Seremos a BR da vida, da produção e nunca mais a da morte
O presidente da Nova Rota do Oeste, Luciano Uchoa, afirmou que as obras de duplicação feitas pela concessionária serão responsáveis por reverter o estigma de “rodovia da morte” da BR-163.
Isso é algo que a gente está trabalhando fortemente, para tirar esse estigma, e que nós sejamos a rodovia da vida, a rodovia da produção, a rodovia da segurança e nunca mais a rodovia da morte
Uma das mais importantes de Mato Grosso, a BR-163 passou a ser lembrada por este apelido devido aos acidentes que ocorriam diariamente na estrada, ceifando a vida dos motoristas que trafegavam no local.
“Isso é algo que a gente está trabalhando fortemente, para tirar esse estigma, e que nós sejamos a rodovia da vida, a rodovia da produção, a rodovia da segurança e nunca mais a rodovia da morte”, afirmou em entrevista ao MidiaNews.
A falta de duplicação e a precariedade da rodovia eram fatores que contribuíam para esta realidade que, segundo Uchoa, vem mudando desde que a Nova Rota do Oeste assumiu os trabalhos.
“Com a duplicação nós vamos resolver grande parte desse problema, permitindo que o Estado de Mato Grosso desenvolva esse potencial imenso que tem de produção de grãos, aumentando a produção. E, principalmente, trazendo segurança para a população”, disse.
Ao longo da entrevista, o presidente detalhou o cronograma da obra, os prazos para o término e falou sobre a queda das mortes na rodovia.
Confira a entrevista na íntegra:
MidiaNews – A Nova Rota do Oeste controla cerca de 850 km. Ao final da concessão, quantos Km terão sido duplicados?
Luciano Uchoa – Nossa concessão começa lá na fronteira com Mato Grosso do Sul, em Itiquira, e vai até Sinop, percorrendo esses 850 km que você mencionou. Nós temos o trecho já duplicado de Cuiabá até Itiquira e estamos concluindo o que falta de duplicação.
Então, nós temos uma previsão de duplicar mais 444 km e nós vamos ter então integralmente duplicados todo esse trecho de Itiquira até Sinop, exceto um trecho pequeno na travessia de Jaciara que nós vamos estudar ainda uma forma de fazer um contorno, mas isso é uma obra que deve ficar para o futuro.
MidiaNews – Até o momento quantos Km estão duplicados?
Luciano Uchoa – Nós entregamos no fim do ano passado os primeiros 100 km. No trecho ali entre Diamantino e Nova Mutum, passando um pouco de Nova Mutum. E nós temos já contratadas todas as obras dos 336 km.
Só explicando um pouco. Temos uma obrigação original do nosso contrato, que são 336 km, que era o saldo do nosso contrato. E incluímos agora recentemente também a obrigação de duplicação do Trevo do Lagarto até Rosário Oeste, que soma 108 quilômetros.
Originalmente não fazia parte do nosso contrato, mas nós incluímos então temos esse total de 444 quilômetros.
MidiaNews – Presidente, gostaria que o senhor falasse sobre a importância de dessas obras de duplicação nas rodovias.
Luciano Uchoa – Nós, quando pensamos no estado de Mato Grosso, no crescimento da potência do agronegócio que é o Mato Grosso na produção de grãos, somos o principal corredor logístico. Você vê no mapa a BR-163, ela é exatamente o eixo do Estado. E é o principal eixo de escoamento dessa produção.
E nós, na forma que estávamos, com a rodovia de pista simples, praticamente colapsada, éramos um grande gargalo. Pode-se dizer que a gente estava segurando o potencial de crescimento do Estado de Mato Grosso, porque não teria por onde escoar essa produção. Então, com a duplicação, nós vamos resolver grande parte desse problema, permitindo que o Estado de Mato Grosso desenvolva esse potencial imenso que tem de produção de grãos.
E, principalmente, trazendo segurança para a população, para o trabalhador, para o nosso usuário que circula pela rodovia.
Ano passado entregamos 100 km. A gente tem uma estimativa de entregar em torno de 130 km duplicados esse an
MidiaNews – Já houve queda nas mortes?
Luciano Uchoa – Para você ter uma ideia, nesse primeiro trecho de duplicação de 100 km que eu mencionei, apenas no ano passado, ainda em obras, a gente teve uma redução de 83% nas mortes nesse trecho, que era crítico, por isso nós começamos as obras por aí. Então projetando isso, você imagina a quantidade de vidas que nós vamos salvar com essa infraestrutura.
Então, isso tudo motiva toda a equipe que trabalha, que tem esse propósito de melhorar a economia do Estado e de prover essa segurança viária para os nossos usuários.
MidiaNews – Até recentemente a BR-163 era chamada Estrada da Morte. Vocês vão conseguir acabar com esse estigma?
Luciano Uchoa – Sem dúvida. Isso é algo que a gente está trabalhando fortemente para tirar esse estigma, e que nós sejamos a rodovia da vida, a rodovia da produção, a rodovia da segurança e nunca mais a rodovia da morte.
MidiaNews – No final do ano passado, o Governo entregou o primeiro trecho duplicado pela Nova Rota do Oeste. Qual o cronograma para os demais trechos?
Luciano Uchoa – Nós temos um cronograma que é contratual. Temos contratualmente até oito anos para fazer todas essas obras de duplicação, mas temos uma determinação do governador [Mauro Mendes], do nosso conselho de administração, cujo presidente é o Cidinho Santos, de antecipar essas obras e tentar terminar essa duplicação em até cinco anos.
Então, nós temos já contratados todos os segmentos de Diamantino até Nova Mutum, Novo Mutum a Lucas do Rio Verde, de Lucas a Sorriso, de Sorriso a Sinop e mais a Travessia Urbana de Sinop. E a Rodovia dos Imigrantes. Estamos já contratando esse trecho que estamos incluindo, do Trevo do Lagarto até Rosário Oeste, um primeiro lote que vai até Jangada. Nós temos aí tudo para acelerar e cumprir essa aceleração de cronograma determinada pelo governador.
MidiaNews – O senhor também mencionou sobre o período chuvoso. Isso não deve desacelerar o ritmo das obras?
Luciano Uchoa – É um ciclo natural que nós que trabalhamos com infraestrutura conhecemos e nos preparamos para isso, assim como o agricultor, que prepara seu ciclo de produção.
A gente tinha no final do ano passado, quando estava já com um ritmo bastante acelerado de obras, mais de 2.500 pessoas trabalhando. Esse efetivo hoje reduziu, deve estar em torno de mil pessoas, e naturalmente você não tem as frentes para que tenham todas essas pessoas trabalhando.
Mas nós estamos já remobilizando todos esses contratos e estimamos ter um pico de mais de 5 mil pessoas trabalhando na obra esse ano. Então, a gente está nesse momento de preparação e mobilização para que, passando o período chuvoso, tendo as condições, a gente possa arrancar com bastante força todos os contratos.
MidiaNews – Qual a expectativa de obras para 2025?
Luciano Uchoa – Nós temos uma previsão de entregar mais ainda do que entregamos ano passado. Ano passado entregamos 100 km. A gente tem uma estimativa de entregar em torno de 130 km duplicados esse ano, chegando ali em Lucas do Rio Verde, nesse trecho de Nova Mutum a Lucas.
Como são várias frentes a gente vai ter vários segmentos preparados e a ideia é que cada segmento desse pronto a gente libere para a população para que a gente possa ter esse benefício já sentido desde esse momento da entrega. E não esperar concluir todas as obras para poder liberar ao uso.
MidiaNews – O governador Mauro Mendes tem falado sobre a falta de mão de obra em Mato Grosso. Esse problema afeta a Nova Rota do Oeste?
Luciano Uchoa – Sim. Esse é um problema dado à boa situação do Estado. São as dores causadas pela pujança da economia estadual. Você tem uma situação de pleno emprego e que realmente não existe mão de obra disponível para várias atividades.
A maioria dessas empresas que nós estamos contratando para fazer as obras trazem 95% dos trabalhadores de fora. Não porque gostariam de fazer isso, porque realmente não existe mão de obra disponível no Estado.
MidiaNews – Quando a Nova Rota do Oeste assumiu a 163, o governador anunciou que a ideia é vender o controle da concessionária assim que o TAC homologado pelo TCU for cumprido. Quando a Nova Rota do Oeste conseguirá cumprir o TAC na sua totalidade?
Luciano Uchoa – O TAC são, em resumo, esses 336 quilômetros, que seria a nossa obrigação original do contrato. Nossa expectativa é cumprir esse primeiro trecho de obrigações até o final do ano que vem, até o final de 2026.
Temos 8 anos de prazo e estamos antecipando para 5 anos e vamos cumprir. Mas caso haja algum problema no caminho, não seria nenhum risco para o contrato da Nova Rota.
Realmente a situação da rodovia era bastante crítica, por isso que no momento da troca de controle nós já fizemos um grande investimento em recuperação
MidiaNews – A Nova Rota do Oeste parece estar cumprindo bem seu papel na 163. A empresa avalia participar de licitações em outras rodovias?
Luciano Uchoa – Por mais que nós tivéssemos essa intenção, a natureza da Nova Rota, nós somos uma SPE, que é uma Sociedade de Propósito Específico, que foi criada para administrar o contrato da BR-163 Mato Grosso, em um contrato com a ANTT, que é o poder concedente do Governo Federal.
Então nós, como personalidade jurídica de Nova Rota, não podemos participar de outros leilões.
MidiaNews – Recentemente a ANTT aprovou a revisão quinquenal e elevou o número de obrigações no contrato, como a remodelação do Trevo do Lagarto e área de escape na Serra de São Vicente. Isso vai impactar no preço do pedágio?
Luciano Uchoa – Sim. Nós temos várias obras que foram incluídas, o Trevo do Lagarto, o Trevão de Rondonópolis, que é a confluência da BR-163 com a BR-364, temos a área de escape, temos a inclusão de 4G… Nós vamos ter conexão de celular 4G ao longo de toda a nossa rodovia e nós temos essa duplicação dos 108 km também entre o Trevo do Lagarto e Rosário Oeste.
Tudo isso, no final, quando tiverem feito todos esses investimentos, deve ter o impacto de menos de R$ 2 na nossa tarifa. Então, a gente está falando de muitos benefícios a um custo que vai ser realmente pequeno para o nosso usuário.
MidiaNews – Como chegaram a esse acréscimo de apenas R$ 2 sendo que o acréscimo nas obras parece ser tão substancial?
Luciano Uchoa – Como funciona a inclusão de investimentos em um contrato de concessão? Nós temos ainda 20 anos de contrato de concessão que teremos direito a uma extensão de mais cinco anos depois da conclusão das obras do TAC. São 25 anos. Então esse investimento que nós fazemos agora, nós somos remunerados na tarifa até o final desses 25 anos.
São 25 anos que nós vamos cobrar esse valor para recuperar esse investimento.
É até interessante aproveitar a oportunidade para explicar um pouco como funciona um contrato de concessão e porque você, mesmo cobrando pedágio, não consegue fazer os investimentos em algumas vezes.
Nós precisamos de um volume muito grande de recursos nesse início para fazer as obras. A gente está falando aí que nós vamos chegar a R$ 9 bilhões de investimento. Então, você consegue pagar uma dívida de R$ 9 bilhões e aí você junta esse recurso com o aporte que o Governo fez mais a tarifa de pedágio, você consegue fazer os investimentos.
E o que você arrecada até o final da concessão, você consegue pagar o financiamento. É como o financiamento da sua casa. Você não tem todo aquele dinheiro para pagar. Você pega o recurso emprestado no banco, paga a casa e ao longo de 30 anos vai pagando uma prestação que cabe no seu bolso, que cabe dentro do seu salário.
Então, é mais ou menos o mesmo mecanismo que funciona quando é uma concessionária.
MidiaNews – O senhor mencionou que antes da Nova Rota do Oeste assumir e começar esse trabalho de duplicação, a rodovia estava meio abandonada. Como que foi a situação encontrada naquela época e qual era o maior problema?
Luciano Uchoa – O maior problema que nós tínhamos era a falta de recursos. E falo isso com propriedade porque eu estava na concessionária antes da troca de controle. Nós fizemos lá no início quando a Odebrecht, que era um antigo concessionário, fez o investimento, tomou um empréstimo que se chama empréstimo ponte para arrancar com as obras, considerando que teria um empréstimo de longo prazo que pagaria esse primeiro empréstimo e daria o recurso necessário para fazer os demais investimentos.
Isso não aconteceu e o tempo foi passando e a rodovia é muito grande, a necessidade de recursos para manter essa rodovia também é muito grande. Então, você tinha uma dívida cara, que era essa dívida do crédito ponte, que sugava a grande parte dos recursos que nós tínhamos, e nós tínhamos que operar a rodovia e o que sobrava a gente tentava fazer de investimento. Isso era uma bola de neve que a cada ano piorava mais.
Realmente a situação da rodovia era bastante crítica, por isso que no momento da troca de controle nós já fizemos um grande investimento em recuperação de pavimento, que não foi um trabalho definitivo. O definitivo nós ainda estamos fazendo. Foi um trabalho para poder melhorar as condições e ter uma condição mínima para esperar que esses investimentos definitivos fossem concluídos.
MidiaNews – A antiga detentora da concessão teve problemas e não conseguiu cumprir o contrato. Outras empresas também estão com dificuldade no Brasil. Por que ocorrem tantos problemas com rodovias concedidas no Brasil?
Luciano Uchoa – Nós fazíamos parte da terceira rodada de leilões de rodovias, se você pegar o histórico de rodovias federais. Essa foi uma rodada de leilões que você teve um problema de modelagem.
Normalmente os problemas que você tem nesse mercado de concessões são projetos mal modelados, mal feitos. Ou seja, que exigia investimentos muito altos com prazo curto e que todo risco era do concessionário que estava assumindo, principalmente o risco financiamento.
Nessa rodada de leilões foram, se não me engano, seis e somente uma conseguiu sobreviver. Todas as demais estão em processo de devolução. Nós fomos a segunda que conseguiu sobreviver, que conseguimos repactuar o contrato.
Hoje existem mais de 14 rodovias em processo de repactuação no TCU, tentando solucionar o seu contrato. E esse alongamento dessa discussão é muito ruim para a sociedade, porque fica uma disputa entre o poder concedente e o concessionário que se alonga e quem sofre é o usuário que não tem o serviço que deveria ter.
Mas o advento da Nova Rota, com a forma que nós reestruturamos o nosso contrato, abriu um caminho dentro do TCU, que criaram o que eles chamam de Secex Consenso. E essas 14 rodovias que mencionei hoje estão tentando repactuar o seu contrato, que era algo impossível.
Nós também trouxemos esse benefício para o setor de mostrar que existe um caminho, e aumenta a nossa responsabilidade de fazer bem feito e cumprir para mostrar que realmente essa foi uma boa solução.
MidiaNews – Mato Grosso tem projetos ferroviários que, certamente, vão reduzir o fluxo de caminhões na BR-163. A Nova Rota do Oeste não teme perda de receita e dificuldades no futuro?
Luciano Uchoa – Sim. Esse era um problema que nós tínhamos visualizado desde antes da repactuação e que inclusive foi um problema que não permitiu a tentativa de troca de controle entre a antiga Rota do Oeste e outro ente privado. Porque nós temos expectativa de perda de receita em torno de 30% do tráfego que deve sair da nossa rodovia para o transporte ferroviário e que é necessário. A gente está falando de grandes volumes, a ferrovia é necessária.
Então, na repactuação, o Governo do Estado teve a preocupação e a ANTT teve a sensibilidade de incluir uma cláusula de reequilíbrio. Então, caso exista essa perda de tráfego e que seja tudo isso, porque o Mato Grosso é uma potência enorme, às vezes a gente tem tráfego para todo mundo, tem transporte para todo mundo e não é tão incidente.
Isso deve ser ajustado na nossa tarifa, essa perda, para poder manter a garantia de pagar o nosso investimento.
MidiaNews – Como tem sido a sua experiência como presidente da Nova Rota do Oeste e esse trabalho que o senhor vem desenvolvendo junto com a sua equipe?
Luciano Uchoa – Olha, para mim é muito motivador. Eu sou engenheiro civil, trabalhei a minha vida inteira com infraestrutura, trabalhei em projetos maiores em tamanho que a Nova Rota, mas nenhum de longe com o impacto que nós causamos socialmente, economicamente. E eu não tenho dúvida nenhuma, e falo isso pra toda a equipe, que nós estamos aqui construindo um legado.
E nós vamos poder falar para o resto da vida que eu trabalhei na duplicação da BR-163.