Ex-presidente da OAB-MT foi morto a tiros à luz do dia em Cuiabá
O assassinato do ex-presidente da OAB-MT, o advogado Renato Gomes Nery, aos 72 anos, em frente ao seu escritório, na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá, no dia 5 de julho, foi um dos episódios de violência que marcaram o ano, e segue sem a identificação dos autores.
Uma câmera de segurança flagrou o momento em que Renato foi baleado, nas primeiras horas da manhã. Após estacionar seu veículo, ele desembarcou e foi em direção à entrada. No meio do caminho, o advogado foi atingido pelos disparos e caiu no chão. O assassino não apareceu nas imagens.
Segundo a Polícia, ele foi atingido por sete tiros, sendo um deles na cabeça. Ele foi encaminhado pelo Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) ao Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá, passou por cirurgia, mas morreu no dia seguinte.
Vida, advocacia e o luto
O advogado era especialista em Direito Agrário e atuava há mais de 45 anos na área de Direito. Filho de pais retirantes da Bahia, Nery nasceu em fevereiro de 1952 em Nortelândia (230 km de Cuiabá) e ainda muito jovem veio para Cuiabá.
Aqui, cursou Estradas na Escola Técnica Federal, hoje IFMT. Em 1974, entrou em Direito na Universidade Federal de Mato Grosso e se formou em 1977. Ele advogou por cerca de 10 anos até se envolver com a Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso.
Em uma época de renovação na entidade, foi eleito presidente com a missão de trazer mudanças. Ele ficou na presidência entre 1989 e 1991 e posteriormente foi integrante do Conselho Federal da OAB, por duas vezes. Ali acompanhou as discussões para a criação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Em 2006, Nery tentou uma vaga de ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), representando Mato Grosso, e recebendo o apoio do governador da época, Blairo Maggi. No entanto, Nery não obteve votação suficiente para integrar a lista tríplice.
Quando foi morto, Renato ainda advogada e também escreve artigos para veículos de comunicação do Estado, como o MidiaNews.
A perda do advogado chocou familiares e amigos, que o reconheciam como um homem e advogado “respeitado” e “amigo”. A OAB-MT e diversos outros órgãos do Estado também manifestaram pesar em pela morte de Renato.
“Foi um advogado respeitado, combativo e que muito orgulhava a nossa classe. É uma perda irreparável para a advocacia de Mato Grosso”, comparitlhou o consultor financeiro Paulo Siqueira. “Grande advogado e amigo. Que a Luz Perpétua o ilumine”, disse Cecília Oliveira Guarim.
A OAB destacou a contribuição de Renato Nery como presidente da seccional Mato Grosso na gestão 1989 a 1991, que foi homenageado em 2023 quando o órgão completou 90 anos de fundação.
A operação
A DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Cuiabá deflagrou, no dia 28 de novembro, a Operação Office Crime, para cumprir cinco mandados de busca e apreensão como parte da investigação sobre o homicídio do advogado.
Os alvos foram os advogados Antônio João de Carvalho Junior, Agnaldo Bezerra Bonfim e Gaylussac Dantas de Araújo, do escritório JB Advocacia, em Cuiabá; e o casal de empresários de Primavera do Leste, Cesar Jorge Sechi e Julinere Goulart Bentos.
O escritório, localizado no bairro Quilombo, foi vasculhado pelos investigadores da Polícia Civil. As residências dos advogados, nos condomínios Florais dos Lagos e Florais Cuiabá, também foram alvos. O mandado de busca contra os empresários foi cumprido no condomínio Cidade Jardim.
As rusgas com os investigados
No decorrer da investigação, ainda foi revelado que o advogado Antônio João de Carvalho Júnior foi alvo de uma representação protocolada por Renato Nery, na OAB-MT, dez dias antes do crime, em 26 de junho.
Nery pedia a abertura de um processo disciplinar contra Antônio João, e o acusou de se apropriar e negociar uma área que ele havia recebido como honorários de ações de reintegração de posse, na qual atuou por mais de trinta anos.
Após o documento vir à tona dias depois do assassinato, Antônio João disse que não sabia das acusações feitas contra ele, e acusou Nery de falsificar documentos dentro processo e disse que a representação contra ele seria uma forma dele “dar credibilidade às alegações levianas”.
Já em relação ao casal César Jorge Sechi e Julinere Goulart Bentos, Renato travava uma batalha judicial por dois imóveis avaliados em R$ 30 milhões, no interior de Mato Grosso.
O processo envolveu a reintegração de posse das áreas, que ficam no município de Novo São Joaquim. Nery recebeu a área como pagamento de honorários advocatícios. Ele tinha como sócio na área o empresário Luiz Carlos Salesse.
No dia 7 de julho de 2020, o juiz da Vara Única da Comarca de São Joaquim, Alexandre Meinberg Ceroy, rejeitou um embargos de terceiros para anular a reintegração de posse das áreas.
Na época o magistrado aplicou multa de R$ 300 mil por litigância de má-fé contra empresária Julinere Goulart Bentos e o marido Jorge César Sechi, pois ela teria produzido um documento falso e anexado ao processo.
Até o momento, não houve nenhuma prisão, e o assassino segue foragido. O caso continua sendo investigado pela DHPP.
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