Vias goianas foram palco de 10 acidentes por hora em 2022
Era um sábado comum para Karita Branquinho Nascente, de 40 anos, até que, por volta das 8h da manhã, ela foi acordada pelo marido aos prantos. Mal ela sabia que na noite anterior, no dia 20 de maio de 2022, por volta das 22h40, o seu filho Gabriel Branquinho havia sido vítima de uma grave imprudência no trânsito: a alcoolemia.
Gabriel, a namorada e outras duas pessoas morreram após o carro em que estavam capotar na GO-164, em Santa Helena de Goiás. O veículo era conduzido por Luís Antônio Arantes Ferreira Tosta, de 18 anos, que estava embriagado quando provocou o acidente. Apenas ele, entre os cinco ocupantes, sobreviveu. Sete meses depois, Karita ainda sente a perda. Para ela, a dor faz companhia a injustiça e a irresponsabilidade por parte dos pais do garoto.
“Eu neguei, neguei o tempo todo. Hoje compreendo a partida, mas tem dias que parece que foi ontem. Não acredito que ele se foi, parece que ele vai aparecer a qualquer momento. A dor é todo dia. Arrancaram de mim muita coisa, a oportunidade de ser avó, por exemplo. Pra mim os pais são mais culpados do que o garoto, se o garoto não tivesse acesso ao carro, poderia ter mais responsabilidade”, contou.
Acidentes aumentam
Gabriel faz parte das 1.642 vítimas do trânsito registradas pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP) este ano. O número é 1% maior do que o registrado em todo o ano de 2021, quando foram contabilizadas 1.625 mortes. A quantidade de acidentes, no entanto, aumentou 5,9% no mesmo período.
Em 355 dias (de 2022), a SSP registrou 10 acidentes colisões por hora, 257 por dia e 7.729 por mês. Ao todo, o órgão contabilizou 91.467 acidentes, sendo que 134,408 veículos estiveram envolvidos. Apenas a capital é responsável por 34.253 (37,4%) das batidas deste ano. Ela também detém 235 (14,3%) dos óbitos.
No último sábado, 17, por exemplo, um garoto de 8 anos morreu após ser atropelado enquanto vendia balas no sinaleiro com o pai. Danilo Pignato foi prensado contra uma árvore após ser atingido por um motorista bêbado. Ao ver o filho morto, o pai da criança espancou o condutor que também acabou morrendo nesta quarta-feira, 21.
Causas
O número expressivo de acidentes pode ser um reflexo do intenso fluxo de veículos que rodam pelo estado. Para se ter uma ideia, o estado de Goiás possui 4.473.287 veículos, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN). Destes, 1.303.287 (29,1% do total) estão concentrados em Goiânia.
O número de veículos também corresponde a 84,8% de todos os moradores de Goiânia, conforme o censo 2021 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (CREA), Ricardo Ferreira, a infraestrutura do estado, em especial da Capital, não consegue suportar a quantidade de veículos que rodam nas vias diariamente. Ele diz ainda que é necessário investir em planejamento, não apenas em construir vias e pontes.
“Quanto maior a quantidade de veículos, maior será a incidência no trânsito. Goiânia, por exemplo, tem alguns problemas crônicos. A gente ainda não conseguiu afastar o tráfego pesado da BR-153 do centro urbano, assim como na Perimetral Norte. A BR-153 é a via com o maior número de acidentes na capital. Isso é um reflexo desta infraestrutura equivocada”, explicou.
Melhorias
Ainda de acordo com Ricardo, uma alternativa para diminuir o número de acidentes e, consequentemente, melhorar o trânsito, seria investir no transporte público, a fim de que o motorista deixe o carro em casa para pegar o ônibus.
Porém, com a irregularidade e a má prestação de serviço por parte das companhias faz com que o motorista prefira pagar mais caro, além de correr riscos. A implantação de um anel viário em Goiânia também seria outra forma de desafogar o trânsito da capital, assim como o investimento em outros meios de transporte, como bicicletas públicas.
“É preciso ter uma política, uma gestão mais disciplinada da quantidade e da forma de se deslocar das pessoas dentro do ambiente urbano. Se não, será uma corrida sem sucesso. A quantidade de infraestrutura nunca será tão grande quanto a quantidade de veículos que são colocados em trânsito. Goiânia neste ponto está atrás de algumas cidades como Anápolis e Aparecida de Goiânia”, explicou.