Redes sociais funcionam como ‘mercado livre’ para venda de notas falsas e cartões clonados em Goiás
Considerado o 7º estado que mais apreendeu notas falsas no ano passado, Goiás foi responsável por tirar de circulação 11,6 mil cédulas falsificadas apenas em 2021. No entanto, o crime de vender e comprar esse tipo de mercadoria vem crescendo no espaço cibernético, principalmente nas redes sociais. Plataformas como Facebook, WhatsApp e Telegram contam até com grupos específicos para a comercialização desse tipo de produto ilícito.
Durante os sete dias (uma semana) que o Jornal Opção se infiltrou neste ‘mundo paralelo’, o repórter se deparou com enxurradas de anúncios e preços tentadores, sendo uma média de ao menos 10 publicações por dia. Com R$ 100, por exemplo, o indivíduo pode adquirir até 1 mil em notas falsas de R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50, R$ 100 e R$ 200. Porém, há ainda a opção de ‘comprar’ o saldo bancário de contas de terceiros. O valor é o mesmo cobrado pelas notas, mas ainda há o preço de ser preso com maior facilidade.
Já o dinheiro em espécie precisa passar por um procedimento antes de ser utilizado. Para não ser pego, o criminoso de Goiânia, com quem o repórter conversou ao se passar por uma pessoa em busca de ‘notas fake’, informou que é preciso passar as notas com o auxílio de um ferro de passar roupa, além de amassá-las após a aquisição.
O procedimento, conforme o falsificador, é para envelhecer o dinheiro e evitar que ele seja rejeitado por uma vítima. Porém, ele garante que o repórter não precisa ter medo e que as notas passam por ‘todos os testes’ e que o material é ‘fibrado’.
“A carta registrada é por nossa conta. O Sedex é por conta do cliente, mas pedidos acima de R$ 200 fica por nossa conta também. Geralmente é de boa, como são fibradas (notas) não precisam passar (com ferro de passar rouba). Basta amassar um pouco. Acredito que as notas sejam melhores que os cartões”, explicou.
Cartões clonados
Se o cliente se sentir ameaçado ao usar as notas falsas, ele também pode adquirir saldos bancários em nomes de terceiros. Em posse das contas, que também podem ser encontradas a partir de R$ 100 (pega R$1 mil de crédito), o cliente pode ter acesso direto ao saldo da vítima, podendo fazer transferências, pagar contas e até fazer planos mensais com débito em conta.
“Vou te passar os valores, são bem seguros de utilizar. Todos vêm com dados do cartão das pessoas, eles são em nomes de terceiros. Depois que o cliente compra, a gente manda os dados do cartão junto com a senha. A senha dá para fazer login no aplicativo do banco, controlar o saldo, fazer compras, pagamentos de boletos, contas, assinaturas, entre outros. Tudo é totalmente seguro, garantimos a você até mesmo transferir o saldo dele (vítima) em dinheiro para sua conta. Os cartões são todos virtuais, te passo pelo celular mesmo” escancarou o criminoso.
Crimes
O ato de vender ou comprar notas falsas e cartões clonados podem configurar em, pelo menos, quatro crimes, segundo o delegado Davi Freire: estelionato, falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Juntos, as penas podem chegar a 26 anos de prisão.
Para coibir a prática, a Polícia Civil (PC) e Polícia Federal (PF) vem realizando operações em todo o estado, conforme informa o investigador. Ele conta que a PC, por exemplo, mantém contato com as operadoras de crédito sobre as falhas encontradas pela corporação, a fim de evitar possíveis golpes.
“A polícia tem procurado se habilitar para combater esse tipo de crime que tem migrado da forma física para a forma virtual, devido ao avanço da tecnologia. Hoje, investigamos alguns casos dos chamados cartãozeiros, que são essas pessoas que usam cartões clonados para realizar compras e golpes. Porém, o maior foco das investigações é o cabeça, a pessoa que fabrica essas notas e cartões. Ano passado, por exemplo, prendemos um dos maiores falsificadores do Brasil em Goianira”, disse.
Prejuízo
O principal foco dos criminosos não é segredo: causar prejuízo. O empresário Ricardo de Jesus, de 35 anos, que o diga. Dono de um pequeno comércio em Goiânia, ele teve um prejuízo de R$ 100 no ano passado, após receber por um serviço. No entanto, ao parar no posto para abastecer o veículo ficou envergonhado. Ao tentar pagar a conta com o dinheiro que havia ganho, foi informado de que a nota era falsa.
“Pode parecer pouco, mas é um dinheiro ganhado com suor, esforço. Fora o custo que eu tive para consegui-lo. Depois disso eu fiquei mais esperto, comecei a estudar para saber como identificar uma nota falsa. Depois desse ocorrido, mais pessoas apareceram querendo me pagar com notas de R$ 50 e de R$ 100 falsificadas, mas como já tinha conhecimento, não cai mais. Hoje é comum se deparar com esse tipo de situação”, concluiu.