vandalismo

Segundo tradição do povo do Alto do Xingu, a gruta foi criada após kamo (o Sol) sentir inveja do guerreiro Kamukuwaká e transformar a casa onde ele vivia com seu povo em pedra para aprisioná-lo.

 

Kamukuwaká consegue escapar do local, mas sua passagem foi o suficiente para deixar os registros nas pares e ao redor da gruta.

 

Em carta descrita em um livro publicado pela Fundação Factum, Akari Waurá, historiador e liderança do povo Wauja, fala sobre a importância do espaço, considerado essencial, para a realização de rituais sagrados, como a furação de orelhas, ritual de passagem de jovens líderes para a vida adulta.

 

“Nesta gruta se encontram gravados na rocha os ensinamentos dos nossos antepassados, o povo de Kamukuwaká. Esta rocha é o livro da nossa história. É na gruta que ensinamos a história do nosso povo, da nossa cultura e cosmogonia para os mais novos.”

 

Restauração da Gruta

 

Por meio da obra, pesquisadores e historiadores envolvidos no trabalho de restauração descreveram a importância da gruta e o passo a passo para sua reconstrução. Em trechos do documento, eles ressaltam a importância dos petróglifos para preservar a história do um povo originário.

 

“Os petróglifos na gruta de Kamukuwaká são mais como um ‘teatro de memória’”, diz trecho do documento.

 

Para preservar a memoria local, os pesquisadores utilizaram fotografias e documentos históricos para compara-los com  as partes degradadas e recriar as paredes da gruta.

 

“A primeira tarefa foi categorizar toda a documentação dos antropólogos que haviam visitado o local antes da destruição, separando imagens da arte rupestre em suas respectivas áreas.”

 

Todo o processo foi acompanhado por pesquisadores e professores indígenas de Wauja, para que realizassem sugestões e observações ao material renderizado. Após a coleta de material e a produção das gravuras rupestres, o material foi gravado em uma réplica da gruta de oito metros de largura x quatro metros de altura e pesando uma tonelada.

 



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