A “falta em vida” de Bruce Willis remete a Osmar Santos, Arlindo Cruz e outros talentos
Um dos filmes mais impactantes a que assisti foi O Sexto Sentido. O filme transcorria numa faixa “ok para bom” dentro do gênero suspense, até o “plot twist” do final. Via o filme sozinho e talvez por não estar na minha própria casa, senti uma estranha avalanche de sentimentos, a qual me impulsionou a revê-lo novamente. E então, impactado pelo momento-chave da trama, pareceu ser outro filme, muito mais assustador a cada cena.
Não obstante todo o enredo da história de M. Night Shyamalan – o diretor indiano começaria aí sua trajetória de sucesso, embora o filme não tivesse vencido nenhum dos seis Oscars a que fora indicado –, o que Bruce Willis fez no papel do psicólogo Anthony Crowe foi algo excepcional. Sem dúvida, o filme teria sido outro, provavelmente menos virtuoso, não fosse aquele ator estigmatizado por filmes de comédia e de ação.
Bruce Willis é um excelente ator, mas, a despeito de ser reconhecidamente um dos maiores e mais carismáticos nomes de Hollywood dos últimos tempos, nunca ganhou a premiação máxima da academia de cinema.
Bruce não tem um Oscar? Que pena para o Oscar. O que se lamenta em relação a ele, no entanto, é outra questão: o drama de saúde que vive e o qual foi esclarecido com um laudo definitivo na semana passada: o ator sofre de demência frontotemporal (DFT), uma doença que afeta as áreas frontais e temporais do cérebro e é classificada como “neurodegenerativa progressiva”. Afeta a personalidade, o comportamento, a linguagem e a tomada de decisões. Tudo aquilo que atinge em cheio a performance de um artista.
Aposentar-se sexagenário é, na verdade, um direito para a maioria dos mortais. Para um ator talentoso, às vezes é somente o meio da estrada – basta dizer que Fernanda Montenegro, a grande atriz nacional, foi indicada ao Oscar aos 69 anos, por sua atuação em “Central do Brasil” (1999), de Walter Salles.
Obviamente – e lamentavelmente –, não somente nas artes cênicas ocorrem casos do tipo. No Brasil, há também artistas e comunicadores que, afetados por doenças ou acidentes, tiveram interrompidas suas carreiras brilhantes.
Talento nascido do rádio e que migrou para a televisão, no começo da década de 90 Osmar Santos era o grande nome da narração esportiva nacional – o “Galvão Bueno” da época. Em 1994, ele sofreu um acidente rodoviário que o deixou em coma por algum tempo, com graves lesões na cabeça. Após anos em um processo de recuperação, Osmar até voltou a trabalhar em rádio, mas nunca mais teve a mesma voz e energia que o tornaram tão popular.
Outro exemplo, este bem mais recente é o de Arlindo Cruz. O conhecido sambista, uma das maiores referências do gênero no Brasil, teve um forte revés em 2017: um acidente vascular cerebral (AVC), que quase o matou. Em coma por muito tempo, embora tenha feito progressos em sua recuperação, não teve como voltar mais a se apresentar publicamente.