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16 de março de 2025

Mulher: objeto de cama e mesa

O título dessa breve reflexão, é de um livro da psicóloga  e ex-deputada federal, Heloneida Studart-SP, sendo uma discussão pioneira sobre o feminismo e a situação da mulher (década de 1970/80), mas, suas reflexões permanecem atuais, ou seja, a mulher, no Brasil, é vista como objeto de posse física.

 

E, principalmente, sexual, despreparada para funções públicas, salário cerca de 30% menor que o do homem; e quando assume  um cargo de relevo- ministra de Estado, por exemplo, causa espanto; “lugar de homem”, aparência física”, não competência, e um feroz patrulhamento  nas redes sociais e nos locais de trabalho; desde o homem comum até as mais altas autoridades do país, como o presidente Lula, e o ex-presidente Bolsonaro, para ficar nos dois mais famosos usuais  de ataques à mulher.

 

Numa solenidade de posse da Ministra Gleisi Hoffman, Lula disse que a indicara por “uma mulher bonita” para fazer a articulação política do governo com o Congresso Nacional.” e  se deduz,   por sua  luta e atuação política, por sua competência. Um motorista de aplicativo que me levava ao Fórum, comentou: “Aerá, doutor, que ela vai ter que “rodar a bolsa” no Congresso/”?. Essa a percepção comum.

 

A jornalista Maria Cristina Fernandes, colunista do Valor e comentarista da CBN, comentou: “Lula perde o freio quando fala, e quando fica calado”, um desastre os improvisos de Lula. Estragou a solenidade, pois a desastrosa fala virou a manchete do dia”; a própria equipe do presidente se mostrou constrangida, pois, a fala é machista e preconceituosa ao embutir a ideia de que uma mulher, por ser bonita, despenharia melhor um papel de articulação política com o Congresso, de ampla maioria masculina. A fala exclui também as capacidades políticas, profissionais e de trabalho da ministra. Não foi a primeira derrapada do presidente. 

 

Outras pérolas; O presidente afirmou que o auxílio a países da África seria uma forma de “pagamento” pelo período em que africanos foram escravizados no Brasil); em  02 de fevereiro de 2024-Lula disse para uma mulher negra que “uma afrodescendente assim gosta de um batuque de um tambor”. A declaração foi dada durante um evento na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. “Essa menina bonita que está aqui. Eu estava perguntando: o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela? Falei: ‘Ela é cantora, vai’. Não, não vai cantar. Perguntei (e disseram): ‘Não, não vai ter música’. Então, ela vai batucar alguma coisa. Porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque de um tambor”, disse.16 de julho de 2024-durante uma reunião no Palácio do Planalto, o presidente comentou ser “inacreditável” que a violência contra a mulher aumente depois de jogos de futebol. 

 

Ele disse que “se o cara é corintiano, tudo bem”– mea culpa, mas que não fica nervoso quando perde. Ou seja, fora do futebol, na vida cotidiana, é normal, por certo.  Em 08/01/25- O presidente afirmou que maridos tendem a amar mais as amantes do que as próprias mulheres. A fala foi em um discurso sobre a democracia, em memória aos atos golpistas ocorridos em 2023. Só uma de Bolsonaro ao comentar sobre mulheres de esquerda: “são feias e incomíveis”.

 

Seria interessante saber o que pensam as duas primeiras damas sobre os comentários machistas dos maridos; concordam? Se autorreconhecem como objetos sexuais e de trabalho doméstico (cama e mesa), “ recatadas, do lar, submissas ao marido, perderam a dignidade feminina e seu valor na sociedade?

 

A violência contra a mulher é vista com naturalidade e apoio no país

O seu silêncio é um recado para todas as outras mulheres: apoiam. E, as eleitoras, seguidoras, fanáticas dos dois, também aceitam como normal tais falas?  Não é atoa que os estupros e feminicidios explodem no Brasil, e a violência contra a mulher é vista com naturalidade e apoio no país, de forma geral. Os exemplos vem de cima. É cultural? Talvez, pois basta ver a situação da mulher desde a colonização do Brasil, principalmente da mulher negra, escrava, usada e abusada pelo seu dono e familiares, com ciência e silêncio das esposas (Gilberto Freire, em Casa Grande e Senzala). As mulheres brancas sequer saiam de casa, ou recebiam visitantes.

 

Eram invisíveis. Basta também ver a mulher hoje na política e no serviço público, com as chamadas “cotas”, de faz de conta. “Tem que colocar? Então vamos fingir que obedecemos a lei” (cota de 30% na política- sem apoio, material de campanha e espaço na propaganda). Parodiando Romário, “ Lula calado seria uma perola”. 

 

Auremácio carvalho é advogado.



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