MPF investiga envenenamento de crianças indígenas em Mato Grosso

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou que iniciou uma investigação sobre uma suposta tentativa de envenenamento de crianças indígenas da etnia bororo que vivem na terra de Jarudore, na região do município de Poxoréu. A terra é objeto de disputa entre índios e posseiros há mais de cinquenta anos, com processo na Justiça Federal, relatos de ameaças e invasões de faixas de terras por ambas as partes.

Segundo o MPF, na última semana peixes envenenados foram deixados por uma pessoa ainda não identificada perto da porteira de acesso à terra indígena, em um ponto onde crianças da aldeia local costumam aguardar ônibus escolares. Nenhuma criança morreu ou chegou a se alimentar dos peixes, mas há relatos de que cinco cães da aldeia e alguns animais silvestres – como tatus e serpentes – morreram com suspeita de intoxicação após ter contato com os peixes.

O caso chegou ao conhecimento do MPF na última sexta-feira e foi detalhado por agentes da Fundação Nacional do
Índio (Funai), que foram até a terra indígena de Jarudore, a cerca de 50 km do centro de Poxoréu. O local tem mais de 4,7 mil hectares tradicionalmente habitados por índios da etnia bororo, mas há mais de cinquenta anos tem sido ocupada ilegalmente também por posseiros que, segundo o MPF, perseguem os indígenas e são responsáveis pela situação de instabilidade crescente na área. O MPF defende que seja realizada uma operação de desintrusão.

Segundo o relato dos agentes da Funai, foram observadas dezenas de besouros e moscas mortas em contato com os peixes deixados na entrada da terra indígena.

As suspeitas de que o alimento envenenado foi deixado ali para atrair as crianças das aldeias também virou alerta para a Polícia Federal (PF), que foi até a área para realizar uma perícia ainda na noite de sexta-feira.

A suposta tentativa de envenenamento das crianças é considerada um ato hediondo e a PF já identificou alguns suspeitos de terem deixado o alimento envenenado com esse propósito. Para o procurador da República Paulo Taek, o caso evidencia a perseguição que vem sendo sofrida pelos bororo por parte dos invasores da terra. (Do G1 MT)