Negro tem 2,6 vezes mais chance de ser morto em MT

Gazeta Digital

Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) aponta que número de mortes de jovens negros com idade entre 15 e 29 anos, em Mato Grosso é 2,6 vezes maior que de jovens brancos. O estudo foi realizado pela Unesco em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e expõe ainda que em 26 das 27 unidades da federação, a taxa de homicídios é maior entre as mulheres negras nesta faixa etária do que entre as brancas. A estatística é baseada em registros de 2015.

Conforme o estudo, na escala de vulnerabilidade, Mato Grosso apresenta uma classificação média com 0,399. Em relação ao risco relativo de um jovem negro morrer, o índice é 2,63 maior que de um jovem branco, o que coloca o Estado no 14º lugar no ranking, que é liderado por Alagoas com 12,7. Alagoas também está entre os com pior colocação em se tratando da pobreza, ocupando a 2º colocação no levantamento.

Em Mato Grosso, a taxa de mortalidade de jovens brancos é de 31,9 a cada 100 mil, enquanto entre os negros o índice mais do que dobra, representando 84 para a mesma proporção. Os números colocam o estado em segunda colocação neste segmento, perdendo apenas para Goiás que apresenta uma taxa de mortalidade de negros que chega a 127,50 por 100 mil.

Mulheres negras

A concentração das mortes por homicídios entre pessoas pretas e pardas também pode ser observada nos dados desagregados por sexo. Considerando-se a faixa etária de jovens (15 a 29 anos), em 26 unidades da Federação, a taxa de homicídios é maior entre as mulheres negras do que entre as mulheres brancas.

Na região Centro-Oeste verifica-se que a taxa de homicídios entre mulheres negras e jovens é bastante superior à taxa entre brancas em todos os estados. O caso mais dramático ocorre no Goiás, onde a taxa de mortalidade de jovens negras chega a 13,8 por 100 mil, a maior do país. Mato Grosso mais uma vez vem na sequência com uma taxa de 12,4 mortes de mulheres negras a cada 100 mil, enquanto as jovens brancas apresentam uma taxa de 7,7 para a mesma proporção.

Ao final dos tópicos que relacionam a proporção de mortes entre jovens brancos e negros o estudo expõe uma conclusão de que homicídios ainda estão intrinsecamente ligados à cor da pele. “Assumir que a violência letal está fortemente endereçada à população negra e que este é um componente que se associa a uma série de desigualdades socioeconômicas é o primeiro passo para o desenvolvimento de políticas públicas focalizadas e ações afirmativas que sejam capazes de dirimir essas iniquidades”, diz trecho da pesquisa.

Histórica

Presidente do Instituto de Mulheres Negras (Imune), Antonieta Costa, destaca violência contra negros é histórica e ainda pior em se tratando de mulheres. “A situação de vulnerabilidade é presente na vida do negro desde os primórdios, em todas as áreas, seja no serviço, na escola ou at é mesmo dentro da própria família e roda de amigos. Diante disso, só pedimos respeito e inclusão, porque não adianta tolerar e não me incluir”.

Costa ainda enfatiza que o negro sempre é posto em uma posição de marginal dentro da sociedade e reivindica liberdade diante da opressão cotidiana. “Queremos respeito, mas só isso não basta. A liberdade é necessária, e para a termos é necessário nos dar condições dignas de vida. Saúde, educação, segurança de qualidade”.

Violência nos municípios

Na listagem com 304 e municípios que possuem acima de 100 mil habitantes, Várzea Grande ocupa o 41º lugar, sendo classificado como um município de alta vulnerabilidade, tendo como indicador de mortalidade por homicídio 0,41 a cada 100 mil.

Rondonópolis (212 km ao Sul de Cuiabá), aparece na sequência em 93ª colocação, sendo considerada como uma cidade com média vulnerabilidade, expondo um Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência de 0,42 a cada 100 mil. Em 114 posição com um Indicador de mortalidade por homicídio de 0,38.

Já Cuiabá aparece no 133º lugar sendo classificada como uma cidade com média vulnerabilidade, com um Indicador de mortalidade por homicídio de 0,38.

Emprega rede

O governo do Estado, por meio da Secretaria de Assistência Social, informou que com o objetivo de amenizar dados como os expostos no IVJ 2017, desenvolve o projeto intitulado Emprega Rede, que tem como principal objetivo, promover o acesso a direitos, trabalho e renda da população em situação de vulnerabilidade e risco social, por meio da articulação e integração de políticas públicas, iniciativas privadas e da sociedade civil.

Dentre o público alvo do projeto está a população negra que se encaixa dentro das prioridades (pessoas com deficiência (PCD), egressos do trabalho escravo, egressos do trabalho infantil e suas famílias, egressos de medidas socioeducativas, mulheres vítimas de violência e economicamente vulnerável).

A secretaria não mencionou nada com relação a ações específicas para a população negra, uma vez, que ações do tipo são consideradas discriminatórias.