Furtos de defensivos somam R$ 12 milhões em menos de 12 meses no Médio Araguaia

Em menos de um ano, furtos de defensivos agrícolas no Médio Araguaia alcançaram pelo menos 12 milhões de reais em produtos. Dá em média mais de um milhão por mês, ou, em outra comparação, 12 vezes o valor que foi levado do assalto à agência do Banco do Brasil de Canarana em janeiro de 2010. As informações foram colhidas de maneira sigilosa com agrônomos e representantes de revendas da região e abrangem os municípios de Canarana, Querência e Água Boa.

Entre dezembro do ano passado e dezembro deste ano, foram furtadas duas grandes fazendas e três revendas de defensivos agrícolas em Canarana. Das duas fazendas foram levados mais de 500 mil reais em produtos. Das revendas, em uma foi levado mais de 1,6 milhão, de outra 600 mil e da última mais de 2,5 milhões de reais, totalizando mais de cinco milhões de reais em produtos no valor de mercado.

Nas últimas semanas foram furtadas uma revenda na cidade de Querência, de onde os ladrões teriam levado cerca de 5 milhões de reais, e outra em Água Boa, um furto onde o valor teria alcançado 2 milhões de reais. Também foram furtadas pelo menos duas fazendas em Água Boa, com valor incerto. Pelo que já se tem conhecimento, a soma dos furtos nos três municípios em doze meses alcança, pelo menos, 12 milhões de reais.

Uma revenda de defensivos em Canarana, que foi alvo de furto, reforçou a segurança contratando guardas armados. Quando foi alvo dos ladrões, o armazém já era protegido por câmeras, alarmes monitorados, além do sistema físico, como cadeados e trancas. Mas tudo isso foi em vão para parar os ladrões, que entraram e saíram sem serem percebidos. E não é segredo para ninguém que apenas um guarda armado contra vários assaltantes não pode fazer muita coisa. Essa ação está mais relacionada à obrigatoriedade da seguradora. As informações coletadas relatam que nenhuma revenda furtada tinha segurança armada antes do furto, mas que todas têm agora.

Conforme um gerente de revenda ouvido pela reportagem, por conta dos vários furtos na região, a apólice de seguros aumentou. Ou seja, além do custo extra com guarda, as revendas agora também pagam mais para ter seu estoque assegurado. Tudo isso será repassado aos produtores numa época difícil para o setor pelas questões climáticas.

Em julho deste ano o Jornal O Pioneiro fez uma reportagem sobre os furtos em Canarana. Curiosamente, após essa reportagem os furtos pararam por aqui e começaram nos municípios vizinhos. Um engenheiro agrônomo acredita que o reforço na segurança das revendas de Canarana e o alarde provocado pela reportagem, fizeram os bandidos migrar. Com o reforço geral na segurança das revendas e o trabalho investigativo da polícia, acredita-se que a partir de agora os bandidos migrem para as fazendas, onde a segurança é menor ainda.

Até agora ninguém foi preso e nenhum produto foi recuperado. Acredita-se que o produto esteja sendo revendido aqui na região. Ou seja, há produtores plantando com defensivos oriundos de furtos. Um representante comercial ouvido pela reportagem, contou que há produtores que plantam com produtos ditos vindos do Paraguai, mas acredita que sejam esses os defensivos furtados das revendas na região. No final das contas, só há furto porque há quem compra. A inexistência de fiscalização nos estoques das fazendas dificulta a descoberta dos compradores.

Conforme um gerente de revenda, os bandidos que estão agindo nesse ramo são profissionais. “Ficamos sabendo que em Querência eles adentraram no galpão pelo teto descendo de rapel. Aqui em Canarana eles adentraram pelo único local que podiam adentrar, cortaram os fios certos do alarme, abriram as portas que tinham que abrir… Não são ladroes de galinha, são bandidos de extremo conhecimento que possuem olheiros privilegiados”, disse. Os olheiros podem ser produtores, engenheiros agrônomos, funcionários, motoristas de caminhão, enfim, a lista é grande.

Acredita-se que os bandidos migraram do assalto a banco para o furto de defensivos, onde a ação é mais fácil, o perigo menor, o custo operacional menor e o valor levado muito maior. “A gente fica assustado com a impunidade porque até agora ninguém foi pego. Não se sabe quem roubou, que vendeu, quem comprou. Estamos alarmados com essa cadeia criminosa que se formou aqui na região”, disse um engenheiro agrônomo.

Em uma conta simples, cada produtor gasta em média 500 reais de agrotóxicos por hectare. Os três municípios juntos, devem plantar nessa safra 750 mil hectares com soja, o que dá um volume de agrotóxicos de 375 milhões de reais. É nesse montante que os bandidos estão de olho.

Conforme o investigador Valdivino Vital, em entrevista ao J. O Pioneiro em julho, não restam dúvidas que existem pessoas da cidade envolvidas. “É uma pessoa que a gente chama de final de cadeia, é um pessoal que não ganha muito, mas que tem as informações, recebem pelas informações e pelo trabalho que eles realizam no momento do furto. São indivíduos que se passam por produtores, se passam por agrônomos e estão aí simplesmente para fazerem a observação”, disse Vital. (Da Redação/Opioneiro).