Homem que atirou em juiz havia matado o primo com 14 facadas no peito e pescoço em Vila Rica
Do G1 MT
O suspeito de ter atirado no juiz Carlos Eduardo de Moraes e Silva na segunda-feira (1º), dentro do Fórum de Vila Rica, respondia pelo homicídio do próprio primo com um tiro e 14 facadas.
Conforme ação que tramita na comarca, Domingos Barros de Sá confessou o crime cometido em 16 de maio de 1999.
Segundo o processo, Domingos disse que foi Fazenda Bons Amigos, em Vila Rica, a procura do primo, Dimar de Souza Sá.
Ambos se sentaram e tomaram café. Após uma conversa, os dois primos seguiram em direção à BR-158, sentido Vila Rica. Após percorrerem cerca de 150 metros, Domingos sacou uma espingarda e atirou nas costas de Dimar.
Com o primo no chão, Domingos teria pego uma faca que trazia consigo e dado 14 golpes na parte superior do tórax da vítima, das quais quatro atingiram o pulmão. A última facada foi dada no pescoço da vítima.
O suspeito confessou o crime e justificou que “se eu não fizesse, eu ia morrer, porque ele ia me matar”.
“Foi intencionalmente mesmo, foi intencionalmente, porque sabia que se não fizesse aquilo ele ia fazer depois, então eu fui intencionalmente a fazer”, disse Domingos à Justiça à época.
“Enquanto eu estava esfaqueando ele tava “pinotando” e eu não ia largar ele pra ele pegar uma arma e me atirar.”
Ainda segundo ele, o primo tinha um “livro da capa preta de feitiçaria e que bala não entrava nele de frente”, motivo pelo qual teria surpreendido a vítima pelas costas.
Ataque a juiz
O juiz Carlos Eduardo de Moraes Filho foi baleado no ombro esquerdo, na segunda-feira (1º).
Conforme informações da Polícia Militar, Domingos Barros de Sá entrou no fórum, foi ao gabinete do magistrado armado com um revólver calibre 22 e ambos entraram em luta corporal.
Ainda de acordo com a Polícia Militar, o suspeito era réu em uma ação por homicídio.
De acordo com a Polícia Civil, que passa a investigar o caso, o suspeito entrou no fórum ao lado de seu advogado. Os dois foram em direção ao juiz e ao promotor para pedir que fosse marcado logo a data do julgamento de um processo, momento que o suspeito sacou uma arma de fogo e apontou na direção do juiz.
Um policial militar, que tinha ido buscar o próximo preso para audiência, chegou, sacou a arma de fogo e atirou contra o suspeito.
Imagens do circuito interno de segurança do Fórum de Vila Rica, a 1.276 km de Cuiabá, gravaram o momento em que o juiz Carlos Eduardo de Moraes foge do gabinete dele após ser baleado pelo suspeito. Domingos Barros de Sá, que efetuou os disparos, foi morto dentro do Fórum.
No vídeo, é possível ver a movimentação no corredor que fica em frente a sala de audiência, onde o juiz estava. Um homem de camiseta verde sai correndo de dentro da sala de audiência. Uma mulher que trabalha como vigilante percebe a movimentação, vai até a porta e saca uma arma.
Mais segurança
A Associação Mato-grossense dos Magistrados (Amam) se manifestou, por meio de nota, afirmando que há muito tempo reivindica mais segurança durante a atuação jurídica, como os detectores de metal e a presença da Polícia Militar nos ambientes dos fóruns.
“Em virtude das ocorrências dos últimos dias, semanas e meses entendemos que a segurança pessoal dos magistrados e a segurança ambiental nos Fóruns de todo o Estado precisam ser prioridades do nosso Tribunal de Justiça, pois já é fato que a Justiça de nosso Estado vem sofrendo violações em grau cada vez mais intenso, o que tem colocado a descoberto uma das últimas muralhas do Estado Democrático de Direito”, afirmou o presidente da Amam, juiz José Arimatéa Neves, por meio de nota.
O presidente da Amam complementa que a entidade irá exigir providências em todas as esferas em relação a esses ataques à democracia e ao livre exercício da profissão do magistrado, bem como estará à disposição do TJMT para os estudos de soluções de curto, médio e longo prazo para o estabelecimento de condições de segurança dos magistrados e dos ambientes de trabalho nos Fóruns espalhados por todo o Estado de Mato Grosso.
“A entidade irá se reunir com a Comissão de Segurança do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e, em seguida, marcará um encontro com a presidência do órgão. Isto, para verificarmos o que pode ser feito para melhorar a segurança nos ambientes de trabalho nos Fóruns – principalmente, no interior do Estado. Não é de hoje as reivindicações para a melhoria da segurança durante a atuação jurídica”, ressalta.