Relatório mostra como Silval fugiu da polícia em setembro

Um relatório da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, a cuja cópia o MidiaNews teve acesso, revela como o ex-governador Silva Barbosa (PMDB) conseguiu escapar por pouco de ser preso, no dia 15 de setembro de 2015, quando foi deflagrada a “Operação Sodoma”.

A operação foi autorizada pela juíza da Vara Contra o Crime Organizado de Cuiabá, Selma Rosane dos Santos Arruda.

Naquele dia, a Polícia Civil conseguiu prender os ex-secretários Pedro Nadaf (Casa Civil) e Marcel de Cursi (Fazenda), mas Silval conseguiu fugir – supostamente avisado por uma mensagem de voz recebida em seu celular –, e somente se entregou dois dias depois.

Logo no início da manhã do dia 15, policiais da Gerência de Operações Contra o Crime Organizado (GCCO) montaram campana na frente das casas de Silval, Nadaf e Cursi.

Eles tinham ordens para seguir os passos dos “alvos” da operação naquele dia, até que houvesse condições de os três serem presos ao mesmo tempo, de modo a evitar que a prisão de um alertasse os outros dois.

A localização dos três começou a ser monitorada às 8 horas da manhã, a partir do sinal emitido pelos celulares.
“Somente por volta das 8 horas é que as equipes que acompanhavam a intercepção telefônica receberam as senhas de acesso da Operadora Vivo para a checagem da localização dos alvos, haja vista a informação precedente de que o alvo Silval da Cunha Barbosa não estaria pousando em seu domicílio, no Edifício Portal da América, na Avenida Brasília, bairro Jardim das Américas”, diz o relatório assinado pela delegada Alana Cardoso, diretora de Inteligência da Polícia Civil.
Assim que o sinal do telefone do ex-governador foi captado, os policiais confirmaram que ele estava em seu apartamento.

Interceptações feitas em mensagens de Whatsapp trocadas por Silval e Nadaf, no dia anterior, davam conta de que o ex-governador planejava, pela manhã, receber Nadaf em seu apartamento, “porque precisavam conversar”.
Em seguida, Silval iria até o escritório José Lacerda, de advocacia, e à tarde prestaria depoimento, na condição de convidado, à CPI da Renúncia e Sonegação Fiscal, na Assembleia Legislativa. Sua oitiva estava marcada para as 14 horas.

Nada disso aconteceu. Das 8h44 até as 9h39, Silval recebeu três ligações.

A primeira foi do escritório de advocacia, dizendo que “os advogados já o estavam aguardando” para a reunião.
A segunda ligação foi de uma jornalista, perguntando se Silval iria mesmo à CPI, o que ele confirmou; e a terceira do assessor de imprensa dele, tratando do mesmo assunto.

O relatório não deixa claro, mas tudo leva a crer que Silval seria preso na Assembleia Legislativa, ou quando deixasse o seu apartamento para ir depor.

Por voltas das 9 horas, uma equipe de vigilância foi deslocada para o escritório de advocacia, no bairro Duque de Caxias, e ali permaneceu até as 13 horas.

“A vigilância foi montada pelas equipes na rua em frente ao escritório, sendo que uma equipe restou monitorando a entrada e saída de pessoas, enquanto outra se posicionou na rua paralela, passagem obrigatória de qualquer veículo que deixasse o escritório e necessitasse ser acompanhado”, diz outro trecho do relatório.
As equipes observaram que, primeiro, um veículo oficial do Tribunal de Contas do Estado estacionou no local e um homem não identificado entrou no escritório, deixando-o logo depois.

Uma Mercedes C200 preta saiu do local e foi seguida. Deixou uma pessoa no Goiabeiras Shopping Center e retornou.
Por volta das 11h30, “um homem branco, forte, alto (…), aparentando ser o advogado Francisco Faiad”, saiu do escritório, entrou em um Gol branco e deixou o local.

Em seguida, os demais advogados também saíram. A equipe que os seguiu relatou que foram a um restaurante.
Enquanto tudo isso acontecia, o sinal do celular de Silval Barbosa continuava a ser detectado na região do Jardim das Américas, dando a entender que ele passou a manhã inteira em seu apartamento.

Como já se aproximava das 13 horas, uma nova equipe de policiais entrou em ação, e foi ficar de prontidão na Assembleia Legislativa.

As equipes que vigiavam o escritório de advocacia também se dirigiram para lá.
Às 13h45, agentes conseguiram entrar no prédio e viram que já não havia mais carros nas garagens reservadas ao ex-governador.

Às 13h46, o sinal do celular do ex-governador indicava que ele já estava na região do Coxipó do Ouro.
Às 14h22, o celular de Silval foi desligado. Nesse momento, diversas equipes saíram à caça do ex-governador no Aeroporto Marechal Rondon, no Aeródromo Bom Futuro, no Coxipó, e até em Santo Antônio do Leverger. Nenhuma o encontrou.
Às 14h40, por não-comparecimento, a oitiva de Silval foi cancelada na Assembleia.
Como tudo levava a crer que a notícia da operação havia sido vazada, a Polícia Civil decidiu cumprir os mandados de prisão de Pedro Nadaf, na Fecomércio, e de Marcel de Cursi, na Ager.

“O não comparecimento de Silval Barbosa na audiência na Assembleia Legislativa indica que ele deixou de comparecer por já estar foragido, na ciência de que haveria alguma medida judicial contra si”, diz o relatório.
No dia seguinte, o prédio onde mora Silval, bem como o escritório de seus advogados, continuaram a ser vigiados, mas em vão.

Soube-se mais tarde que, às 14h21, Silval Barbosa recebeu uma mensagem de voz vinda de um telefone registrado em nome de seu irmão, Antônio da Cunha Barbosa Filho, que dizia: “Rapaz, fecha tudo… Tranca tudo, tudo, tudo”. A voz era de uma mulher.

Depoimento

No último dia 23 de fevereiro, ao ser interrogado pela juíza Selma Arruda, Silval alegou que não se entregou imediatamente às autoridades pois a Defaz, segundo ele, queria “fazer um troféu com a minha cabeça”.
“Não fugi, segui a orientação dos meus advogados. Eles [Defaz] queriam que eu estivesse ali na Assembleia, para fazer um troféu com a minha cabeça. A senhora não imagina os dias mais apreensivos que passei na minha vida”, declarou Silval.

O ex-governador não deu o nome de quem o avisou da operação para prendê-lo. (MidiaJur)