Novos policiais civis reclamam de “treinamento militar” em MT

Os novos investigadores e escrivães reclamaram da primeira semana de treinamento que a Academia de Polícia Civil de Mato Grosso (Acadepol) lhes impôs no ingresso nas suas respectivas carreiras. Para quem esperava fazer o manuseio de armas, treinar tiro ao alvo e frequentar aulas sobre mentes criminosas, a realidade se mostrou um pouco diferente nos primeiros dias de experiência na Acadepol: lixar assoalho, pintar muros e paredes, serrar e assentar madeiras e tijolos e fazer outros serviços menores, mas não menos pesados. Todos os serviços visavam à melhoria da estrutura física da academia. “Tivemos que fazer reparos na academia, inclusive as mulheres”, disse um futuro investigador, que, para não sofrer sanções, pediu para não ser identificado. “E, na semana passada, tivemos que deixar a academia limpa e bem cuidada porque o secretário Fábio Galindo [Segurança Pública] iria nos visitar”, disse.

Houve um momento em que os alunos tiveram que ir até a sede da Secretaria de Estado de Segurança, no Centro Político Administrativo (CPA), e voltar em um micro-ônibus sozinhos, com armas e mais de oito mil munições. “Corremos um grande risco, pois não tivemos nenhuma escolta”, afirmou.

No total, 458 investigadores e 37 escrivães estão participando do treinamento. A partir de junho deste ano, eles começarão a trabalhar em delegacias de polícia da região metropolitana de Cuiabá e no Interior do Estado.
Para os futuros policiais civis, a parte do treinamento “mais difícil de entender” é a obrigação de fazer exercícios e imitar trejeitos que seriam típicos de militares. Segundo a Polícia Civil, o curso tem regime integral, com aulas teóricas, práticas operacionais e estágio supervisionado. “Durante mais de três meses, os policiais passarão por intenso treinamento de disciplinas da área-fim da carreira policial, como defesa pessoal, técnicas de abordagem, tiro policial, inteligência, investigação policial, inquérito policial, entre outras”, informou a assessoria de imprensa, em nota.

O diretor da Acadepol, Marcos Aurélio Veloso e Silva, disse que, de fato, os calouros da Polícia Civil receberam, na primeira semana de treinamento, tarefas como pintar muros, carregar madeira e outras semelhantes, mas não havia nelas qualquer intenção de dar trote. “Essas tarefas foram programadas, como forma de observarmos como cada um lida com ordens superiores, como se comportam em trabalhos de equipe e quais aqueles que se destacam como líderes”, disse Veloso.

Segundo ele, as tarefas da primeira semana foram valiosas para os instrutores avaliarem os novos policiais civis que, de um modo geral, se saíram bem. “Se o curso terminasse hoje, 99% seriam aprovados, na minha avaliação. Aliás, todos eles logo participarão de ações efetivas, de combate à criminalidade”, informou.

De acordo com Marcos Veloso, a Acadepol exige dos policiais uma nota mínima de 7 em todas as tarefas, além de 80% de frequência. Caso contrário, os policiais, que já são servidores do Estado, respondem a Procedimento Administrativo Disciplinar, que pode culminar na exoneração. “Sei que é difícil agradar todo mundo, mas tenho certeza de que essa nova turma é muito boa e vai nos ajudar muito no combate ao crime”, disse Veloso, acrescentando que, a partir de agora, o treinamento na Acadepol será o específico para policiais. “O objetivo da Polícia Judiciária Civil é investigação de ilícitos penais. Os nossos homens sairão prontos para a repressão qualificada à criminalidade. Isso significa que sairão aptos a realizar investigações em qualquer quadrante do Estado de Mato Grosso”, disse.

Esta é a segunda turma de policiais civis que ingressam nas forças do Estado, na atual gestão. No ano passado, foram quase 600. Neste ano está prevista ainda a realização de concurso para 130 delegados e para mais de 1.200 investigadores e escrivães. Serão mais de 2.500 homens colocados na investigação. (Diário de Cuiabá)