Criptomoedas: o golpe tá aí, cai quem quer

Ganhos surreais e promessas de dinheiro rápido, ‘basta investir para ganhar’. São muitas as promessas dentro do universo das criptomoedas. Quem dera se fosse tão fácil. Em meio a um declínio de 60% do valor (no caso do bitcoin), passando de R$ 155,5 mil para R$ 89,3 mil, essa rede financeira não governamental, alimenta não só empresários, mas também uma rede de cibercriminosos e estelionatários.

Buscando entender o mundo das moedas virtuais, o Jornal Opção se infiltrou e acompanhou essa movimentação financeira, bem como os golpes aplicados por duas semanas. A ‘lábia’ e o poder de convencimento destes criminosos surpreende. 

A todo momento, com a ajuda comparsas (como uma espécie de quadrilha), eles anunciam ganhos em redes sociais, como Facebook, WhatsApp e Telegram, que variam de R$ 450 a mais de R$ 1.425 por dia. Alguns criminosos, inclusive, afirmam ganhar isso por hora, a depender do valor investido. Ou seja, a cada 60 minutos, o investidor ganharia 1,8% a mais do que um trabalhador assalariado (R$ 1.320).

Os ganhos, de acordo com ‘empresários’, são por meio de plataformas de investimentos e pirâmides financeiras (alguns negaram, mas outros assumiram explicitamente). Pessoas sem experiência financeira são ‘presas fáceis’.

““Eu não compro bitcoins, eu ganho isso todos os dias. Estou pronto para ajudar (40) sortudos a ganhar 0,17 BTC ($ 5.700), a cada 4 dias. Sem referência, sem taxas de registro. Eu prometo ajudar”, afirma um dos estelionatários na publicação.

Investimento

Se passando por um investidor em busca de ampliar os ganhos, o repórter negociou com um destes criminosos da Bahia. Nos grupos de WhatsApp, porém, há pessoas de todas as regiões do país, inclusive Goiás, e do exterior.

Durante o diálogo, o cibercriminoso afirmou que possuía uma empresa de investimentos em criptomoedas e que bastava aplicar o dinheiro para lucrar. Quanto maior o valor, mais alto seria o retorno financeiro, conforme ele. Os ganhos, no entanto, não são imediatos. É necessário deixar o valor pelo menos 10 dias, sendo que ele vai render 5% em dólares neste período. Ou seja, se o repórter investir R$ 1 mil, o valor renderia US $50 (R$ 261,5) líquidos. Passado o prazo, o valor aumentaria consideradamente.

“Depende do seu valor de investimento, com o mínimo em 10 dias úteis, já pode sacar. Você ganha 5% de segunda a sexta até dobrar. Deixa seu dinheiro sempre na corretora”, disse.

Crimes

O estelionato no espaço cibernético também está presente no solo goiano. O delegado Paulo Ludovico diz que durante o decorrer de 2022 ao menos uma dezena de vítimas procuraram a Delegacia de Investigações Criminais (DEIC) para denunciar crimes envolvendo criptomoedas e bitcoins em Goiás. 

Para o investigador, esses crimes são praticados por meio da internet, como uma espécie de ‘peneira’ usada pelos estelionatários. Eles atraem as vítimas por meio da ostentação e prometendo ganhos maiores do que qualquer outro tipo de investimento. A pena para este tipo de crime pode chegar a até oito anos de prisão.

“Para ser pirâmide precisa ter dois fatores. O primeiro é um número indeterminado de pessoas. Há também a questão do investimento. É solicitado um valor imediato para entrar no grupo e participar. Normalmente esse é o modus operandi”, concluiu. 

Criptomoedas

A criptomoeda, de acordo com o economista Luiz Carlos Ongaratto,  refere-se a qualquer forma de moeda que existe digital ou virtualmente e usa criptografia para garantir a realização de transações. As criptomoedas não têm uma autoridade central de emissão ou regulação. Em vez disso, usam um sistema descentralizado para registrar transações e emitir novas unidades.

“As criptomoedas eram valorizadas por não ter interferência do governo nas transações e, consequentemente, o valor cobrado pelos impostos. O comércio de criptomoedas esfriou com a pandemia. Por ela não ser controlada por um governo como o dólar e o real, ela não pode ser financiada. O problema é que a cotação oscila muito. Todo mundo tá perdendo dinheiro”, concluiu.



Jornal Opção