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As 3,659 milhões de pessoas que residem em Mato Grosso definitivamente podem ser consideradas vitoriosas.

 

Isso porque não é fácil viver e sobreviver em um Estado tão peculiar, onde impera a lei da brutalidade e os “fortes” subjugam os “fracos” na base dos mais variados tipos de violência e ameaças.

 

Quase ninguém tem coragem de falar dessa violência enraizada em nossa terra.

 

Todos querem mostrar com orgulho apenas a força de uma economia pujante, o agronegócio batendo recordes ano após ano, o crescimento da indústria local, as belezas naturais exploradas pelo setor de turismo, mas falar desse coronelismo patriarcal ainda presente no Estado ninguém que falar.

 

É só olharmos os sites de notícias e iremos ver os mais variados tipos de barbárie sendo praticados em Mato Grosso:  crimes de mando aos montes, pistolagem em praticamente todos os municípios, disputa por terras, tentativa de invasão de terras, ameaças políticas, violência urbana, expansão do crime organizado, a maior taxa de feminicídio do Brasil, violência policial, tortura e maus tratos em presídios, advogados sendo mortos por exercício das suas funções (4 óbitos em 2024) e presos por ajudarem o crime organizado, insegurança jurídica nas questões agrárias e ambientais, crimes ambientais das mais variadas ordens ficando impunes, garimpagem ilegal realizada com braços armados, crimes de novo cangaço, chacinas, cemitérios clandestinos sendo descobertos todos os dias, intimidação política para a mídia ou pessoas que enfrentam o “sistema”, inúmeros crimes de corrupção ativa e passiva no Estado que acabam virando escândalos sem punição legal a altura.

Não é fácil viver e sobreviver em um Estado tão peculiar, onde impera a lei da brutalidade e os fortes subjugam os fracos

 

E mesmo assim, “parece” estar tudo bem!

 

Mato grosso é lindo!

 

Mato grosso é rico e o Agro é Pop!

 

E no meio disso, o povo vive refém dessa triste realidade, no automatismo da vida cotidiana, tentando ganhar o pão de cada dia e rezando para não ser vítima de algum tipo de violência.

 

Quem poderia, ou melhor, deveria atacar esse problema?

 

O Governador do Estado, Mauro Mendes, que nada fez para conter esse grave problema e agora no apagar das luzes de seu mandato, resolveu “acordar” e tem tentado, fracassadamente, organizar o caos da segurança pública, com sua “Operação Tolerância Zero”.

 

Mas é muito fácil e muito cômodo “bater” em quem já está recolhido e custodiado em uma cela.

 

Pergunto porque não há enfrentamento nas ruas?

 

Porque só o ladrão de galinha é preso e responsabilizado?

 

Porque os escândalos políticos de seu governo e de sua família tem virado pizza?

 

Porque só é apurado e cobrado com rigor aquilo que é de interesse pessoal do governador a desfavor de seus desafetos?

 

Cadê a isonomia de direitos no Estado, onde ricos e pobres deveriam pagar da mesma forma pelos seus erros?

 

Essa isonomia não existe pelo simples fato da impunidade e da corrupção dominarem o “sistema”, todo mundo sabe que isso acontece a décadas, mas ninguém tem coragem de denunciar e se posicionar. Os poucos que tentaram foram calados pela bala ou por desmoralização de sua conduta perante a sociedade.

 

Para ilustrar minha fala sobre a epidemia de violência em Mato Grosso, trago fatos e dados estatísticos abaixo.

 

Entre os anos de 2014 e 2023 foram registradas 7.550 ações de pistolagem por disputa de terra em Mato Grosso, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Como crimes de pistolagem entendem-se os crimes de ameaças, perseguição, prisão ilegal, constrangimento, destruição de patrimônio e até mortes. Somente entre os anos de 2022 e 2023, houve um aumento de 17% nestes registros, que passaram de 256 casos de pistolagem em 2022, para 301 em 2023.  Invasão e expulsão de terras também figuram como formas de violência contra ocupação e posse no campo. Neste período, de nove anos (2014-2023), ocorreram 1.342 expulsões e 21.465 invasões no Estado.

 

Mas a violência não está apenas no campo, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em 2024 o Estado apresentou uma taxa de mortes bem maior que a média nacional. Nesse período, a taxa nacional de homicídios dolosos – quando há intenção de matar – foi de 16,77 casos para cada 100 mil habitantes, em Mato Grosso foi de 22,31. Ainda segundo o Ministério, 53 municípios mato-grossenses tiveram aumento no número de homicídios dolosos no ano passado. Inclusive, o município de Sorriso, está entre os 10 mais violentos do Brasil, segundo o Atlas da Violência em 2024, com 77 homicídios para cada 100 mil habitantes.

 

Outra triste estatística é a violência contra mulher no Estado, que registrou ano passado 99 mortes de mulheres por violência, sendo 47 feminicídios e 52 homicídios dolosos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é a maior taxa de feminicídios do país, com 2,5 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres.

 

Para resumir a situação caótica da Segurança Pública, Mato Grosso teve um aumento de 18% na taxa de violência em 2024, o maior crescimento do Brasil.

 

Mauro Mendes deixou essa situação correr livre e todas as vezes que foi questionado, culpou publicamente as “leis frouxas” do pais. A culpa nunca foi dele.

 

Mas não é ele que está com a máquina da segurança pública nas mãos?

 

Não é ele que deveria ter planejado e executado ações preventivas e corretivas de segurança pública nos últimos 7 anos? O que ele fez ao longo de seus dois mandatos? Nada! Apenas demitiu todos que o questionaram publicamente, como fez com o Ex-comandante da PM Coronel Alexandre Mendes, que foi demitido porque feriu o ego de MM ao cobrar melhorias para a tropa.

 

Cadê o Secretário de Segurança Pública, Coronel Cesar Augusto Roveri?

 

O que ele tem a explicar para a sociedade diante de sua gestão fracassada e sem resultados positivos?

 

Hoje a única coisa que ele tem a entregar são recordes negativos vitoriosos nacionalmente.

 

Infelizmente, o fracasso de MM e Roveri é preocupante, pois compromete a integridade das pessoas e também das instituições de Mato Grosso.

 

Embora a violência afete a todos, existem grupos que são mais vulneráveis à ela, especialmente as mulheres, pessoas LGBTQIAP+, indígenas, negros, quilombolas, famílias de baixa renda e outros grupos historicamente marginalizados.

 

Mas a violência só incomodou os políticos quando um familiar deles foi atingido por ela, ai foram determinadas caçadas, forças tarefas, comitivas de políticos para visitação e etc. Mas quando foi com um pobre anônimo, virou apenas estatística e notícia policial.

 

É importante combater a violência, pois seus efeitos afetam muito além do indivíduo, ela é uma ameaça à democracia, pois impede a participação igualitária e afeta a representatividade das pessoas nos espaços de poder.

 

É preciso redefinir estratégias de segurança pública no Estado, adotar medidas mais firmes contra a violência para proteger os indivíduos e fortalecer as instituições que executam as leis e promovem a ordem pública, sem retaliações e intimidação, como tem sido feito.

 

Diante dessa triste realidade que vivemos, pergunto ao leitor:

 

É fácil viver em Mato Grosso?

 

Não!

 

Mato Grosso não é para amadores!

 

Williamon da Silva Costa é acadêmico de Direito.



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