Fiocruz vê “negligência geral” e prevê 1,2 mil mortes até fim de semana em MT
Folhamax
O pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Diego Xavier, afirmou que o número de mortos deve chegar a 1,2 mil em Mato Grosso até o final desta semana. A previsão foi dita durante entrevista no Jornal do Meio Dia, da TV Vila Real, nesta terça-feira (7).
A estimativa também é que o Estado atinja o patamar de 28 mil casos confirmados da doença, até o dia 11. Ainda segundo o pesquisador, houve uma duplicação de casos nas últimas semanas. “Os números de casos têm dobrado a cada 11 dias, enquanto que o número de mortes tem se duplicado em nove dias. Se o aumento em Mato Grosso continuar nesse ritmo, o índice de óbitos será ainda maior, já que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) estão com praticamente 93% de lotação”, destacou.
Diego afirmou também que, no início, a doença foi negligenciada, tanto pelos gestores públicos quando pela população. “Infelizmente, no passado foi-se fazendo o relaxamento sem cuidado, sem atenção, sem testar a população, sem acompanhar, sem rastrear os infectados e sem saber onde o vírus estava circulando. E tudo que Mato Grosso está vivendo hoje é reflexo do passado”, declarou.
Ele disse também que houve falta de planejamento por parte do poder público que não se preparou, não aumentou a oferta de leitos de UTI, mesmo sabendo que tudo isso aconteceria. “A doença foi negligenciada. No dia 17 de junho foram desabilitados leitos de UTI em cidades do interior, como Cáceres e Rondonópolis, onde era necessário que se mantivesse o atendimento à população”, analisa.
Ainda segundo o pesquisador, é preciso haver coerência e liderança por parte dos gestores para que as medidas funcionem e gerem resultados. “Líder é aquele que consegue levar outros com ele e é isso que não estamos vendo. Ao contrário, são adotadas medidas isoladas, uma verdadeira disputa entre os governos. É necessária uma quarentena de fato, nas próximas duas semanas, para daí observarmos o que vai acontecer mais a frente com relação ao comportamento epidêmico da doença no Estado”, sugere.
Além disso, ele reforçou que a população precisa entender que também faz parte desse processo de redução do número de casos. “O recuo da doença depende diretamente do comportamento da população, que precisa ficar em casa, usar máscaras, se proteger e proteger os outros. Se as pessoas forem para a rua, ao mesmo tempo, provavelmente haverá um aumento muito grande no número de casos e de mortes e, só depois, começam a decrescer”, afirma.
Entretanto, o pesquisador alertou que a participação dos gestores estadual e municipais é muito importante, com investimentos em UTIs e na Atenção Básica. Uma das alternativas de controle, segundo ele, é manter visitas periódicas dos agentes de saúde para saber como está a situação das pessoas que estão em casa, o risco de contaminação, se há alguém doente e adotar os cuidados logo no início. “Dá para controlarmos o aumento de casos, se obedecermos às normas, mantermos o isolamento social e abrirmos apenas o comércio estritamente necessário. Hoje, o estado atravessa o pior momento da epidemia, com um cenário de quase colapso no sistema de saúde. Quanto mais nos unirmos, mais pouparemos vidas”.
Também é importante lembrar que as medidas adotadas hoje, terão resultado em duas semanas. “O problema é que quanto mais a quarentena dá resultado, mas a população acha que ela é desnecessária e não é”, finalizou.