Pastor de Goiânia gera polêmica ao batizar 38 índios Xavante
Do G1
O pastor Isac Santos, de 29 anos, coordenou um ritual religioso que tem repercutido nas redes sociais. O religioso foi responsável pelo batismo de 38 índios avantes que, segundo ele, já eram cristãos, mas não encontravam ninguém para fazer a cerimônia. Isac, que mora em Goiânia, afirmou ao G1, nesta terça-feira (5), detalhes do batizado, descrito por ele como “um dia de festa”.
“Foi um dia de festa. A gente foi todo mundo a pé, e eles cantavam, foi muito bonito, porque eles aguardavam com muita expectativa este batismo. Já fazia quatro meses que eles estavam nos pedindo. Como não conhecíamos as regras indígenas, resolvemos aguardar, tanto para eles terem certeza desta decisão, quanto para nós, que seríamos os responsáveis por esta transição”, contou o pastor.
O batizado aconteceu no último dia 21 de agosto no Rio Borecai, uma comunidade xavante que fica no município de Nova Nazaré, na região nordeste do Mato Grosso. O pastor revelou que a relação dele com a os indígenas começou por meio de uma carona que o pai dele, que mora em Água Boa, município vizinho, deu ao cacique da tribo.
“Os índios andam muito naquela região e ficam transitando entre a aldeia e cidade.Meu pai deu carona para alguns deles e, coincidentemente, era o cacique da tribo, que já era cristão. A partir desta carona surgiu uma grande amizade, não só o cacique, mas outros índios frequentam a casa do meu pai e sempre pediram para que fosse feito este batismo”, revelou.
Isac é pastor em Goiânia, responsável pela igreja Tempo de Semear, no Residencial Cidade Verde, região oeste da capital. Ele recebeu o convite do pai, que também é pastor, para fazer a cerimônia de batismo dos índios.
“Meu pai ficou meio inseguro em fazer o batismo porque não conhecia as regras. Nós pesquisamos e vimos que não tinha nada que não nos impedisse, já que tinha o aval do cacique e eles já eram cristãos, não era uma imposição nossa. Eu não sei de que forma eles conheceram o mundo cristão, mas estavam entusiasmados em ser batizados”.
Críticas
O batizado ficou conhecido depois que Isac postou fotos e vídeos da cerimônia em sua página no Facebook. O pastor afirma que foi alvo de críticas, alegando que ele havia “invadido o espaço do indígena”, e teria os obrigado a se batizarem. O religioso nega, e diz que os índios já convivem e compartilham de hábitos do dito “homem branco” e reforça que o batizado foi um pedido deles.
“A maioria das pessoas tem uma visão deturpada do índio. O índio hoje tem celular, veste roupa, convive na cidade e, muitas vezes, como neste caso, tem a mesma fé que a gente. Nós demos a eles o que eles pediram, eles não foram obrigados. Tanto que, em uma aldeia de quase 200 índios, só 38 quiseram ser batizados”.
De acordo com Isac, os aspectos mais criticados da cerimônia foram o uso das roupas e a expressão dos índios na foto. Ele afirma que muitos interpretaram os índios como “tristes” ou “insatisfeitos” com a situação.
“Nas fotos é possível ver as índias de sutiã, e a gente não tem nada a ver com isso, até porque eu não teria coragem de levar sutiã. É um hábito deles usarem roupas íntimas. Eles foram à cidade, eles compraram as roupas para este momento especial. Quanto à expressão das índias, muitos disseram que elas estavam tristes, mas não. Na verdade é que havia um certo constrangimento em tirar foto, não em batizar”.
Ajuda
O religioso destacou que o maior objetivo da presença da religião na comunidade indígena e ajudá-los com saúde, educação, e itens pessoais. Ele afirma que recusou, mesmo com a insistência do cacique, em construir uma igreja na aldeia.
“Tirando a questão religiosa, porque sei que a maioria das pessoas discorda, exatamente por não conhecer, por não ter acesso, as tribos e estas pessoas, precisam ser assistidas de uma forma social. Para mim foi muito emocionante em ver que é um povo que muitas vezes não é assistido de uma forma básica, e a gente tem a oportunidade de, através do nosso trabalho, ajudar, somar com eles”