Brasil ganhou com vitória de Lula e derrota de Bolsonaro

Marcelo Brice
Especial para o Jornal Opção

Sobre esse pós-eleitoral e o governo Lula 3, por enquanto só vai ser possível marcar alguns pontos. Depois do uso nefasto da máquina estatal e, mesmo assim, derrotados, o primeiro presidente que não conseguiu ser reeleito mobiliza a tropa em um mimimi e chororô que tentará fazer com que seja interminável.

Durante a campanha, já tentaram de diversas formas criar caos e reverter a opinião geral de que esse governo foi uma delinquência. Tristemente absurdo foi ver a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fazer blitz a eleitores, principalmente no Nordeste, com a intenção clara de golpear mais ainda a democracia.

O papo chato e maçante de procurar e achar culpado não pode ser massificado e não será, simplesmente porque Jair Bolsonaro (PL) e sua horda devem ser assunto de justiça e, espero, serão colocados e tratados como “bichos escrotos” que não devem sair de novo dos esgotos.

É verdade também que nada será como antes e não suponho que tivesse de ser, pois a lógica da mentira e de divulgação em larga escala de conteúdo do submundo impõe uma guerra de comunicação muito feroz. O que é ruim, porque é um confronto pouco afeito a bons projetos, debates e propostas factíveis. Após termos saído das eleições divididos como nação, vale mesmo a ideia fortalecida de políticas de inclusão e respeito, emprego e competência com os cuidados quanto à riqueza brasileira. Isso, sim, é alguma luz contra a barbárie armada.

Certo alívio nos ensina que, se deixar, a incompetência e o crime político se reproduzem como coelhos. Os mecanismos de presença de vontade civil nos governos deverão ser incentivados. Um campo democrático pode se efetivar e a liderança e pragmatismo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) servirão como eixo, já que ele reúne em si o fundamental ao encarnar um símbolo de esperança e articulação para isso.

Política continua sendo política e isso esse resultado apertado nos mostrou. O recado é que há um jogo franco a ser jogado e se impõe a premissa de que política é arte da disputa com a regra máxima de que o que não pode são o temor e o terror da morte ou a própria morte e/ou violência. Há muitas expectativas e desafios. Sem a mobilização que a liderança do Lula reafirma esse resultado seria impossível. Porém, sem a constituição de uma espécie de frente ampla contra o atual presidente, fruto da deliberada fanfarronice dele, estaríamos em um risco ainda maior.

Mexer os ingredientes e equalizar as demandas vai ser uma dura tarefa, cada um na sua competência, dos brasileiros interessados em agir de acordo com aspirações que constroem em vez de destruir. Algo que devemos ter clareza do que esperar, além do sempre melhor – na vida, é claro – é que esse “Lula 3” seja um governo de muitas orientações, com algumas diretrizes, que esperamos. Por uma sociedade mais pacificada, entretanto, o governo vai ser um lugar de muitas vozes e isso é o que pode ser bom nessa altura, já que indica diálogo. E não a voz única de alguém de baixa patente, inclusive.

Não vai ter guerra civil, vai ter luta política de vozes distintas em um governo que deve nos preparar para um futuro mais pleno em suas potencialidades e riquezas de toda ordem. Vai ser um espaço muito agregador, talvez até exageradamente, mas ótimo, pois certamente poderemos discutir e enfrentar temas difíceis, e não violentar o outro por isso. Fazer o futuro fazendo o agora, sem repetir como emblema a grande frase do Millôr Fernandes: “O Brasil tem um grande passado pela frente”.

Marcelo Brice é doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e atualmente realiza estágio pós-doutoral em literatura na Universidade Nova de Lisboa.



Jornal Opção