O que impede o diálogo?
Como já dizia Hebert Viana no famoso verso “eu quis dizer, você não quis escutar” o ser humano prefere acreditar, escutar, ler (neste caso) mais as informações que concorda do que as que se oponha a seu ponto de vista. O problema é que com cada um apegado às suas próprias visões fica impossível qualquer espaço de negociação. E aí todos perdem, afinal estamos aqui nesta existência para viver (conviver) da melhor forma possível.
Existem realmente problemas impossíveis de serem ponderados? Pensando nisso, porque a pesquisa Datafolha mostra que os brasileiros consideram primordiais os seguintes temas na escolha do futuro presidente: corrupção (85%), crime (85%), direitos trabalhistas (83%), democracia (82%) e emprego (82%). A pesquisa também identificou como temas relevantes para a população (tecnicamente empatados com as questões de democracia e emprego) o combate à inflação (81%) e a defesa do meio ambiente (81%). Em termos simples, é como se o Datafolha verificasse que mais de 80% dos brasileiros vêem democracia, emprego, meio ambiente como pautas fundamentais ao lado de violência, proteção dos direitos trabalhistas e outros. Dados mostram ainda que um em cada dez eleitores decidiu seu voto para presidente no primeiro turno entre a véspera e o dia da eleição. Como o jogo não está ganho, aí entra a importância do esforço consciente para o entendimento – para o diálogo.
Dialogar qualifica a capacidade humana de se dirigir ao outro, nas diferenças e nos parâmetros racionais das oposições. Permite também estabelecer uma relação com a lucidez de discernimentos e escolhas. Trata-se de prática que não oferece espaço para o ódio e a recusa a ele pode expressar fechamento sobre si em torno do próprio ego. Como se determinada verdade fosse mais importante que outra. O diálogo exige primeiramente a escuta, a disponibilidade em aprender com o outro que pensa diferente.
Para ter ouvidos de escutar é preciso desapegar das próprias visões, senão não haverá nada que se diga que faça sentido para o outro. E daí o Herbert continua a música: “agora não peça, não me faça promessas, porque eu não quero te ver e nem acreditar que será diferente”. É preciso resgatar o espaço do diálogo logo, porque a polarização adoece e empobrece o discurso. E, quando chega o processo eleitoral, momento em que realmente poderíamos discutir problemas importantes, o que vemos? Xenofobia, religião, teorias de conspiração e outras anomalias que deveriam estar centradas no âmbito pessoal.