Fé, devoção e preparo físico na subida da Escadaria da Fé na Serra Azul
Francis Amorim/RDNews
A tradição da Sexta-Feira Santa com milhares de fiéis subindo os 1,2 mil degraus da Escadaria da Fé, no Parque Estadual da Serra Azul, em Barra do Garças, se repetiu hoje (30). Desde às 5h, a romaria a imagem do Cristo Redentor, erguido no alto da Serra Azul, foi intensa no período da manhã, com temperatura ainda amena.
Em menos de duas horas, 1,5 mil pessoas de todas as idades já tinham subido a montanha em devolução ao Senhor Morto, pagando promessas por uma graça recebida ou pelo simples prazer de contemplar a bela vista das cidades de Barra do Garças e Pontal do Araguaia, em Mato Grosso, e Aragarças, em Goiás, banhadas pelos rios Garças e Araguaia.
Neste ano, em razão da interdição parcial do parque, o acesso está sendo possível apenas pela escadaria. A secretaria estadual de Meio Ambiente (Sema) cogitou autorizar a descida pela trilha de 14 cachoeiras existentes na área de preservação, mas por recomendação do Corpo de Bombeiros, a medida sequer foi anunciada. O acesso por carro também está proibido.
Segundo o Corpo de Bombeiros, que mobilizou 15 homens para o acompanhamento dos visitantes, o movimento maior se concentra pela manhã em razão do forte calor a partir das 10 h. “Dividimos a equipe aqui no pé da serra, na metade dos degraus e outra equipe no mirante”, disse o bombeiro Andrade. Além dos bombeiros, fiscais da Sema e a Associação Amigos dos Animais, colaboram na orientação dos fiéis.
Tradição
A subida ao platô da Serra Azul se remete há 40 anos, quando o artista plástico Gerson Nascimento, o G. Nascim (já falecido), esculpiu uma estátua de Nossa Senhora de Fátima, passando a atrair ao local, milhares de fiéis na Sexta-Feira Santa para o pagamento de promessas. A escalada ainda era feita por uma trilha em meio às pedras, com risco iminente de acidente.
Em 1984, o prefeito à época, Carolino Gomes dos Santos, mandou erguer uma imagem de Cristo de 16 metros de altura. O movimento se intensificou pela trilha e também por uma estrada de terra por onde se subia de carro. Em 1994, o então prefeito Wilmar Peres de Farias utilizou o trajeto da antiga trilha e construiu uma escadaria com 1,2 mil degraus, que viria, anos depois, ser batizada de escadaria da fé.
No mesmo ano, cerca de 11 mil hectares da Serra Azul foi transformado no Parque Estadual da Serra Azul por meio de um projeto de Lei de autoria do ex-deputado estadual Humberto Bosaipo. Criava-se uma unidade de preservação permanente.
Durante esse tempo, escalar os degraus em nome da fé e do turismo, passou a ser uma tradição sempre na Sexta-Feira Santa. E vem ocorrendo ao longos dos anos. Em 2014, por determinação do Ministério Público Estadual (MPE), o parque foi interditado por completo, reaberto por seis horas no dia da Paixão de Cristo no ano passado e reaberto, parcialmente, neste 30 de março.
Fé
Para o marceneiro Isvaldo Rodrigues Galvão subir a serra na Sexta-Feira Santa é um momento de fé em devoção. “Há 35 anos eu faço o mesmo percurso. Subi a primeira vez por umA trilha de pedras com um filho de dois anos no pescoço e valeu a pena todos esses anos pela fé que temos em Nosso Senhor Jesus Cristo. É nesse sacrifício que a gente encontra a vitória”, ressaltou.
A dona de casa Raquel Maciel Porto escala os 1,2 mil degraus da escadaria da fé em reconhecimento a uma graça recebida. Um problema de saúde do filho de apenas oito meses a levou a pagar a promessa de subir a serra sempre na Sexta-Feira Santa. “A fé pela graça me faz vir aqui e agradecer a Deu”, diz, emocionada.
O secretário da Pesca de Barra do Garças, Paulo Henrique reuniu a família para ser um dos primeiros a escalar a escadaria da fé. Ele chegou no portão de acesso às 5h15 e às 6h45 estava no platô da serra. “Além desse momento de fé, aproveitamos esse momento para curtir as belezas da nossa cidade”, elogiando o que já foi feito em prol dos visitantes e também cobrando mais melhorias por ser um dos locais mais visitados de Barra do Garças.
Já o policial civil Abel França diz que a fé move a subida ao Parque Estadual da Serra Azul e também a beleza exuberante do local. “É um momento para agradecermos por todo o sacrifício que Jesus por nós e aproveitar para uma atividade física e encontrar os amigos que costumam vir nesta data”, destacou.
Peça teatral
Até 2010, a igreja católica celebrava uma missa campal e em parceria com um grupo de teatro encenava a Paixão e Morte de Cristo no alto da Serra azul, no entanto, a tradição foi perdendo espaço pela falta de estrutura existente no alto da Serra Azul. A programação religiosa foi transferida para as paróquias e também para o evento Semana Santa no Araguaia, realizado nas ruas de Barra, Pontal e Aragarças.
Durante o período de visitação do parque, uma equipe da secretaria municipal de Saúde prestou assistência aos visitantes com aferição de pressão arterial.