MPE diz que policiais de Goiás se recusaram a prender bolsonaristas por crime eleitoral
O Ministério Público Eleitoral denunciou servidores da Polícia Federal de Goiás que se recusaram a prender empresários bolsonaristas suspeitos de crimes eleitorais. Os policiais teriam sido direcionados para atuação em ações publicitárias de venda de carne pelo Frigorífico Goiás no dia 2 de outubro, quando ocorreu o primeiro turno das eleições, mas não atuaram. Em outro episódio, agentes teriam ficado inertes diante de ação ilegal para venda de carros
A Procuradoria Regional Eleitoral de Goiás enviou uma representação à Corregedoria da PF em Brasília para apurar as supostas infrações. Em resposta, a Superintendência da PF em Goiás confirmou que recebeu os pedidos de investigação, mas não deu detalhes sobre os procedimentos. “Uma vez que a investigação esteja em curso, neste momento, ficamos impossibilitados de fornecer pormenores e ou detalhes sobres os referidos expedientes”, declarou em nota.
Segundo o MPE, os procuradores solicitaram ação da PF por duas vezes durante o dia 2, na intenção de coibir possível crime eleitoral no frigorífico. Na ocasião, o quilograma da picanha estava sendo comercializada a R$ 22, em referência ao número do candidato Jair Bolsonaro nas urnas. A promoção recebeu o nome de “picanha mito”.
Em resposta ao pedido do MPE, a PF chegou a afirmar que não havia detectado irregularidade na ação, mas a equipe da Procuradoria reiterou sobre a irregularidade da promoção e pediu que os empresários responsáveis fossem presos em flagrante. Quando os agentes da PF se mobilizaram para a ação, por volta das 15h, a ação já tinha sido encerrada, o que impossibilitou o flagrante.
“Um dos policiais federais começou a tentar ‘dissuadir’ os outros policiais federais e os membros do MPE da medida de persecução penal em comento. De forma emocional, ultrajante e insistente, levantou diversos argumentos estranhos à lei penal (tais como: diligência geraria desemprego, ´porque a empresa iria fechar; o frigorífico estava no livre exercício da atividade comercial; estava havendo politização dos procuradores do MPE etc’.) para não realizar a diligência, inclusive a prisão dos envolvidos em flagrante delito”, relataram os procuradores.
Novo inquérito
No último sábado, 22, a Procuradoria pediu novamente que a PF de Goiás apurasse crimes eleitorais em nova ação publicitária. Dessa vez, o alvo foram as concessionárias Navesa e Ciaasa, que anunciavam veículos da marca Ranger pelo valor de R$ 222.222,22, também em alusão ao número do presidente. Novamente, a PF informou que não constatou irregularidades.
O posicionamento gerou desconfiança por parte dos procuradores, que enviaram diligência da própria equipe do Ministério Público Eleitoral ao local. “Novamente, fomos surpreendidos por fotografias da sede da aludida empresa em Goiânia, onde diversas caminhonetas Ranger apresentavam ostensivamente o valor de oferta de compra da ordem de ‘222.222,22’. E, de novo, não se teve notícia da realização da prisão em flagrante dos responsáveis”, escreveu a Procuradoria no ofício transmitido à Corregedoria.
Para a Procuradoria, as concessionárias poderiam ser enquadradas no crime que proíbe a utilização de estabelecimento comercial para propaganda e aliciamento de eleitores. Já o caso do Frigorífico Goiás é considerado ainda mais grave, por ter ocorrido no dia da eleição, o que pode configurar propaganda boca de urna, dentre outro.