Pressão sobre Haddad põe em dúvida capital político do ministro
Após dois meses de abalos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), esboça uma reação em defesa de sua gestão e de seu capital político, seguindo recomendação do presidente Lula (PT).
Por sugestão de Lula, Haddad vai dar mais entrevistas e viajar pelo país para defender a política econômica. Em conversas, Haddad admite um período de abatimento após a crise provocada pela disseminação de fake news sobre taxação de operações via Pix.
Mas costuma repetir que está de pé. A esses interlocutores o ministro lembra adversidades enfrentadas em mais de 25 anos de vida pública para armar que não “é de entregar os pontos” nem “de baixar a guarda”.
Na palavra de aliados, o ministro virou a chave. Além do aconselhamento de Lula, a contraofensiva nasce da constatação de que, sem a defesa enfática da política econômica no PT, nem na Esplanada dos Ministérios, só ele poderia proteger sua imagem dos ataques da oposição.
Nessas conversas, Haddad lembra sua difícil candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2016, ano do impeachment da presidente Dilma Rousse, também do PT. Candidato à reeleição em um cenário desfavorável, em que acabou derrotado no primeiro turno, Haddad foi às ruas para a defesa de seu legado.
Hoje, atribui a esse esforço seu desempenho nas eleições ao Governo de São Paulo em 2022, na qual foi o mais votado na capital, ainda que derrotado na disputa. O ministro pôs a estratégia em prática na sexta-feira (7), quando concedeu entrevista a uma rádio de Caruaru, em Pernambuco, e comparou números aos do governo Jair Bolsonaro.
Ao falar sobre o salário mínimo, ele argumentou que não houve ganho real nos governos Michel Temer e Bolsonaro. Segundo ele, o governo Lula retomou a política de valorização “sob protestos do pessoal da direita”.
“Você não corrige sete anos de má administração em dois anos”, argumentou.
Ainda de acordo com aliados, pesquisas encomendadas pelo Planalto apontam para uma recuperação da avaliação do governo, o que serviu de estímulo para o ministro.
Afastado o risco de taxação do Pix, estaria ganhando forma a versão de que a oposição se valeu de uma instrução normativa para afetar o governo, segundo esses levantamentos.
Em conversas, o próprio Lula teria admitido que não existe antídoto para proliferação de notícias falsas, prova disso seria a divulgação de fake news sobre taxação de pets depois que o governo anunciou um cadastro nacional de animais domésticos. Apesar desse esforço de recuperação, ministros do governo reconhecem severo desgaste na reputação do titular da Fazenda, em quem a oposição tenta com êxito colar a imagem de taxador, o Taxadd.
Pesquisa Quaest na última semana aponta alto índice de rejeição do ministro da Fazenda, e seus pares reconhecem que zeram pouco para preservá-lo -o que acabou atingindo o governo Lula. Integrantes do governo reconhecem que, hoje, um projeto eleitoral de Haddad para a Presidência estaria inviabilizado, bem como uma candidatura ao Governo de São Paulo.
O ministro tem negado a intenção de concorrer em 2026, com o compromisso de permanecer no governo durante a campanha de Lula à reeleição. Para preservar o que resta de cacife político dele, aliados de Haddad chegam a sugerir uma troca de ministério, como para a Casa Civil. Mas essa hipótese seria remota neste momento.
Nesses dois anos de governo, Haddad sofreu oposição na cozinha da Presidência, chegando a ter embates com o chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT). E, sob o comando de Gleisi Homann, seu partido chamou a política econômica de “austericida”.