Negligenciando a infância: reflexão sobre os ataques em escolas

Ontem presenciamos o oitavo ataque a escolas em menos de doze meses. O menino tinha apenas 13 anos. Tem um provérbio africano que já virou clichê: é preciso uma vila para criar uma criança.

Quando vemos crianças cometendo crimes é sinal de que nossa vila falhou. A sociedade falhou e não percebeu os sinais de “socorro”. Sim, de socorro porque eu não acredito que o ser humano cometa atos extremos à toa. A situação ainda piora quando vemos que no adolescente chegou a demonstrar a intenção de cometer os crimes. “Irá acontecer hoje, esperei por esse momento minha vida inteira, tomara que consiga alguma kill (morte, em inglês) pelo menos”, escreveu antes do ataque. Ele era encorajado por outros usuários, um deles se definiu como “mentor” do jovem e se disse orgulhoso do crime.

O ato cometido em si é horrível, mas é preciso refletir sobre o que levou a isso. O que leva um jovem a adentrar em grupos neofascistas? Que sentimento de pertencimento foi esse que ele encontrou lá e não viu na escola, na família ou em outros grupos, como na igreja? Que dor foi essa que deixou de enxergar o outro como humano?

Em um mundo em que a comunicação nas redes digitais transcende fronteiras, permitindo uma noção de pertencimento global que valoriza a diversidade e a preservação ambiental, infelizmente, a construção de consensos e consentimentos torna-se cada vez mais desafiadora. Essa cooperação deveria ser progressivamente trabalhada para alcançar e assegurar o desenvolvimento humano, superando barreiras de nacionalidade, credo e cor.

A ideia de sentimento de grupo parece estar se estreitando em direção ao indivíduo cada vez mais narcisista e virtual. Parece que o próprio sentimento de confiança mútua e que protegeu os seres humanos ao longo da história está se desgastando.

É um fato que o ser humano é um indivíduo, um sujeito único, mas também é um ser social que não pode subsistir isolado e manter sua saúde mental. A vida humana consiste em uma busca contínua para integrar e equilibrar essas duas forças psicológicas em uma única identidade, que compreende tanto a necessidade de singularidade e independência quanto a necessidade de pertencimento e dependência.

Ao mesmo tempo em que é crucial construir uma identidade autêntica, também é importante ter consciência de uma identidade coletiva em evolução. E como evoluir se continuamente negligenciamos a infância? Se a infância parece ser o terreno em que pisamos a vida toda?



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