Nunca tivemos um aumento tão grande; isso é preocupante

A secretária municipal de Saúde de Cuiabá, Lúcia Helena Barboza Sampaio, considera preocupante o aumento de casos de chikungunya associados a óbitos na Capital. De acordo com a médica, historicamente nunca houve tantas ocorrências da arbovirose. 

A grande surpresa desse ano é um aumento significativo de casos de chikungunya

 

Em Cuiabá, até a quarta-feira (12) eram sete mortes.  

 

“A grande surpresa desse ano é um aumento significativo de casos de chikungunya. Nós nunca tivemos um aumento tão grande em Cuiabá, historicamente, e associado a alguns óbitos. Isso está nos preocupando bastante”, explicou. 

 

Ela ainda destaca que a cobertura vacinal da dengue está muito abaixo da capacidade da prefeitura. Menos de 25% da população apta para a vacina – 10 a 14 anos – procurou os postos de saúde. Ambas as doenças são causadas pelo mosquito Aedes aegypti. 

 

“Seria bom se as pessoas estivessem vacinadas, porque ajudaria a não transmitir tanto a doença. A pessoa vacinada não faz a doença e previne, inclusive, as formas mais graves da dengue”, destacou. 

 

Veja a entrevista na íntegra:

 

MidiaNews – No início do ano passado a média de casos de dengue era de 34 por semana. Neste é de 167. No mesmo período a chikungunya teve 305 casos por semana, 6.539% a mais que em 2024, com 5 notificações. Por que há esse aumento tão significativo?

 

Lúcia Helena – Esse período de chuva é clássico da gente ter um aumento nas arboviroses. São doenças transmitidas por mosquitos. Esses mosquitos se multiplicam na água parada, não só na água limpa. Vale falar que até na água não muito limpa eles estão conseguindo se reproduzir. Então, a gente esperava que houvesse um número de casos. A grande surpresa desse ano é um aumento significativo de casos de chikungunya. Nós nunca tivemos um aumento tão grande em Cuiabá, historicamente, e associado a alguns óbitos. Isso está nos preocupando bastante. 

 

A dengue está nos patamares esperados, também subindo. A gente já viu que isso vai aumentar. Estamos só no começo da epidemia, que é cíclica, todo ano a gente tem. E não temos ainda, circulando em Mato Grosso, o vírus que faz a forma hemorrágica. 

 

Isso nos dá uma certa tranquilidade, por enquanto. Mas a gente sabe que nos estados ao redor ele já está circulando. Então, o nosso grande temor hoje é que haja a entrada do vírus que transmite a dengue da forma hemorrágica. 

 

 

E os casos de chikungunya, que estão aumentando muito. A gente sabe que a chikungunya é uma doença muito incapacitante. Mesmo após a sensação do quadro agudo da doença, você tem uma qualidade de vida muito ruim das pessoas, de algumas pessoas que adquirem essa doença. Então, a nossa grande preocupação no momento é essa. 

 

A gente sabe que essa epidemia ainda não acabou. Ela vai continuar ainda, pelo menos, mais uns 40, 60 dias com o número de casos. 

 

MidiaNews – E a Prefeitura tem uma distribuição de vacina da dengue ou está fora do alcance dela?

 

Lúcia Helena – Nós temos vacinas até. Infelizmente a nossa cobertura vacinal para dengue, que é feita pelo Ministério só de 10 a 14 anos, está muito baixa, pouca procura pela vacina. O que seria bom se as pessoas estivessem vacinadas, porque ajudaria a não transmitir tanto a doença. A pessoa vacinada não faz a doença e previne, inclusive, das formas mais graves da dengue, mas é só para dengue, para a chikungunya a gente não tem vacina. 

 

Temos vacina para todas as pessoas até o momento, né? O Ministério ficou de enviar mais, mas nós não temos cobertura nem de 25% da nossa população que deveria receber a vacina, está muito baixa a cobertura.

 

 

MidiaNews – E como diferenciar as duas doenças? 

 

Lúcia Helena – Classicamente, isso às vezes varia de faixa etária para faixa etária. Nas crianças é um pouquinho diferente, mas de uma maneira geral, a dengue é uma doença que surge com uma febre elevada, de início súbito, com dor de cabeça, dor retro ocular atrás dos olhos, aquela sensação de que o olho parece que vai sair da órbita, né? Dor no corpo, a febre elevada, de difícil controle às vezes, e entre o terceiro e o quinto dia de evolução dessa febre, você tem aparecimento de manchas pelo corpo, no caso da dengue.

 

Normalmente, quando a dengue começa a aparecer essa erupção no corpo, a febre começa a ceder. É nesse momento que, no caso da dengue, na forma hemorrágica, começam a aparecer os fenômenos hemorrágicos. Quando a febre desaparece, a erupção no corpo aparece no corpo inteiro, na forma hemorrágica é que você começa a ter a complicação.

 

Então, aquelas pessoas que tiveram um quadro febril intenso, dor de cabeça, dor retro ocular, erupção no corpo, que a febre cedeu e voltou a ficar mal novamente, é um sinal de gravidade da doença, tá? Dor abdominal intensa, sinais de sangramentos, que normalmente ela não tem, nasal, gengival, isso seria uma forma mais grave da doença dengue.

 

No caso da chikungunya, nem sempre a febre é tão elevada e o que predomina é a dor, a dor articular. É como se você tivesse apanhado. Então, o corpo inteiro dói, dói muito, tanto as juntas como os músculos. A febre, como eu falei, às vezes não é tão alta, mas pode ser elevada também e tem mais ou menos o mesmo curso. A febre de uma virose dura de 3 até 5, 7 dias. Normalmente, na chikungunya, as pessoas passam o período febril, a dor vai desaparecendo e falta a vida normal.

 

Mas algumas pessoas mais suscetíveis podem permanecer com essas manifestações de dor no corpo, com os braços, extremidades inchadas, doloridas, com mobilidade difícil, um certo grau de vermelhidão ainda pelo corpo. Classicamente, esqueci de falar, a dengue vem também uma coceira muito intensa ao final da erupção. A chikungunya não costuma ter tanta coceira assim, mas também pode ter.

 

 

Enfim, são quadros muito semelhantes. A chikungunya não tem essa forma hemorrágica, a dengue pode ter. E quanto mais vezes você tem a dengue, maior a sua chance de fazer a forma hemorrágica, porque você adquire a imunidade do vírus que você já contraiu.

 

Então, nós temos alguns tipos de vírus, se você teve uma, duas, três vezes, a sua chance de desenvolver a doença mais grave aumenta.

 

MidiaNews – E como funcionam as visitas aos imóveis para a vistoria? 

 

Lúcia Helena – Se eles estiverem fechados, e o pessoal da Defesa Civil, eles têm um drone. Então, eles andam por dentro desse imóvel fechado, e verificam se tem alguma situação que possa estar acumulando água parada. Estando fechado, e não havendo proprietário próximo, por conta da situação epidemiológica, a Defesa Civil, junto com a Ordem Pública, estão autorizados, junto a Vigilância Sanitária, a adentrar esse imóvel e verificar, e eliminar os poucos que ali possam ter de pernilongo. Nas casas que são habitadas, o agente de saúde se dirige à residência, fala com o proprietário, e pede para entrar, e dá uma verific ada, se tem algum foco de criador de mosquito.

 

E orienta as pessoas, onde encontrar, das possibilidades que existem, atrás de geladeira, vaso de planta, tampinha, calha, isso que eu já falei. E aí, orienta as pessoas a fazer a higienização de maneira mais regrada. 

 

 

 



Mídia News