Áudios apontam que jovem estava preso antes de suposta troca de tiros com PMs, em Aragarças

G1 GO

A Polícia Civil investiga áudios que um jovem teria enviado à família pouco antes de morrer, em Aragarças, na região oeste de Goiás. Segundo o delegado Ricardo Galvão, as gravações apontam aparente contradição na versão dos policiais militares, que haviam dito que o rapaz teria morrido em troca de tiros com eles (ouça acima).

O vendedor Jeferson Alves Martins, de 25 anos, morreu no sábado (9). Na madrugada do dia seguinte, sete ônibus escolares, um carro do IML e uma ambulância foram destruídos em um incêndio no pátio de uma secretaria da cidade. A Polícia Civil apurou que o crime foi cometido como forma de vingar a morte de Jeferson e cinco pessoas foram presas.

“Esses áudios estão circulando em redes sociais desde o dia que o Jeferson morreu. A família levou essas gravações à delegacia na quarta-feira (13). Ele teria encaminhado os áudios, antes do confronto policial, para a mãe e a namorada dizendo que estava preso. Pelo horário, o confronto teria acontecido depois desses áudios”, detalhou o delegado.

A Polícia Militar disse, por meio de nota, que “não há, até o momento, como comprovar a autoria dos áudios”. O texto afirma ainda que “somente o inquérito conduzido pela Polícia Civil e o trabalho minucioso da Polícia Técnico-Científica, se o decorrer das investigações assim o exigir, podem determinar a autenticidade dos áudios”.

Conforme o delegado, os policiais relataram que foram recebidos a tiros por Jeferson antes mesmo de o abordarem. No entanto, se a vítima mandou os áudios à família dizendo que estava preso, a versão dos PMs pode ser questionada.

“Eles serão chamados novamente para serem ouvidos, mas, por enquanto, o caso segue sendo tratado como está no boletim. As investigações continuam e seguem em sigilo”, completou.

Indignação
De acordo com a família, no dia da morte, Jeferson estava visitando a mãe, em Aragarças, que não via há cerca de cinco meses. Eles contaram que o jovem estava trabalhando como vendedor e morando em Hidrolândia, na Região Metropolitana da capital. O jovem deixou dois filhos: um menino de 1 ano e 10 meses e uma menina de 7 anos.

Irmão de Jeferson, Gean Alves, de 27 anos, acredita que o irmão foi vítima de alguma armadilha. Ele conta que a família está indignada com a situação e pede que o caso seja apurado com seriedade.

“Isso foi emboscada. Pegaram ele por volta de meio dia, torturaram ele, porque o corpo dele tinha hematoma no rosto, e falaram que foi troca de tiros. O legista falou que ele morreu na hora, porque tomou dois tiros no peito. Eles têm que pagar, não podemos deixar impune”, reclamou.

Confira transcrição dos áudios

Para a mãe:

Oi, mãe. Estava em casa quando um colega meu me ligou. Para ajudar ele com um carro que tinha estragado no rumo da fazenda, mas ele tinha era roubado a fazenda. Aí o povo foi e me pegou aqui, a polícia está comigo aqui. O PM Tadeu, entendeu? Aí estão correndo atrás do cara.

Não sei se vou ficar preso, mas pelo jeito eu vou. A senhora já conecta a advogada. Eu estou aqui para frente do Córrego das Mouras. Na fazendo do Júnior.

Para a namorada:

Oi, amor. Vim aqui ajudar um amigo meu perto do Córrego Grande, achei que o menino estava só com o carro estragado e o menino tinha era roubado uma fazenda. A polícia me pegou aqui. Estão correndo atrás para ver se acham o menino. Já sabem quem foi que roubou, entendeu.

Não sei se eu vou sair ou se estou preso. Estou te avisando que é por isso que eu sumi. Estava dormindo, eram 5h30 quando o menino me ligou, falou que o carro dele estava estragado, peguei a motinha do meu pai e fui.