A cada três horas uma mulher solicitou medida protetiva contra o companheiro em Goiás
O número de medidas protetivas protocoladas pelo Batalhão Maria da Penha (BMP) sofreu aumento de 10,2% em 2022. Ao todo, em 352 dias (até esta segunda-feira, 19), o grupo da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM) recebeu 3.192 medidas protetivas. Já em todo ano passado (2021) foram 2.896 registros.
A cada três horas uma mulher precisou solicitar a medida contra o companheiro por medo de ser agredida ou para se prevenir de futuras agressões ou ameaças. Ou seja, o BMP registrou 9 medidas protetivas por dia, protocolando, em média, 270 ordens judiciais por mês neste ano.
A estudante de direito Isabella Lacerda (foto em destaque), de 20 anos, foi uma das mulheres que precisaram solicitar a ordem judicial à Justiça. Ela foi espancada pelo namorado, Thiago Brandão Abreu, por beber ‘sem a permissão dele’ no inicio do mês.
O Tenente Coronel do BMP, Euler Filho, explica que a medida protetiva é uma forma de proteger a mulher vítima de violência doméstica e familiar. Existem dois tipos de ordens previstas na lei: aquelas que obrigam o agressor a ficar longe da vítima, por exemplo, e aquelas que protegem a mulher.
“Podem ser impostas diversas condutas ao agressor, desde o afastamento do lar à proibição de visitas aos dependentes. Se o agressor descumprir a medida, ele vai estar descumprindo uma ordem judicial. Com isso, ele será preso em flagrante e poderá pegar uma pena de até três anos”, contou.
Estágios
Para o coronel, não houve aumento no número de mulheres agredidas, mas sim, no número de mulheres que ‘criaram coragem’ para denunciar o agressor. Euler também reforça que a violência contra a mulher possui um ciclo de três estágios.
No primeiro estágio há a violência verbal, onde o agressor humilha a vítima com xingamentos e até a ‘coloca para baixo’, tecendo críticas contra a mulher, afetando a sua autoestima. O segundo estágio é a explosão, quando há sexo forçado e a violência se torna física, com socos, chutes e empurrões.
O terceiro e último estágio é o arrependimento. Nesta fase do relacionamento o agressor diz se arrepender e começa a fazer juras de amor e a presentear a companheira. No entanto, a violência ainda persiste entre as promessas e ‘agrados’ até que o homem seja preso ou a mulher morta.
“As agressões já existiam, sendo um ciclo que não acaba. É um fato que ocorre em todas as classes sociais. Não há um perfil. O agressor acha que a mulher é uma propriedade dele, mas não é. Ele é agressivo, possui um ciúme doentio”, concluiu.
Violência contra a mulher
No geral, os crimes contra a mulher sofreram aumento de 7% entre os meses de janeiro e julho de 2022. Foram 21.729 casos este ano, enquanto que no mesmo período do ano passado foram 20.289 ocorrências. Ou seja, a cada hora, quatro mulheres sofreram algum tipo de crime, totalizando 102 registros por dia e 3.104 por mês.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSPGO), houve aumento em todas as áreas de violência, como feminicídio (aumento de 8,5%), estupro (aumento de 18%), ameaça (aumento de 11,4%), lesão corporal (aumento de 2,2%) e crimes contra a honra – calunia difamação e injuria (aumento de 5,5%).
Neste ano, o crime de ameaça foi o mais registrado, com 8.932 denúncias, seguindo pelos crimes contra a honra (6.364), lesão corporal (6.222), estupro (174) e feminicídio (37).