Pai de Luana diz que morte da filha teria sido evitada com melhor investigação policial

O recente caso de homicídio da adolescente Luana Marcelo, de 12 anos, no bairro Madre Germana II, em Goiânia, ressuscitou outro caso semelhante ocorrido no mesmo bairro. Thais Lara, de 13 anos, estava desaparecida desde agosto de 2019. Em relação à Luana, a elucidação do caso foi rápida. Houve uma mobilização da família da garota, da comunidade local e da imprensa. A comoção ganhou os noticiários nacionais, o que levou o governo de Goiás a colocar todo o aparato policial trabalhando para desvendar o sumiço da menina.

No desenrolar das investigações, os agentes chegaram ao suspeito de ter raptado a estudante Luana, o servente de pedreiro Reidimar Silva, 31. Detido, ele confessou sequestro, estupro e assassinato com ocultação de cadáver. Durante as diligências, os agentes lembram do caso Thaís, que estava parado aguardando novos fatos, e viram semelhanças entre os dois casos. A partir daí, Reidimar passou a ser também suspeito do desaparecimento da Thais.

O ajudante de pedreiro acabou confessando mais este crime, inclusive levando os policias até o local onde o corpo da garota estava enterrado. O assassinato de Thais teria ocorrido, segundo perícias feitas nos restos cadavéricos, com requintes de crueldades, da mesma forma que o acontecido com a Luana. Além do réu confessar, os dados coletados não deixaram dúvidas da culpa do investigado, para a Polícia.

Revolta

Apesar da resolução de um caso ter ajudado a encontrar respostas para o anterior, os familiares envolvidos não conseguem enxergar a conexão com nenhum olhar positivo. A conclusão das investigações do caso Thais chegou a ser apontada como desdobramento positivo do caso, mas a recepção daqueles ligados às vítimas aponta outra visão para a situação.

Ouvido pelo Jornal Opção, Robson Marcelo dos Santos, trabalhador autônomo e pai de Luana, afirma que essa história de falar que graças ao caso da Luana foi possível solucionar o caso da Thais, deve ser observada por outro viés. “A morte da minha filha poderia ter sido evitada se a polícia tivesse trabalhado firme, não tivesse feito corpo mole e tivesse encontrado a Thais”, afirma. Robson argumenta, que se isso tivesse acontecido, a Luana estaria conosco hoje.

Ele conta que não tinha amizade com o assassino, que somente o via pelas ruas do bairro, às vezes trabalhando em construção. Declara ainda que nunca desconfiou que Reidimar poderia ser esse monstro. “Em momento algum suspeitamos de ninguém, até porque nossas esperanças eram de que ela estaria viva e que logo iriamos encontrá-la”, disse.

Luana era filha única e, segundo o pai, um presente de Deus. “Minha filha era esplêndida, nunca tive o que reclamar dela. Era muito estudiosa, tinha o sonho de ser médica veterinária”, lembrou. Robson se diz muito agradecido pelo trabalho rápido da polícia em solucionar o caso, mas não deixa de destacar que o fim trágico poderia ter sido evitado para a família.

Ele assegura que o caso da filha só foi desvendado tão rápido porque ele é bem conhecido no bairro e por ter colocado a boca no trombone, fazendo com que a história ganhasse maior repercussão. “Eu não tive vergonha, coloquei a boca no mundo e os moradores do bairro me ajudaram. Para você ter uma ideia, sou morador há muitos anos aqui do bairro e nem sabia desse primeiro caso”, relatou.

Polícia

A Delegada Ana Paula Machado, do Grupo de Investigações de Desaparecidos (GID), rebate as declarações do pai da Luana, apesar de reconhecer que a revolta ocorre ainda no calor das emoções. “A Polícia Civil nunca deixou de investigar o desaparecimento da Thais. Todos os esforços foram feitos, inúmeras buscas, inclusive, com a presença da própria família”. Ana Paula explica que, nos casos em que não há suspeitos, fica muito difícil para a polícia desvendar. “O caso não estava arquivado, ele estava somente parado aguardando novos fatos de relevância e o episódio da Luana foi este fato”, esclarece.

A Delegada confirma ainda que as investigações continuarão, para descobrir se há outros casos de garotas desaparecidas que poderiam estar relacionadas a Reidimar. Ela diz que, até então não é possível afirmar que ele é um serial Killer.

Caso Thais

Jacione da Silva Carneiro, mãe de Thais, exibe foto da filha | Fotos: Cilas Gontijo e Arquivo Pessoal

Nessa sexta-feira, 20, os familiares da garota Thais Lara tiveram a oportunidade de sepultar os restos mortais da adolescente. A dona de casa e mãe da moça, Jacione da Silva Carneiro, 38, ainda com a voz trêmula, contou que a filha era um amor de pessoa. “Era muito obediente, estudiosa, era meu tesouro. Eu só quero que esse monstro pague pelo que ele fez”, disse. Apesar da dor, Dona Jacione diz se sentir aliviada em poder pelo menos sepultar sua filha.

Avó de Thaís, a aposentada Maria Rita Carneiro, 64, declarou que a revelação da ossada da neta traz um misto de alívio e muita tristeza. “Nossa esperança sempre foi que ela estivesse viva. Sempre me preocupava em pensar que ela pudesse estar passando fome, frio ou algum tipo de necessidade. Eu sempre pensei que ela um dia apareceria de volta e viva”, revelou.

Dona Rita afirma que esses três anos e meio sem notícias foram de muito sofrimento para todos da família. Ela comenta que quando escutou sobre a morte da Luana, algo disse para ela que esse teria sido o fim da sua neta. “Perdi todas as esperanças de encontrar a Thais com vida quando vi as notícias. Meu coração me disse que esse homem era o responsável pelo sumiço da minha netinha”, disse em meio a lágrimas.

A avó também contou que as duas meninas eram colegas e estudavam na mesma escola. De acordo com ela, agora, depois do caso vir à tona novamente, muitas pessoas falaram que viram a neta entrar na casa do suspeito. Ela acredita que a neta possa ter feito isso por gostar muito de criança e buscar interação com o filho do acusado. Diante disso, a aposentada faz um apelo para a população. “Quando alguém ver alguma criança ou adolescente entrando sozinha na casa ou carro de alguém, chame a polícia. Assim, você poderá estar evitando um crime”, desabafou.



Jornal Opção