Cuidando do quintal do vizinho
É curioso observar a hipocrisia de alguns países europeus que, enquanto fecham suas fronteiras para produtos brasileiros, como a carne, ousam ditar regras para o manejo ambiental em nosso país. A ironia é gritante: essas nações, que destruíram suas florestas nativas há séculos, agora tentam impor barreiras ao Brasil, que detém uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo — o nosso Código Florestal.
Não há floresta nativa na Europa. O que resta são áreas replantadas, artificiais, resultado de reflorestamentos tardios. O Rio Sena, um dos símbolos do Velho Mundo, é também um dos cursos d’água mais poluídos do planeta. Mesmo assim, a União Europeia se arvora em “cuidar do quintal alheio”, enquanto ignora as profundas inconsistências em seu próprio território.
Nos últimos meses, vimos uma série de episódios que expõem a real intenção de algumas nações e empresas europeias quando o assunto é meio ambiente. Sob o pretexto de “preservação ambiental”, elas vêm impondo barreiras comerciais ao Brasil, um país que já é referência mundial em sustentabilidade. Essa estratégia, que muitos chamam de protecionismo verde, busca disfarçar interesses econômicos internos e prejudicar a competitividade de nossos produtos no mercado internacional.
A Moratória da Soja, por exemplo, é um reflexo claro disso. Criada em 2006, esse acordo, liderado por ONGs europeias, proíbe a comercialização de soja plantada em áreas desmatadas da Amazônia Legal após 2008. Apesar de o setor produtivo brasileiro ter demonstrado amplo comprometimento com essa medida, ela se transformou em uma ferramenta de pressão contínua, especialmente diante de novas exigências, como a recente legislação europeia que bloqueia o comércio de commodities cultivadas em áreas desmatadas depois de 2022.
A situação piora com declarações como a do CEO da Danone, que anunciou que sua empresa deixará de comprar soja brasileira em resposta à aprovação da lei estadual de Mato Grosso que suspende incentivos fiscais para empresas que aderem à moratória da soja. Essa decisão demonstra a postura intervencionista de grandes corporações europeias que preferem boicotar em vez de dialogar.
E não para por aí: o CEO do Carrefour declarou recentemente que sua empresa deixará de comercializar carne do Mercosul. Uma ação que, além de ser um ataque direto à nossa produção, ignora os altos padrões de sustentabilidade que o Brasil adota em sua cadeia produtiva.
Esse conjunto de atitudes evidencia o verdadeiro objetivo dessas ações: proteger a economia interna europeia, barateando os preços das commodities brasileiras no mercado externo e desincentivando a competitividade de nossos produtores. Enquanto isso, a Europa, que destruiu suas florestas nativas, poluiu rios e agora depende de reflorestamentos artificiais, tenta nos impor regras que não aplica a si mesma.
É nesse contexto que apresentei o Projeto de Lei 3838/2024, que exige que produtos e serviços provenientes exclusivamente da União Europeia compensem sua pegada de carbono no Brasil por meio da Cédula de Produto Rural Verde (CPR Verde). Se eles querem impor barreiras ao Brasil sob o argumento de sustentabilidade, que também sejam cobrados por suas emissões históricas.
O Brasil possui um Código Florestal robusto e uma legislação ambiental que é referência mundial. Mantemos nossas florestas em pé, protegemos nossas áreas de preservação e ainda assim somos líderes em produção agrícola e pecuária. Não aceitaremos que a Europa, com sua histórica degradação ambiental, tente transformar suas falhas em nosso problema.
Esse protecionismo verde é mais uma tentativa de interferir em nossa soberania e manipular o comércio internacional em benefício próprio. Enquanto estiver no Congresso Nacional, não permitirei que essas ações passem despercebidas. Lutarei para garantir que o Brasil continue sendo um gigante na produção de alimentos, preservando nossas riquezas naturais e protegendo nossos produtores contra ingerências externas injustas.
A Europa deveria se preocupar em cuidar do próprio quintal antes de tentar ditar regras no nosso. Nosso compromisso com a preservação e a produção sustentável é real e transparente. O deles, infelizmente, parece ser apenas retórico.
Coronel Fernanda é deputada federal.