Record é condenada por tratar vítima como suspeita; veja

A Justiça paulista condenou a TV Record a pagar uma indenização de R$ 15 mil a uma mulher que foi alvo de uma reportagem do programa Balanço Geral.

 

Em setembro de 2022, de acordo com o processo, o namorado da mulher passou a ter um comportamento muito estranho na empresa em que trabalhavam. Usuário de drogas, estava extremamente nervoso e agitado, e começou a correr pela rua, em meio aos carros.

 

Com ajuda de colegas e do supervisor da empresa, a namorada o levou para sua casa. Mas a situação se agravou. Em surto psicótico, sempre segundo o relatado na ação, ele passou a agredi-la, e a polícia teve de ser chamada.

 

Quando os policiais chegaram, ele a estava ameaçando com uma faca. Um disparo foi feito por um policial, e o rapaz acabou morrendo.

 

Ao noticiar o caso, no entanto, de acordo com a ação, a Record passou a insinuar que a mulher poderia ser responsável pelo surto do rapaz.

 

Sem apresentar provas ou indícios, chegou a citar a versão de um familiar segundo a qual o jovem teria sido dopado pela namorada e a morte, planejada.

 

O programa exibiu, inclusive, um vídeo do casal numa padaria antes do surto para mostrar que eles estavam “brigados”. O apresentador Reinaldo Gottino ressalta que ela entra no estabelecimento e “nem olha na cara dele”.

 

“Ela bate até o pezinho, mas não fala com ele”, disse o apresentador. “Horas depois ele é encontrado morto”, afirmou.

 

Reportagem induziu telespectadores, decide juíza

 

A juíza Elisa Leonesi Maluf afirmou que a reportagem adotou uma “narrativa deliberadamente falsa, induzindo os telespectadores a acreditarem que eles estavam brigados”.

 

A juíza citou que o programa “omitiu uma parte relevante do vídeo”, justamente o trecho da gravação no qual eles aparecem sentados lado a lado, conversando normalmente. Disse que emissora adotou tal narrativa, “maliciosa”, para gerar polêmica e aumentar sua audiência.

 

Na sentença, a juíza ressalta ainda que o inquérito policial não imputou à namorada qualquer responsabilidade pelos fatos.

 

No processo aberto contra a Record a mulher disse que, por conta da reportagem, recebeu ataques e ameaças em suas redes sociais, tendo de mudar de cidade. Passou também a sofrer crises de ansiedade, depressão e surtos de pânico.

 

A emissora ainda pode recorrer.

 

Record diz que ‘Balanço Geral’ traz olhar diferenciado ao público

 

Na defesa apresentada à Justiça, a Record disse que não cometeu qualquer ato ilícito. Disse que se limitou a narrar a morte do rapaz, sem imputar qualquer crime à namorada.

 

“Todas a desconfianças levantadas na reportagem foram apresentadas pela família do rapaz”, afirmou a emissora no processo.

 

“O programa Balanço Geral é um jornalístico que busca proporcionar à população um olhar diferenciado sobre as ocorrências do seu cotidiano, noticiando de forma célere os acontecimentos, retratando a indignação das famílias afetadas por eles e permitindo que os telespectadores tenham um maior alcance da situação da saúde, educação e segurança pública do local em que vivem, dentre outros temas de interesse público”, disse a emissora

 

A Record ressaltou na ação que Gottino “narra as notícias de forma coloquial, humanizando os personagens dos episódios e compartilhando com os telespectadores sua indignação, suas preocupações e empatia pela situação das vítimas”.

 

Disse que a reportagem não fez nenhuma insinuação em relação à namorada.

 

“A notícia foi baseada em documentos oficiais e nas informações prestadas pela família da vítima”, declarou à Justiça.

 

Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/rogerio-gentile/2024/12/24/record-e-condenada-por-tratar-vitima-como-suspeita-no-balanco-geral.htm



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