“Ritmo de Abilio preocupa, mas é porque ele tem amor por ajudar”

A rotina agitada do prefeito Abilio Brunini (PL) desde que assumiu a gestão da Capital, em janeiro, tem chamado a atenção dos cuiabanos. Nas redes sociais, o prefeito está presente em vários eventos em um único dia e costuma com frequência sair após as 23h do Palácio Alencastro.

Tirar isso dele pode adoecer mais do que deixar ele nessa rotina corrida

 

Para Samantha Iris (PL), primeira-dama de Cuiabá e vereadora mais votada nas eleições de 2024, com 7.460 votos, a rotina do marido preocupa, mas o momento inicial pede uma presença do prefeito.

 

“A rotina dele tem preocupado, mas eu entendo que é porque ele tem um amor muito grande por tentar resolver e ajudar”, disse em entrevista ao MidiaNews.

 

“Tirar isso dele pode adoecer mais do que deixar nessa rotina corrida. Entendemos que esse momento é inicial, que a gente precisa estar presente nas coisas de perto para ver o que está acontecendo. Faz sentido ele acompanhar de perto e só descansar quando realmente ver que conseguiu colocar a coisa no trilho”, acrescentou.

 

Foi nesse ritmo que Abilio descobriu, por exemplo, dívidas, problemas em contratos e fatores não informados na transição. A própria Samantha revelou que não encontrou dados em programas tocados pela antiga primeira-dama, Márcia Pinheiro. Ela disse acreditar terem sido destruídos na transição.

 

Na Câmara, Samantha preside a principal comissão da Casa, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), e já apresentou uma CPI para investigar o contrato da Prefeitura com as empresas de ônibus.

 

Sem revelar planos para seu futuro político, a vereadora falou também sobre os acertos de Abilio, sua opinião sobre o contrato da CS Mobi, sua relação com a primeira-dama Virginia Mendes e como vê o futuro político do ex-prefeito Emanuel Pinheiro (MDB).

 

 

Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra do vídeo abaixo da matéria):

 

MidiaNews – A senhora tem pouco mais de dois meses na Câmara. Qual a maior dificuldade enfrentou nessa transição de cidadã comum para o cargo de vereadora e primeira-dama?

 

Samantha Iris – É uma situação muito diferente que a gente está vivendo e que não tem referência, de ter uma vereadora que também é primeira-dama. É uma situação muito única. E o conciliar está sendo um aprendizado.

 

É uma situação muito única. E o conciliar está sendo um aprendizado

Aprendendo como podemos trabalhar somando com a gestão de Cuiabá e com a Câmara, estando nesses dois papéis. Tenho buscado ao máximo participar de tudo que posso, tanto dentro da Câmara, mas como primeira-dama, que por mais que seja um título basicamente de honra mesmo, tem algumas funções que são esperadas e eu tenho buscado atender ao máximo.

  

MidiaNews – Tem pretensão de tentar algo maior em sua carreira política, como a Assembleia Legislativa no ano que vem?

 

Samantha Iris – Acho que é muito cedo ainda para a gente fazer qualquer avaliação para o futuro, eu ainda não tenho nada em mente. Recebo muito esse questionamento de como vai ser em 2026, 2028, mas realmente não sei.

 

Estou em um lugar muito novo, que é a política. No caso, sendo política. Sempre fui muito acostumada a estar na política com o Abílio sendo o político e eu sendo apenas o suporte. E agora estou no lugar de ser a política.

 

E nesse lugar de estar aprendendo, ainda não consigo ter uma visão de futuro, até porque o cenário político muda muito e depende de muitos fatores. Acho que não é o momento de pensar nisso.

 

MidiaNews –  Entra legislatura e sai legislatura e a Câmara continua com a pecha de “Casa dos horrores”. Acha que esse cenário tende a mudar em breve após a limpa da última eleição?

 

Samantha Iris – Eu acho que sim, apesar da Câmara ter apenas um mês praticamente de trabalho, tenho visto uma independência e um esforço, principalmente dos vereadores novos, de levar essa discussão adiante.

 

 

Estamos em um momento novo tanto da Câmara quanto na Prefeitura. Então está todo mundo meio que aprendendo e estamos tentando cada um fazer o melhor. A gente tem uma chance grande de continuar esse trabalho, de tirar esse apelido ruim que tinha e seguir em frente de uma forma diferente e independente.

 

Até porque a gente tem o fato histórico de uma Mesa Diretora 100% feminina, que  acho que é a única no Brasil, pelo menos nas capitais. A Câmara está vivendo um momento muito bom e a tendência é melhorar.

 

A gente ainda está se deparando com problemas que vieram da gestão passada na Prefeitura e particularmente vejo uma gestão na Câmara bem diferenciada do que tinha antes. Todo mundo quer fazer Cuiabá dar certo e aos poucos a população vai enxergar isso.

 

A gente tem uma chance grande de continuar esse trabalho, de tirar esse apelido ruim

MidiaNews – A senhora propôs uma CPI para investigar o transporte público. Quer investigar o contrato com as empresas? Acha que foram feitos de forma suspeita?

 

Samantha Iris – O primeiro passo é pegar esses contratos e verificar se a empresa está cumprindo de fato o que está neles. Verificar se esse contrato também foi feito de uma forma que atenda a população do jeito que ela precisa ser atendida.

 

A gente ouve muitas reclamações do serviço de ônibus. Por que a empresa toma essas decisões de tirar carros ou de fazer mudanças? O que faz a empresa fazer isso com tanta tranquilidade? Como que está sendo a fiscalização? Tem penalidade?

 

E como isso é definido em contrato? Como estão deixando isso acontecer sendo que isso está prejudicando a população? A gente precisa revisar cada contrato e buscar saber o que está de errado para que a gente envie isso aos órgãos responsáveis ver se é necessário fazer alguma mudança. Se sim, como a gente pode ter uma maneira de fazer com que a empresa preste um serviço da melhor forma possível.

 

MidiaNews – A Câmara instaurou uma CPI para analisar o contrato com a empresa CS Mobi, responsável pelo estacionamento rotativo e construção do novo Mercado Municipal. O prefeito já defendeu até um rompimento desse contrato. O que a senhora pensa a respeito? Acha que essa CPI dê em alguma coisa ou termina em pizza?

 

Samantha Iris – Eu não tenho acompanhado a CPI da CS Mobi de perto, mas já vi que eles encontraram várias coisas questionáveis ali. A gente tem um problema sério com contratos dentro da Prefeitura de Cuiabá, que estão fazendo um pente fino nos contratos para poder encontrar onde estão os gastos desnecessários.

 

Há contratos que estão com valores que ninguém sabe explicar o por quê. Acho que o fato de uma CPI pelo menos mostrar isso e confirmar de forma legal, já é um resultado. Espero que a CPI do transporte caminhe nesse sentido também.

 

 

MidiaNews – Com todas essas informações que a gente acompanha hoje, a senhora é a favor de um rompimento desse contrato da Prefeitura com a CS Mobi?

 

Samantha Iris – Eu não sei se um rompimento seria a solução mais viável. Acredito, particularmente, que a gente precisa verificar quais são as possibilidades de exigir que seja feito aquilo que é proposto.

 

Existe o núcleo da primeira-dama, mas a gente não tem acesso a documento ou a nada do que foi feito. Os arquivos foram apagados, não tem papel

 

Em um segundo momento, se não houver de fato um esclarecimento dos pontos que precisam ser esclarecidos e uma resolução do que precisa, acho que acaba caminhando para isso [rompimento].

 

Mas aí tem questões técnicas e jurídicas envolvidas que eu sou um fator político nisso e não tenho essa compreensão burocrática. Mas se não houver acordo, a gente tem que caminhar para verificar como que faz a quebra de contrato.

 

MidiaNews – A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que a senhora preside, devolveu para a Prefeitura recentemente o projeto de lei da taxa de lixo e espera um retorno agora. Será possível logo após a calamidade financeira revogá-la, abrindo mão desse recurso?

 

Samantha Iris – Acredito que será possível sim, inclusive os apontamentos da CCJ foram justamente no sentido de fazer com que ela tenha uma validade efetiva e real diante da situação que a gente se encontra. Até porque quando houve, por parte do prefeito, essa intenção de suspender a taxa de lixo, a gente não sabia que ia ter a calamidade.

 

A gente buscou devolver esse projeto para a Prefeitura sanar e mandar de volta para a CCJ, mas de uma forma que possa ser cumprido, da forma mais segura possível para que não seja questionado juridicamente.

 

A intenção é fazer com que seja possível esse projeto ser aprovado na Câmara e a gente está tentando fazer isso da maneira mais rápida possível.

 

MidiaNews – Não seria, então, algo precipitado abrir mão logo no mês seguinte ao decreto?

 

Samantha Iris – Acho que não. A gente tem buscado fazer da melhor forma possível. Se fosse possível fazer agora, na forma de lei mesmo, sem que houvesse prejuízo, tanto para o legislador quanto para o gestor da cidade, a gente já teria feito.

 

É só uma situação legal para que não tenha um problema de responsabilidade jurídica depois.

 

MidiaNews – Como viu esses primeiros meses do governo Abilio? Onde ele mais acertou até o momento?

 

Samantha Iris – Uma das principais coisas que a Prefeitura tem acertado é esse pente fino nos contratos. Porque fazer essa investigação a fundo dos gastos foi o que possibilitou, além de saber aquilo que ninguém sabe explicar, a quantidade de dívidas que ficou.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Samantha Iris

Samantha: “Não tive acesso a muitas coisas. E a [secretaria de] Educação e Saúde também não teve”

 

Eu me pergunto, como que esse carro andava? Às vezes pergunto como as coisas estavam funcionando, porque era uma maquiagem tremenda para chegar ao ponto de descobrir mais de R$ 2 bilhões de dívidas que não foram empenhadas para pagamento e mais umas dívidas que ficaram programadas para o prefeito atual pagar.

 

O fato de mostrar isso para a população, o saldo da conta da Prefeitura diariamente, isso tem feito as pessoas terem um pouco mais de consciência e confiança no trabalho que está sendo feito. Esse foi um grande acerto.

 

E temos ações em todas as áreas que estamos tentando socorrer no ‘tal’ do consertar o carro andando. A maior dificuldade está em conscientizar algumas pessoas sobre a real situação da Prefeitura, porque também encontramos resistências em alguns pontos.

 

A gente ainda está reconhecendo e fazendo uma transição que não teve.

 

MidiaNews – O que estão descobrindo agora que poderia ter sido descoberto na transição?

 

Samantha Iris – Por exemplo, existe o núcleo da primeira-dama, mas a gente não tem acesso a documento ou a nada do que foi feito. Os arquivos foram apagados, não tem papel.

 

Tem muitas pessoas que dependem do serviço público e acho que é muita maldade com essas pessoas

No programa ‘Siminina’, não tem registro, sumiram com os dados das meninas, com as matrículas, informações, que seriam essenciais para que o programa voltasse o mais rápido possível, foram destruídas, levadas embora pelas denúncias que a gente recebeu. Então, estamos pegando uma situação que não houve transição e estamos tentando adivinhar o que se fazia para poder saber o que a gente continua fazendo agora.

 

É uma situação triste e isso também aconteceu em outras secretarias. A gente pergunta: ‘Como que era feito?’ e a própria pessoa [servidor] fala: ‘Eu não sei’. 

 

Disseram que na transição mandaram parar de fazer uma estatística, que foi uma que eu pedi sobre um grupo de alunos. Aí perguntei ‘mas quem mandou parar de fazer?’ e não sabiam dizer.

 

Não entendo se realmente era uma falta de preparo ou se era uma falta de boa vontade.

 

MidiaNews – Então, quando chegou lá estava faltando documentos, dados, estatísticas e a senhora não conseguiu ter acesso a esses números?

 

Samantha Iris – Não tive acesso a muitas coisas. E a [secretaria de] Educação também não teve acesso a muitas coisas. Eu acho que aconteceu na Saúde também.

 

Pelo que vi durante um momento ali da transição foram passadas informações que eles queriam e a gente teve que depois ir atrás do restante. Porque o que encontrei na parte que me compete, tive bastante dificuldade de encontrar dados.

 

E por mais que a gente coloque a situação, vai vir uma narrativa falando que ‘estava tudo lindo, que não está funcionando porque o Abilio não quer’, mas a verdade é o que a gente está vivendo.

 

 

MidiaNews – Acha que pode ter acontecido uma ‘queima de arquivo’?

 

Samantha Iris – Eu não sei nem que nome dar para isso. Fico pensando o que esse pessoal tinha na cabeça e qual a necessidade de fazer isso?

 

A gente pergunta: ‘Como que era feito?’ e a própria pessoa [servidor] fala: ‘Eu não sei’

 

Tem muitas pessoas que dependem do serviço público e acho que é muita maldade com essas pessoas não deixar que haja uma continuidade. Não vai atrapalhar a gente, vai atrapalhar a população que está esperando o serviço.

 

Eu não consigo entender o que levou algumas pessoas a fazerem isso e não sei se foi com ou sem aval de quem estava no comando.

 

MidiaNews – O ex-prefeito Emanuel Pinheiro deixou a gestão desse jeito que a senhora descreveu e também em meio a uma série de denúncias de corrupção, déficits financeiros e alvo de diversas CPIs na Câmara atualmente. Ele tem dito que quer se candidatar em 2026. Qual futuro político enxerga para ele?

 

Samantha Iris – É igual meu avô dizia: ‘Tem gente pra tudo’. Acho que vai ter o público dele que ainda o defende de alguma forma. Também não consigo compreender, mas ok, a gente acaba respeitando.

 

Mas algumas coisas são unânimes, como a forma que a cidade ficou abandonada, grupos que dependiam de apoio do município ficaram abandonados. Quem realmente consegue enxergar mais a fundo o papel da Prefeitura vê o abandono que estava.

 

MidiaNews – A gente tem visto o prefeito trabalhando até tarde da noite, inclusive nos finais de semana. Dias atrás ele chegou a passar mal em Chapada dos Guimarães e revelou que está com hipertensão. Esse ritmo tem preocupado a senhora?

 

Samantha Iris – Tem preocupado, mas tem hora que falo: ‘Para de drama’. Brincadeira (risos). É preocupante, mas entendo que é porque ele tem um amor muito grande por tentar resolver e ajudar.

 

E temos tentado levar essa rotina da maneira mais leve possível. Também acho que ele está trabalhando demais

Ele é uma pessoa que não consegue chegar em casa e dormir em paz se souber que tem um problema que podia estar resolvendo naquele momento. E isso é dele não é de agora na política, sempre foi. Eu tenho 19 anos de casada e ele sempre foi assim.

 

Acho que tirar isso dele pode adoecer mais do que deixar nessa rotina corrida. Então assim, a gente procura ter um tempo de qualidade com os nossos filhos, ter um tempo de qualidade nosso. Entendemos que esse momento é inicial, que precisamos estar presentes nas coisas de perto para ver o que está acontecendo.

 

E temos tentado levar essa rotina da maneira mais leve possível. Também acho que ele está trabalhando demais, mas isso é esperado, ele não quer se distanciar das ações dele e do trabalho, e só descansará quando realmente ver que conseguiu colocar a coisa no trilho.

 

Até costumo brincar que os exames dele são melhores que os meus e fico bem chateada porque ele come baguncinha, come um monte de coisa e o colesterol é melhor que o meu, que não como nada de gordura.

  

MidiaNews – Em 2026 haverá muita coisa em jogo na política mato-grossense. Quem a senhora defende como candidato ao Governo na direita bolsonarista?

 

Samantha Iris – Eu nem parei para pensar nisso, porque estou tão envolvida na situação do município que não consigo visualizar o cenário do Estado. Mas acho que essa preferência, essa escolha, vai vir do ex-presidente Jair Bolsonaro. O que ele definir, a gente acompanha.

 

 

Eu tenho um carinho muito grande por ambos [Odilio Balbinotti e Wellington Fagundes] e a escolha que o partido fizer a vou acatar e acompanhar. Tanto o Odilio quanto o Wellington sabem que a gente está pronto para apoiá-los.

 

MidiaNews – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inelegível e talvez não consiga se candidatar no ano que vem. Quem seria, na opinião da senhora, a pessoa ideal para substitui-lo?

 

Samantha Iris – A minha preferência era ele mesmo. Mas tenho visto que foi feito uma pesquisa e a Michelle pontuou da mesma forma que o Lula. Se ela for uma opção, seria uma opção excelente também.

 

A gente conversou muito sobre a quantidade de programas que Cuiabá poderia ter ganhado nesses últimos 8 anos

 

No caso de não ser ele, poderia ser ela tranquilamente. Ela é uma pessoa muito capacitada, muito inteligente e tem essa experiência de estar ao lado dele. Mas a direita fica preocupada em botar um nome e quererem ver o que podem fazer para atrapalhar.

 

A gente vê ali um presidente eleito que não pode sair na rua porque é ridicularizado e um ex-presidente que é inelegível, mas que movimenta multidões.

 

MidiaNews –  A senhora já se reuniu recentemente com a primeira-dama Virginia Mendes. Como é a relação de vocês duas?

 

Samantha Iris – Tenho um carinho muito grande por ela, porque a gente começou a conversar desde 2020, na outra campanha do Abilio. Porque ela já esteve nesse lugar de primeira-dama de Cuiabá e sabe como é que ocorre.

 

Ela está sempre pronta, a gente troca mensagens, pergunto umas dicas, como que faz, o que seria legal e eu tenho sempre esse apoio dela. A gente tem diversas ações já programadas para trabalhar em conjunto com o Governo e a primeira ação foi aquela no bairro São Mateus.

 

A gente conversou muito sobre a quantidade de programas que Cuiabá poderia ter ganhado nesses últimos 8 anos e que acabou não podendo ser feita por conta dessa briga entre Estado e município. E hoje a gente não tem mais isso.

 

Essa parceria vai ser muito boa, tenho uma grande admiração pela Virginia e sempre tenho encontrado portas abertas com ela.

 

Veja a íntegra da entrevista:

 

 



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